São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2007

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Padre Júlio afirma ser vítima de extorsão

Segundo o coordenador da Pastoral do Povo de Rua, um ex-interno da Febem o extorquiu por quase 3 anos, em R$ 50 mil

4 pessoas tiveram suas prisões decretadas; o padre diz que o grupo ameaçou agredi-lo e denunciá-lo por pedofilia à imprensa

Filipe Redondo/Folha Imagem
O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, diz ter sido vítima de extorsão de um ex-interno da Febem por quase 3 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

O padre Júlio Lancelotti, 64, coordenador da Pastoral do Povo de Rua e um dos principais defensores dos direitos de adolescentes infratores, acusa um ex-interno da extinta Febem (hoje Fundação Casa) de o ter extorquido, por quase três anos, em cerca de R$ 50 mil.
Segundo o padre Júlio, Anderson Marcos Batista, 25, que conheceu na Febem há sete anos, e mais três pessoas, entre elas a mulher de Batista, o ameaçavam fisicamente e diziam que iriam procurar a imprensa para denunciá-lo por pedofilia. "Eles conseguiram minar meus recursos. Nos últimos três anos deixou de ser ajuda e passou a ser extorsão."
Ele pagou prestações do financiamento de uma Mitsubishi Pajero para o ex-interno.
Foi o próprio padre, a pedido da polícia, que gravou conversas nas quais era chantageado. Os quatro acusados tiveram suas prisões decretadas por crimes de extorsão e formação de quadrilha, como revelou ontem o jornal "Diário de S.Paulo". Três estão foragidos.
O padre Júlio conta que denuncia o caso de extorsão às autoridades desde o governo passado. Em 2006, afirma ter procurado o coronel Elizeu Eclair, comandante da PM durante o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), para pedir ajuda.
Na época, também segundo o padre, foram coletadas informações e feitas buscas nas casas dos suspeitos, mas nada foi encontrado. A Folha não conseguiu localizar Eclair nem Alckmin para comentar o caso.
A Polícia Civil, no entanto, afirma que soube da denúncia de extorsão somente em agosto, segundo informou Marco Antônio Bernardino Santos, delegado-assistente do SIG (Setor de Investigações Gerais) da 5ª Delegacia Seccional.
A pedido dos investigadores, o padre passou a gravar as conversas telefônicas com os criminosos. Foi a partir dessas gravações que a polícia prendeu em flagrante no dia 6 de setembro o ajudante Everson dos Santos Guimarães, 26, ao receber R$ 2.000 do padre dentro da Igreja do Belém.
Segundo o delegado, o acusado confessou a extorsão, mas negou conhecer denúncia de abuso sexual contra o padre. Anderson Batista, ex-interno da Febem, a mulher dele, Conceição Eletério, 44, e Evandro dos Santos Guimarães, 28, irmão de Everson, tiveram a prisão preventiva decretada na semana passada, mas permanecem foragidos.
Batista é considerado pela polícia o mentor da extorsão. Na chantagem, os acusados mandavam bilhetes e telefonavam ao padre com ameaças. "O argumento que mais me tocava era a violência dele bater nela [Conceição]. O assédio cerrado em cima de mim também assustava. Depois vieram essas denúncias mentirosas de pedofilia", disse o padre.
Ele afirma que conheceu Batista em visita a uma das unidades da antiga Febem, sete anos atrás. Depois, o ex-interno procurou o padre para pedir ajuda financeira. A extorsão teria começado três anos atrás.
Além de intimidá-lo com insinuações de agressão, o grupo passou nos últimos meses a dizer que procuraria a imprensa para denunciar um suposto abuso sexual cometido pelo padre contra o filho de Conceição, de oito anos.
"Tem coisas que você não consegue explicar. Tem coisas subjetivas. Eu queria mudá-los [os autores da extorsão]", disse o religioso, ao ser questionado por que tinha pago aos acusados por tanto tempo.
O padre Júlio afirmou ontem que recebe salário de R$ 1.000 por mês e que mora com sua mãe e a sobrinha. Ele disse que irá pedir proteção policial.
Policiais querem ouvir Batista para saber se ele tem provas das acusações de abuso sexual que fez por telefone. "O padre disse à polícia que os bandidos tinham uma gravação contra ele, mas que aquilo não seria verdade", afirmou o delegado Bernardino Santos.
Segundo o delegado, o padre pagou oito parcelas de R$ 2.000 de uma Pajero comprada no nome de Conceição. O carro foi apreendido no último domingo pela PM e apresentado no 9º DP (Carandiru) para verificação de uma denúncia de roubo. Batista foi ao local reclamar o veículo e, apesar de o pedido de prisão dele já estar em vigor, a polícia não o prendeu. O carro ficou retido.


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