São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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Estresse e luto podem afetar risco cardíaco

Estudo mostra que 82% dos infartados relataram sofrimento causado por perdas

Em outra pesquisa, até 30% das arritmias de pacientes que chegam ao Instituto Nacional de Cardiologia estão ligadas ao estresse

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O estresse tem se tornado um fator de risco cardíaco tão importante quanto a obesidade e o tabagismo, podendo causar angina, hipertensão, arritmias e mortes súbitas. Estudo recém-divulgado do INC (Instituto Nacional de Cardiologia) mostra que de 20% a 30% das arritmias apresentadas por pacientes que chegam ao instituto estão relacionadas ao estresse.
"O estresse pode produzir alterações na contração do coração através de isquemia ou de arritmias cardíacas. Na grande maioria, essas alterações são passageiras, mas podem ser fatais", alerta o cardiologista Fernando Cruz, coordenador do centro de estudos do INC.
A receita de Cruz para controlar o estresse é evitar aborrecimentos desnecessários e buscar atitudes e atividades que promovam equilíbrio entre o corpo e a mente, como ioga, meditação, caminhadas, dança.
Outra tese que começa a ser aceita pelos cardiologistas é o impacto do luto no coração, justamente pelo estresse causado pelas perdas.
Durante o congresso brasileiro da especialidade, neste ano, foi divulgado um estudo com 142 pacientes infartados. Desses, 82% relatavam sofrimento intenso causado por perdas -61% se referiam à morte de um ente querido.
"Não me arrisco a dizer que o infarto foi causado pelo luto. Mas, em algumas pessoas, esse sentimento é tão difícil de ser superado e tão estressante que parece ter, sim, relação", diz a autora do estudo, a psicóloga Patrícia Pereira Ruschel, do Instituto de Cardiologia do RS, em Porto Alegre.

Coração partido
Para o cardiologista Max Grinberg, diretor da unidade da clínica de válvula do Instituto do Coração, ainda faltam pesquisas que relacionem melhor o luto a eventos cardíacos.
"Quando o paciente chega infartado, a gente não está acostumado a associar o luto não-elaborado ao evento. A gente sabe que a tristeza interfere em mecanismos circulatórios e imunológicos. Uns acreditam mais, outros, menos."
Para ele, o impacto do luto é individual. "Depende da personalidade, do modo como a pessoa leva a vida e dos fatores de riscos que ela pode ter. Muitas vezes, a doença é silenciosa, numa fase subclínica, e o estresse é o gatilho para ela aparecer."
Sabe-se hoje que um choque emocional pode causar uma reação parecida com a de um ataque cardíaco. É a chamada "síndrome do coração partido", caracterizada por dor no peito, dificuldade de respirar e alterações no eletrocardiograma e nas enzimas cardíacas.
Para o cardiologista Evandro Tinoco Mesquita, diretor médico do hospital Pro-cardíaco, no Rio, o problema surge, provavelmente, devido à liberação excessiva de adrenalina e de outros hormônios relacionados ao estresse, que provocam fraqueza do músculo cardíaco.
Ele lembra de um caso ilustrativo. "Fomos atender um senhor que havia sofrido um ataque cardíaco. A mulher dele, desesperada com a morte do marido, também sofreu uma parada cardíaca e morreu."
Além do impacto do estresse agudo, explica Mesquita, estudos mostram que o estresse crônico, causado pela depressão, por exemplo, também provocam alterações inflamatórias no sistema cardiovascular.
"Começa a ser observado que o estresse pode ocasionar anormalidades no coração e agravar doenças cardiovasculares."


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