Redução de energia, para evitar cortes de carga, ocorrerá quando tempestades atingirem as linhas de transmissão para o Sudeste

Medida contradiz o que o ONS afirmava sobre a hipótese de um excesso de geração de energia na usina ter causado o apagão

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois do blecaute que atingiu 18 Estados há uma semana, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) decidiu que a hidrelétrica de Itaipu deve gerar menos energia nos dias em que tempestades atingirem as linhas de transmissão que ligam a usina, no Paraná, ao Sudeste. A medida, que visa evitar cortes de carga, já foi adotada no último fim de semana.
A estratégia contradiz o que o próprio órgão vinha afirmando sobre a hipótese de o blecaute ter sido causado pelo fato de Itaipu estar gerando energia demais e, com isso, tornando mais arriscada a transmissão.
De acordo com o ONS, Itaipu estava mesmo gerando muita energia na terça-feira passada, quando houve o blecaute. Mas, ainda segundo o órgão, a geração estava dentro do limite de segurança, e o fato não está relacionado com o apagão.
Apesar do discurso, o relatório do próprio ONS que trata a operação do sistema no sábado informa que a geração de Itaipu foi inferior ao programado entre as 16h40 e as 22h "visando prover maior segurança elétrica ao SIN [Sistema Interligado Nacional] devido a condições atmosféricas desfavoráveis com presença de chuvas, ventos e descargas atmosféricas ao longo das linhas de transmissão, notadamente no Paraná, de forma a evitar corte de carga no caso de contingências múltiplas no tronco de 765 kV e demais circuitos da interligação Sul-Sudeste". A mesma estratégia foi adotada no domingo.
Ontem, a Folha procurou o ONS para questionar sobre a redução na geração na usina de Itaipu, mas não obteve resposta. O Ministério de Minas e Energia informou, por meio de sua assessoria, que na terça-feira passada Itaipu não estava gerando mais do que deveria.
Anteontem o ministério divulgou nota oficial sobre o blecaute ratificando o que já havia sido dito na semana passada: "Curtos-circuitos próximos à subestação de Itaberá, em São Paulo, provocaram o desligamento de três linhas de alta tensão que transportavam energia da usina de Itaipu e do sistema Sul. No momento da interrupção, a região enfrentava descargas atmosféricas, ventos e chuvas intensas".
A nota do ministério não faz a ligação direta entre o eventual raio na linha de transmissão e o curto-circuito. Na semana passada, no entanto, o ONS informou que os equipamentos da subestação tinham sido atingidos por um raio.

Lula
O presidente Lula disse ontem que o governo está trabalhando para evitar novos blecautes no país. Afirmou também que é preciso aguardar "com cautela" as investigações sobre as causas do apagão.
"Sabemos que tem a turma do "Eu acho". Todo mundo agora quer encontrar um culpado", disse. Segundo Lula, como presidente, ele precisa aguardar para anunciar "a verdade".
"O presidente da República, com muita cautela, tem que esperar que haja toda a investigação possível para que a gente possa, quando anunciar à opinião pública definitivamente, ter a verdade e somente a verdade para informar ao povo brasileiro", afirmou.

Dilma no Senado
A Comissão de Infraestrutura do Senado convidou a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para ir à Casa falar do apagão. Como se trata de convite, ela própria pode definir a data.
Apresentado pelo senador governista Fernando Collor (PTB-AL), o requerimento de convite foi aprovado, por votação simbólica, na Comissão de Infraestrutura com a presença de três senadores. Da oposição, só havia Gilberto Goellner (DEM-MT). O colegiado é presidido por Collor.
Além de Dilma, foram convidados o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o secretário-executivo da pasta, Márcio Zimmermann, e o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, entre outros.


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