|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Serra diz que protesto tem caráter eleitoral
Governador citou PT e PDT, que têm influência sobre as centrais CUT e Força Sindical e apóiam a candidatura de Marta Suplicy
Documento interno do governo, distribuído a secretários e deputados, orienta o discurso no sentido de que a greve é política
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador José Serra
(PSDB) afirmou que a manifestação de ontem segue interesses político-eleitorais, com vistas a influenciar o segundo turno (no dia 26).
"O momento político-eleitoral aparece como motor dessa
manifestação. Na verdade, são
ativistas sindicais e militantes
políticos diretamente [envolvidos]", disse Serra. "Aliás, não é
uma participação clandestina.
Isso está tudo gravado, inclusive a oferta de apoios."
Segundo ele, a direção e a infra-estrutura do movimento
vêm de partidos de oposição.
"Eu não tenho dúvida nenhuma que tem uma participação
ativa da CUT, que é ligada ao
PT, e da Força Sindical, que é ligada ao PDT", afirmou. O PT e
o PDT apóiam a candidatura de
Marta Suplicy (PT), que disputa o segundo turno em São Paulo contra Gilberto Kassab
(DEM), candidato de Serra.
Um documento interno do
governo distribuído a secretários e deputados, ao qual a Folha teve acesso, orienta o discurso no sentido de que a greve
é política. O documento cita os
nomes dos deputados estaduais Carlos Giannazi (PSOL),
Roberto Felício (PT), major
Olímpio (PV) e do deputado federal Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho da Força (PDT).
Diz, ainda, que Paulinho chegou a discursar em um evento
dos policiais, sugerindo à categoria que usasse o momento
eleitoral e uma "eventual candidatura presidencial do governador" como fator de pressão.
"Com isso, quem perde é a
base -os policiais estão sendo
manobrados por lideranças
sindicais que sequer repassam
a eles as informações corretas
sobre o pacote de medidas proposto pelo governo", diz um
trecho do documento.
Kassab disse que há "oportunismo político" dos organizadores da manifestação. "O movimento mistura reivindicações legítimas com o oportunismo de pessoas motivadas
pela política e pela eleição."
Serra afirmou que haverá punições aos manifestantes. "O
uso de armas não é permitido
fora do serviço estrito de defesa
da segurança da população. A
arma é entregue para defender
a população contra o crime, não
é para pressionar por aumento.
Eu defendo movimento reivindicatório, o direito de reivindicar. Agora, fazer a reivindicação
armado não tem cabimento."
Sala de situação
Serra acompanhou, por duas
horas, o momento mais agudo
da crise, de uma sala de situação instalada na Casa Militar
do Palácio dos Bandeirantes.
O governador correu até lá
por volta das 16h30, quando os
manifestantes romperam o
cordão dos policiais, entrando
em confronto com PMs.
Ao longo de sua permanência
na sala, Serra atribuiu motivação política ao movimento e
manifestou preocupação com a
eventual reprodução do conflito na base das polícias. Ele determinou que os comandantes
das polícias trabalhassem para
evitar que os confrontos se
multiplicassem pelo Estado.
Reunidos desde as 13h na sala, coronéis da PM e o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Lemos Freire, dispararam
telefonemas para os comandos
regionais pedindo calma.
Segundo um dos presentes,
um dos momentos de maior
tensão aconteceu quando surgiu a informação de que um coronel havia sido ferido.
Os secretários estaduais da
Segurança Pública, Ronaldo
Marzagão, e de Gestão, Sidney
Beraldo, também ficaram todo
o tempo na sala, de onde Serra
só saiu para dar entrevistas.
O secretário da Casa Civil do
governo Serra, Aloysio Nunes
Ferreira Filho, afirmou que a
PM agiu corretamente ao barrar a manifestação dos policiais
civis em greve. "Os manifestantes poderiam ter vindo aqui e
derrubado as grades do palácio", disse o secretário.
O secretário da Segurança
Pública, Ronaldo Marzagão, e o
comandante-geral da PM, coronel Roberto Diniz, foram
procurados pela Folha, mas
não concederam entrevista. À
rádio Jovem Pan, Diniz afirmou que o episódio "não pode
ser interpretado como polícia
contra polícia. O uso de munição foi o último recurso para
conter os manifestantes".
À rádio Jovem Pan, o delegado-geral Freire afirmou: "Fazemos parte das forças do bem, a
força do bem tem que estar absolutamente unida, as polícias
estão unidas. Não podemos levar a mais de 120 mil homens a
pecha de desunião".
(EVANDRO SPINELLI, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, CATIA SEABRA, ANDRÉ CARAMANTE, RANIER BRAGON E ANA FLOR)
Texto Anterior: Vizinho ao confronto, hospital Einstein monta "plano de catástrofe" Próximo Texto: Tucano tenta transferir responsabilidade, diz PT Índice
|