São Paulo, quarta-feira, 17 de novembro de 2004

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MASSACRE NO CENTRO

Justiça decretou prisão preventiva de dois policiais; segurança clandestino também é acusado

PMs mataram moradores de rua, diz polícia

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Civil apontou os policiais militares Jayner Aurélio Porfírio e Marcos Martins Garcia, juntamente com o segurança clandestino Francisco Luiz dos Santos, o "Chicão", como os responsáveis pelo massacre de moradores de rua em São Paulo, crime que chocou o país em agosto.
Na última quinta-feira, o juiz Rui Porto Dias, do 1º Tribunal do Júri, decretou a prisão preventiva dos PMs, a pedido do delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que relatou o inquérito à Justiça na semana passada e também pediu a prisão preventiva de Chicão, que está cumprindo prisão temporária de 30 dias.
O inquérito policial sobre os assassinatos tem mais de 2.000 páginas e está sob sigilo de Justiça. A Folha não conseguiu localizar os advogados dos acusados ontem.
O motivo dos crimes teria sido o tráfico de drogas, segundo as investigações do DHPP. Todas as vítimas foram atacadas com pauladas na cabeça enquanto dormiam nas ruas do centro. Foram assassinados sete moradores de rua, e outros oito ficaram feridos.
Um dos pontos de partida para os crimes, segundo a polícia, foi o morador de rua Ivanildo Amaro da Silva, conhecido como "Pantera". Ele foi assassinado na madrugada do dia 19 de agosto, nas imediações da praça da Sé.
Segundo as conclusões da polícia, Pantera vendia crack a mando dos PMs Porfírio e Garcia, suspeitos de comandar pontos de venda de drogas na região.
Pantera teria feito dívidas com os policiais, por ser viciado, e acabou morto. Segundo as investigações, alguns dos moradores de rua mortos teriam também pequeno envolvimento com o tráfico. No entanto, outros acabaram assassinados pelos acusados para confundir a polícia, segundo a investigações.
O promotor Carlos Roberto Talarico , que acompanhou todo o caso, disse à Folha que recebeu o inquérito ontem e terá até cinco dias para oferecer denúncia à Justiça contra os três acusados.
Para o o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo da Rua, a polícia também deveria apurar o "loteamento" do centro por empresas clandestinas de segurança. "Os assassinatos podem ter sido cometidos por esses grupos com a intenção de mostrar serviço às pessoas interessadas em tirar os moradores de rua da região".
"Acho temerário que a polícia acredite que as mortes tenham ocorrido só por causa do tráfico", disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Hédio Silva Júnior.
Além dos assassinatos, os PMs Porfírio e Garcia são réus em um processo de formação de quadrilha que tramita na 14ª Vara Criminal. O processo apura outros crimes que tenham sido praticados pelos acusados no centro.
Em nota oficial, a Secretaria da Segurança Pública informou que não vai comentar o caso porque ele está sob sigilo.


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