São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2008

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Serra diz que protesto tem caráter eleitoral

Governador citou PT e PDT, que têm influência sobre as centrais CUT e Força Sindical e apóiam a candidatura de Marta Suplicy

Documento interno do governo, distribuído a secretários e deputados, orienta o discurso no sentido de que a greve é política

DA REPORTAGEM LOCAL

O governador José Serra (PSDB) afirmou que a manifestação de ontem segue interesses político-eleitorais, com vistas a influenciar o segundo turno (no dia 26).
"O momento político-eleitoral aparece como motor dessa manifestação. Na verdade, são ativistas sindicais e militantes políticos diretamente [envolvidos]", disse Serra. "Aliás, não é uma participação clandestina.
Isso está tudo gravado, inclusive a oferta de apoios."
Segundo ele, a direção e a infra-estrutura do movimento vêm de partidos de oposição. "Eu não tenho dúvida nenhuma que tem uma participação ativa da CUT, que é ligada ao PT, e da Força Sindical, que é ligada ao PDT", afirmou. O PT e o PDT apóiam a candidatura de Marta Suplicy (PT), que disputa o segundo turno em São Paulo contra Gilberto Kassab (DEM), candidato de Serra.
Um documento interno do governo distribuído a secretários e deputados, ao qual a Folha teve acesso, orienta o discurso no sentido de que a greve é política. O documento cita os nomes dos deputados estaduais Carlos Giannazi (PSOL), Roberto Felício (PT), major Olímpio (PV) e do deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT).
Diz, ainda, que Paulinho chegou a discursar em um evento dos policiais, sugerindo à categoria que usasse o momento eleitoral e uma "eventual candidatura presidencial do governador" como fator de pressão.
"Com isso, quem perde é a base -os policiais estão sendo manobrados por lideranças sindicais que sequer repassam a eles as informações corretas sobre o pacote de medidas proposto pelo governo", diz um trecho do documento.
Kassab disse que há "oportunismo político" dos organizadores da manifestação. "O movimento mistura reivindicações legítimas com o oportunismo de pessoas motivadas pela política e pela eleição."
Serra afirmou que haverá punições aos manifestantes. "O uso de armas não é permitido fora do serviço estrito de defesa da segurança da população. A arma é entregue para defender a população contra o crime, não é para pressionar por aumento. Eu defendo movimento reivindicatório, o direito de reivindicar. Agora, fazer a reivindicação armado não tem cabimento."

Sala de situação
Serra acompanhou, por duas horas, o momento mais agudo da crise, de uma sala de situação instalada na Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes.
O governador correu até lá por volta das 16h30, quando os manifestantes romperam o cordão dos policiais, entrando em confronto com PMs.
Ao longo de sua permanência na sala, Serra atribuiu motivação política ao movimento e manifestou preocupação com a eventual reprodução do conflito na base das polícias. Ele determinou que os comandantes das polícias trabalhassem para evitar que os confrontos se multiplicassem pelo Estado.
Reunidos desde as 13h na sala, coronéis da PM e o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Lemos Freire, dispararam telefonemas para os comandos regionais pedindo calma.
Segundo um dos presentes, um dos momentos de maior tensão aconteceu quando surgiu a informação de que um coronel havia sido ferido.
Os secretários estaduais da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e de Gestão, Sidney Beraldo, também ficaram todo o tempo na sala, de onde Serra só saiu para dar entrevistas.
O secretário da Casa Civil do governo Serra, Aloysio Nunes Ferreira Filho, afirmou que a PM agiu corretamente ao barrar a manifestação dos policiais civis em greve. "Os manifestantes poderiam ter vindo aqui e derrubado as grades do palácio", disse o secretário.
O secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, e o comandante-geral da PM, coronel Roberto Diniz, foram procurados pela Folha, mas não concederam entrevista. À rádio Jovem Pan, Diniz afirmou que o episódio "não pode ser interpretado como polícia contra polícia. O uso de munição foi o último recurso para conter os manifestantes".
À rádio Jovem Pan, o delegado-geral Freire afirmou: "Fazemos parte das forças do bem, a força do bem tem que estar absolutamente unida, as polícias estão unidas. Não podemos levar a mais de 120 mil homens a pecha de desunião".
(EVANDRO SPINELLI, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, CATIA SEABRA, ANDRÉ CARAMANTE, RANIER BRAGON E ANA FLOR)


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