São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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Curso ruim atrai vestibulando pelo bolso

Faculdades privadas de administração e direito reprovadas em exame federal tiveram aumento de candidatos a vaga

É o que conclui estudo de ex-reitor da USP; educadores concordam que a qualidade pesa menos na escolha

Mateus Bruxel/Folhapress
Leandro diz que valor da mensalidade pesou na escolha

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando escolheu cursar direito na Unip, Leandro Gomes da Silva, 23, considerou o valor da mensalidade e a proximidade do campus com seu trabalho, na zona sul de São Paulo. Nem sabia que o curso tinha nota baixa no exame federal de qualidade.
"A mensalidade de R$ 600 está dentro do meu orçamento, ao contrário de outras universidades consideradas tops. O brasileiro, pela condição social, pensa primeiramente nos custos para depois pensar na qualidade."
O caso de Leandro, que deixou as notas do curso em segundo plano no momento de escolher a faculdade, está mais para regra do que para exceção, de acordo com estudo do pesquisador Roberto Leal Lobo, ex-reitor da USP e presidente do Instituto Lobo.
Ele verificou que os cursos particulares de administração e direito reprovados no exame federal (notas 1 ou 2 no Enade) tiveram aumento de candidatos no vestibular.
Os crescimentos foram de, respectivamente, 45% e 2% entre 2006 e 2008, mesmo após a divulgação das avaliações federais de qualidade.
As universidades particulares com fins lucrativos costumam ter mensalidades mais baixas que as comunitárias, que reúnem as PUCs, por exemplo. Estas, em geral, investem mais em professores. Elas chegaram a perder candidatos no período.
Áreas com mais matrículas no país, administração e direito foram avaliadas pela primeira vez em 2006 no atual formato do exame.
"O maior atrativo aos estudantes menos preparados é ainda, infelizmente, o valor da mensalidade", diz Lobo.
A ideia do Ministério da Educação é que a divulgação dos resultados pode diminuir a procura por escolas mal avaliadas. O governo federal criticou o estudo.

PREÇO É TUDO
Já três educadores ouvidos pela Folha concordam que a qualidade ainda não é primordial na hora da escolha.
"As avaliações têm algum impacto, mas, sem recursos, é difícil para o estudante escolher", afirma o presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), Simon Schwartzman.
"O raciocínio é: se o curso continua aberto é porque não há problema", diz o vice-presidente da Anped (associação de pesquisadores em educação), João Oliveira.
"Não podemos esquecer ainda que as instituições privadas fazem propaganda destacando um aspecto que pode evidenciar qualidade."
Para o docente da USP Romualdo Portela, "quem sabe o que é Enade ou IGC?" -ele cita exames que avaliam, respectivamente, os cursos e a instituição como um todo.
"Como hipótese, é possível que o resultado tenha impacto. Mas não há evidência que isso esteja ocorrendo."


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