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Padre Júlio afirma ser vítima de extorsão
Segundo o coordenador da Pastoral do Povo de Rua, um ex-interno da Febem o extorquiu por quase 3 anos, em R$ 50 mil
4 pessoas tiveram suas prisões decretadas; o padre diz que o grupo ameaçou agredi-lo e denunciá-lo
por pedofilia à imprensa
Filipe Redondo/Folha Imagem
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O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, diz ter sido vítima de extorsão de um ex-interno da Febem por quase 3 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
O padre Júlio Lancelotti, 64,
coordenador da Pastoral do Povo de Rua e um dos principais
defensores dos direitos de adolescentes infratores, acusa um
ex-interno da extinta Febem
(hoje Fundação Casa) de o ter
extorquido, por quase três
anos, em cerca de R$ 50 mil.
Segundo o padre Júlio, Anderson Marcos Batista, 25, que
conheceu na Febem há sete
anos, e mais três pessoas, entre
elas a mulher de Batista, o
ameaçavam fisicamente e diziam que iriam procurar a imprensa para denunciá-lo por
pedofilia. "Eles conseguiram
minar meus recursos. Nos últimos três anos deixou de ser ajuda e passou a ser extorsão."
Ele pagou prestações do financiamento de uma Mitsubishi Pajero para o ex-interno.
Foi o próprio padre, a pedido
da polícia, que gravou conversas nas quais era chantageado.
Os quatro acusados tiveram
suas prisões decretadas por crimes de extorsão e formação de
quadrilha, como revelou ontem
o jornal "Diário de S.Paulo".
Três estão foragidos.
O padre Júlio conta que denuncia o caso de extorsão às autoridades desde o governo passado. Em 2006, afirma ter procurado o coronel Elizeu Eclair,
comandante da PM durante o
governo de Geraldo Alckmin
(PSDB), para pedir ajuda.
Na época, também segundo o
padre, foram coletadas informações e feitas buscas nas casas dos suspeitos, mas nada foi
encontrado. A Folha não conseguiu localizar Eclair nem
Alckmin para comentar o caso.
A Polícia Civil, no entanto,
afirma que soube da denúncia
de extorsão somente em agosto, segundo informou Marco
Antônio Bernardino Santos,
delegado-assistente do SIG
(Setor de Investigações Gerais)
da 5ª Delegacia Seccional.
A pedido dos investigadores,
o padre passou a gravar as conversas telefônicas com os criminosos. Foi a partir dessas
gravações que a polícia prendeu em flagrante no dia 6 de setembro o ajudante Everson dos
Santos Guimarães, 26, ao receber R$ 2.000 do padre dentro
da Igreja do Belém.
Segundo o delegado, o acusado confessou a extorsão, mas
negou conhecer denúncia de
abuso sexual contra o padre.
Anderson Batista, ex-interno
da Febem, a mulher dele, Conceição Eletério, 44, e Evandro
dos Santos Guimarães, 28, irmão de Everson, tiveram a prisão preventiva decretada na semana passada, mas permanecem foragidos.
Batista é considerado pela
polícia o mentor da extorsão.
Na chantagem, os acusados
mandavam bilhetes e telefonavam ao padre com ameaças. "O
argumento que mais me tocava
era a violência dele bater nela
[Conceição]. O assédio cerrado
em cima de mim também assustava. Depois vieram essas
denúncias mentirosas de pedofilia", disse o padre.
Ele afirma que conheceu Batista em visita a uma das unidades da antiga Febem, sete anos
atrás. Depois, o ex-interno procurou o padre para pedir ajuda
financeira. A extorsão teria começado três anos atrás.
Além de intimidá-lo com insinuações de agressão, o grupo
passou nos últimos meses a dizer que procuraria a imprensa
para denunciar um suposto
abuso sexual cometido pelo padre contra o filho de Conceição, de oito anos.
"Tem coisas que você não
consegue explicar. Tem coisas
subjetivas. Eu queria mudá-los
[os autores da extorsão]", disse
o religioso, ao ser questionado
por que tinha pago aos acusados por tanto tempo.
O padre Júlio afirmou ontem
que recebe salário de R$ 1.000
por mês e que mora com sua
mãe e a sobrinha. Ele disse que
irá pedir proteção policial.
Policiais querem ouvir Batista para saber se ele tem provas
das acusações de abuso sexual
que fez por telefone. "O padre
disse à polícia que os bandidos
tinham uma gravação contra
ele, mas que aquilo não seria
verdade", afirmou o delegado
Bernardino Santos.
Segundo o delegado, o padre
pagou oito parcelas de R$
2.000 de uma Pajero comprada
no nome de Conceição. O carro
foi apreendido no último domingo pela PM e apresentado
no 9º DP (Carandiru) para verificação de uma denúncia de
roubo. Batista foi ao local reclamar o veículo e, apesar de o pedido de prisão dele já estar em
vigor, a polícia não o prendeu.
O carro ficou retido.
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