São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2008

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Virada atrai 2 milhões; evento teve até torneio de barrigada

2ª edição promoveu cerca de 700 atividades esportivas no final de semana na cidade

Falta de transporte público foi a principal reclamação do paulistano; prefeitura promete melhorar esquema para a Virada de 2009

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Corrida de kart no viaduto do Chá (região central de SP), durante a Virada Esportiva; 2ª edição mirou em esportes radicais ou desconhecidos da maioria, como o golfe

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Parecia filme de ficção: música eletrônica embalava, por 24 horas, jogadores com roupas de néon no escuro. O viaduto do Chá era uma pista de kart em noite enluarada. Nem o sol de rachar impedia que um parque se transformasse em campo de golfe na periferia. E teve até torneio de "bomba" e de "barrigada" na piscina do Pacaembu.
Foi para seduzir do baladeiro "pé na jaca" ao alpinista ""vegan", passando pelo skatista "mauricinho", que a segunda edição da Virada Esportiva mirou em esportes radicais e desconhecidos da maioria, como rafting e golfe. A julgar pelos números oficiais, surtiu efeito.
As cerca de 700 atividades -quase o dobro da primeira edição- atraíram pouco mais de 2 milhões de pessoas, segundo Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação. O evento custou R$ 2,8 milhões.

Golfe em Itaquera
Termos como "driving range" e "putting green" eram gritados no parque do Carmo (zona leste) para os jovens que faziam fila para ganhar um certificado. "Tem que ser na bola", dizia o instrutor da FPG (Federação Paulista de Golfe) . "São pessoas que nunca tinham pego em um taco na vida. Agora, podem sentir aquele gostinho", vibrava o diretor da FPG, Mauro Batista, ao ver "um esporte de elite chegar à periferia".
Enquanto esperava a vez do filho, Gioavana Alves, 36, não se iludia. "Vai ser só para rir. Já falei para ele que golfe é coisa de rico. Aqui é só para pegar gostinho e, depois, voltar para casa."
Se no Carmo, o golfe era embalado pelo pagode, do outro lado da cidade, no Trianon, o clima de silêncio só era rompido pelo canto dos pássaros e pela batida das peças no tabuleiro.
De frente uns aos outros, 22 jogadores de xadrez esperavam pelo lance de um senhor magro e calvo. Ele punha a mão no queixo e cruzava a perna antes de mexer as peças. Durante cinco horas, Henrique da Costa Mecking, 56, o Mequinho, mostrou ainda triunfar quando o assunto é xadrez. Há 32 anos, não perde uma partida em exibição simultânea.
A platéia era pequena, mas eclética. "Com um dia lindo desses, não dá para ficar aqui. Acho esse jogo tedioso", disse a estudante Mayra Lopes, 13. Já Cecília Fusaro, 63, lembrava os momentos de glória. "Ele faz parte da nossa geração, da história de conquistas do Brasil."
O secretário de Esportes, Walter Feldman, sonha em transformar a virada num evento turístico do calibre da Fórmula 1. "Tem potencial para virar referência internacional."
A teleoperadora Stephanie Lataro, 20, acredita. Mas acha que falta transporte público (fez três baldeações para chegar à Balada Esportiva, em Santo Amaro). Enquanto curtia a festa, não desgrudava os olhos do relógio. "Vamos ficar até amanhecer", avisou à mãe, pelo celular. "Não temos como voltar para casa hoje [ontem]."
Quem estava com ela concorda. "A prefeitura podia criar linhas especiais para facilitar a vida da galera", disse Victor Arice, 22, antes do primeiro jogo de paintball de sua vida.
A prefeitura diz que pretende reavaliar o transporte público no evento de 2009.


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