São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2008

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CET tem serviço de informações desinformado

Telefone, site e painéis da empresa de trânsito não apresentam dados das próprias interdições que a companhia faz nas ruas

Reportagem topou com 6 intervenções programadas que bloqueavam parte da pista; atendentes do 156 ignoravam as intervenções

RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Avenida Brigadeiro Faria Lima, zona oeste de São Paulo, meio dia e meia. Cercados por oito cones cor de laranja, um buraco no asfalto de cerca de 2 m2 e uma retroescavadeira da Sabesp (empresa de saneamento básico de SP) bloqueiam uma das três pistas. Logo atrás, uma fila de carros se forma, próximo ao largo de Pinheiros.
No que depender da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), porém, a interrupção será uma desagradável surpresa no caminho dos motoristas: embora agendada e autorizada pela empresa da gestão Gilberto Kassab (DEM), a obra de remoção de uma caixa de esgoto é ignorada pelos seus próprios serviços de informação.
A Folha testou, nas últimas semanas, os serviços de informação da CET que deveriam facilitar a vida do motorista: telefone, site, painéis eletrônicos e assessoria de imprensa.
Deveriam: em um dia rodando de carro aleatoriamente, a reportagem topou com seis intervenções programadas que bloqueavam ao menos uma faixa da pista e, em todos os casos, as atendentes do 156 (número de serviços da prefeitura, que trata também do trânsito) nem sabiam das interrupções.
Por dia, diz a CET, há ao menos 28 intervenções programadas na cidade (dados de agosto). O número real, porém, é maior -a companhia admite que existem muitas irregulares. Por lei, toda obra que interfere no trânsito precisa ter autorização da companhia.
Mas a reportagem verificou que os serviços da CET omitem ao motorista informações que vão de serviços pontuais de concessionárias (Sabesp, Eletropaulo, Telefônica) até obras grandes, como a drenagem de um córrego no Butantã (zona oeste), com cinco quilômetros de extensão e bloqueios parciais nas avenidas Pirajussara e Eliseu de Almeida -ali, as interdições começaram há seis meses, segundo funcionários.
Nas marginais, sete dos dez painéis eletrônicos de mensagens não funcionam. Os restantes só informavam o total de quilômetros de lentidão na cidade, o que pouco ajuda.
A situação não é melhor para quem busca informação antes de sair, pela internet: no site da CET, quase todas as intervenções informadas acontecem durante a madrugada. A assessoria de imprensa, que poderia municiar TVs, rádios e jornais com interdições, também dispõe de poucas informações.
Para especialistas em planejamento de transportes, a falta de ferramentas de informação eficientes, em tempo real, complica ainda mais o trânsito porque, ao não oferecer opções de caminhos alternativos, a própria CET contribui para que o tráfego se concentre apenas nas principais vias. Além de, é claro, ajudar a piorar o dia do motorista ao sujeitá-lo a engarrafamentos-surpresa.
"Todo mundo vira turista em algum ponto de São Paulo. Se a informação não for capaz de levar a minha avó, que veio do interior me visitar, até a minha casa, então não serve", afirma o engenheiro Luiz Célio Bottura.
Favorável à prioridade dos investimentos em transporte público -opinião quase unânime entre especialistas-, o consultor Bernardo Alvim pondera que "no momento em que o cidadão escolhe usar o carro, ele tem que ser bem tratado".
Para ele, um bom serviço de informação não é uma regalia aos motoristas. "Informação é uma ferramenta essencial de gestão de demanda de tráfego".

"Desastre"
"Há interrupção? Devo evitar o trecho?", eram as questões da Folha. "Obrigado por esperar. O sistema não registra nada", respondia-se no 156. O serviço telefônico desconhecia até obras da própria prefeitura -como a do largo de Pinheiros, da Secretaria de Infra-estrutura, que abre ali uma nova rua.
E ignorava até mesmo uma intervenção da própria CET, que instalava um semáforo para uma nova conversão na rua Cerro Corá.
Todos os bloqueios encontrados tinham duração prevista de ao menos uma hora. Segundo a própria CET, uma única faixa bloqueada por 15 minutos tem potencial de causar 3 km de lentidão, que levam até meia hora para se dissipar.
"O 156 é um desastre. Não tem comunicação com a operação de campo da CET", diz Luiz Antônio Queiroz, presidente do sindicato dos funcionários da empresa. "A CET peca muito na oferta de informação em tempo real, essencial para melhorar a qualidade do trânsito."


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