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Justiça manda retirar sem-teto de prédio dos Jardins
Grupo de cerca de 20 pessoas terá de deixar edifício na esquina das ruas Oscar Freire e Peixoto Gomide no prazo de 30 dias
Segundo moradores, proprietário de 6 dos 9 apartamentos levou
sem-teto para o local para forçá-los a vender os imóveis
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por decisão judicial, um grupo de cerca de 20 sem-teto que
desde o final do ano passado
habita um prédio na esquina
das ruas Oscar Freire e Peixoto
Gomide, nos Jardins (zona oeste de SP), terá de deixar o local
no prazo de 30 dias.
Dos nove apartamentos, seis
são do empreendedor do setor
imobiliário Marcelo Álvaro
Moreira, que, segundo os demais moradores do prédio, arregimentou os sem-teto na rua
para instalá-los no local com a
intenção de depreciar os imóveis e forçar os outros proprietários a vendê-los.
A juíza Lúcia Caninéo Campanha, da 6ª Vara Cível, entendeu que a ocupação dos imóveis
não se deu "por conta da benevolência do proprietário (majoritário) dos apartamentos, o
que seria louvável, e sim por
conta de disputa imobiliária,
para o fim de desvalorizar os
apartamentos que ainda não
foram vendidos". Caso os sem-teto não deixem o local em um
mês, Moreira terá de pagar uma
multa de R$ 10 mil por dia.
A advogada de um dos proprietários minoritários, Graziela Tsai, explica que tentou
uma solução amigável em julho, pedindo a retirada dos moradores com uma notificação
extrajudicial.
Alegava, principalmente, a
falta de segurança no prédio.
"Meu cliente não se sente seguro para morar no próprio apartamento, tampouco consegue
alugá-lo. Como eles não tomaram nenhuma providência, entramos com uma ação judicial.
Pedimos a retirada dos moradores e também uma indenização pelo prejuízo causado pela
a presença deles ali", diz.
R$ 7 mil de condomínio
Dos seis apartamentos de
Moreira, apenas um está em
seu nome -o resto, no de sua
empresa, a Santa Alice Hotelaria. Por ser proprietário majoritário, o empreendedor tornou-se síndico do prédio e, segundo a advogada Graziela,
convocou, no mês passado,
uma reunião de condomínio
para comunicar que estava
contratando uma empresa de
segurança - que cobrou R$
63.000 por mês pelo serviço.
"Ele enviou boletos no valor
de R$ 5.200 para os condôminos. O condomínio foi para R$
6.900. Só que o prédio está inabitável", reage Graziela.
A advogada da Santa Alice,
Patrícia Gomes, disse que não
sabia da ação judicial e não quis
falar sobre o assunto. A reportagem tentou entrar no edifício, que Patrícia considera "habitável", já que "tem segurança
e cada um mora dentro do seu
apartamento", mas foi recebida
com agressões dos sem-teto.
"Vai se catar, ô mané!", disse
um deles, que não revelou seu
nome e permaneceu gritando
impropérios. Outro, que se
identificou como Fernando,
afirmou que está morando ali
graças "ao diretor da firma".
"Ele é pai." Fernando diz que
não faz "nada". "Tô de boa."
Wallace, 16, afirma que mora
no prédio com o irmão, que é
"de maior". "Foi ele quem me
trouxe, não sei de nada não."
Um senhor que disse trabalhar na Santa Alice "há 44 anos,
graças a Deus", e estava ontem
à tarde numa picape na porta
do edifício, afirmou que "a partir de agora, ninguém mais entra no prédio, só sai", para explicar por que um rapaz trocava
a fechadura na portaria. Ele
disse que "ali só tem maloqueiro, drogado" e que pretende
"acabar com aquilo". Segundo
ele, hoje, até as 16h, não haverá
mais ninguém no prédio.
Contudo, quando questionado se não foi a própria Santa
Alice quem convidou os sem-teto a morar ali, ele ficou exaltado. "E daí? Os apartamentos
não são deles? Eles põem quem
quiser lá dentro!"
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