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Empreiteiras erraram na instalação de vigas, diz Crea
Para engenheiros, as 5 vigas teriam de ser instaladas de uma só vez para evitar acidente
Ao invés disso, foram colocadas apenas quatro vigas, das quais três caíram sobre veículos na Régis três dias após sua instalação
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
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Viga que quebrou e não foi instalada com as outras quatro |
ALENCAR IZIDORO
EDUARDO GERAQUE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-SP) afirma que as empreiteiras
responsáveis pelas obras do
Rodoanel adotaram um procedimento tecnicamente incorreto na instalação das vigas que
desabaram sobre três carros na
rodovia Régis Bittencourt. Para
os engenheiros, esse erro é a
principal hipótese do acidente
da última sexta-feira.
O engenheiro civil José Tadeu da Silva, presidente do órgão, afirmou ontem que as
construtoras precisavam ter
colocado as cinco vigas de concreto do viaduto de uma só vez,
para permitir a amarração da
estrutura e para ela "travar".
O consórcio, integrado por
OAS, Mendes Jr. e Carioca e
contratado pela Dersa (estatal
paulista), instalou somente
quatro das vigas na terça passada, porque a quinta -e última
nesse lado do viaduto- quebrou quando era transportada.
Houve mobilização para continuar os trabalhos na quinta-feira (além dessa viga, faltava
instalar mais cinco do outro lado da obra), mas, sem avisar
com antecedência a concessionária da Régis, não houve aval
para bloquear a rodovia.
Pista de autorama
"Melhor que deixasse as quatro no chão e aguardasse a
quinta", afirmou Tadeu da Silva. "É como montar uma pista
de autorama. Se uma peça não
for encaixada, não vai ter aquela firmeza, aquela resistência,
aquele travamento para não se
movimentar", disse ele, para
quem há uma "possibilidade
enorme" de essa ser a explicação para a queda das vigas.
A avaliação do presidente do
Crea-SP foi feita após uma
equipe de seis técnicos do órgão visitar a obra ontem. O conselho apura as circunstâncias
do acidente para avaliar eventuais punições aos engenheiros
-que podem ir de uma advertência à suspensão do registro.
Cada viga do viaduto pesa 80
toneladas. Das quatro que já estavam colocadas, três desabaram, no Embu (Grande SP).
A autorização inicial obtida
pelas empreiteiras e pela Dersa
para ocupar parte das pistas da
Régis e instalar dez vigas no
viaduto em obra valia entre 7 e
10 de novembro (de sábado até
terça). Mas, por problemas com
chuva, quebra de um guindaste
e rachadura em uma das vigas,
só foram instaladas quatro.
O superintendente operacional do conselho, Ademir Alves
do Amaral, disse que não foram
encontrados indícios nem de
uma amarração provisória das
quatro vigas já instaladas. "Se
as cinco peças tivessem sido colocadas simultaneamente, a estrutura teria travado e dificilmente teria ocorrido a queda",
completou Tadeu da Silva.
Concreto
O Crea-SP não descarta a interferência de outros fatores no
acidente, como a secagem das
vigas (tempo para a estabilização do concreto) e até eventuais danos no transporte.
Dois especialistas ouvidos
pela Folha avaliaram que uma
das explicações do acidente pode estar na instalação individual de cada viga, e não no travamento conjunto delas.
Para Werner Mangold, professor de engenharia civil da
FEI, a montagem correta das
vigas deve ser suficiente para
estabilizá-las -mesmo sem a
amarração entre elas.
Segundo João Virgílio Merighi, professor do Mackenzie, a
falta de um travamento correto
de cada viga nas duas pontas do
viaduto pode ter sido determinante. "O que ocorreu foi um
efeito dominó. Uma das hipóteses é que uma das vigas tombou e, em seguida, acabou empurrando as demais." A falha
em uma das vigas, diz, também
pode ter sido provocada por
materiais pouco resistentes.
"Se a viga for liberada antes
de o concreto adquirir resistência, pode provocar acidentes", diz Werner Mangold.
O Crea-SP diz que é preciso
28 dias para a secagem do concreto. Mas, afirma Mangold, há
aditivos para que uma viga seja
liberada em dois dias.
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