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DANUZA LEÃO
Um Natal vergonhoso
Não se ouve a voz de uma autoridade se levantar para protestar com indignação contra essa falta de pudor
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MINHA DÚVIDA é se os deputados e senadores perderam de vez a vergonha na
cara, enlouqueceram, ou os dois. Ou
talvez eu tenha enlouquecido e não
esteja entendendo direito o que ouço nas TVs e leio nos jornais.
A esta altura do campeonato,
enquanto discutem se o salário mínimo vai ser aumentado em mais R$
8 ou não, pois o governo não agüentaria a despesa, deputados e senadores dobram seu salário na maior cara de pau, e de um jeito que não tem
volta; o que eles decidiram decidido
está.
Duvido que, se fosse na Argentina,
as coisas ficassem por isso mesmo.
Se o Brasil fosse um país de povo
menos frouxo, hoje de manhã o
Congresso já amanheceria apedrejado e estariam havendo manifestações em todo o país contra a classe
política. Mas é assim que Lula gosta,
e não é em vão que elogia a China,
onde o governo faz o que quer e não
tem oposição.
Além do auxílio-moradia, dos eletrodomésticos, das passagens para
visitar seu Estado de origem, verba
de gabinete para contratar sei lá
quantos assessores, do que eu mais
gosto é da quantia que eles têm para
gastar em selos. Pergunte a uma
criança de dez anos, em 2006, se ela
sabe o que é um selo e ela será capaz
de dizer que nunca ouviu falar.
Enquanto o caos impera nos aeroportos e a presidente do Supremo é
assaltada e não diz uma só palavra
-com todo respeito, dra. Ellen, era
sua obrigação, do alto de sua autoridade, ter posto a boca no trombone-, Lula, tão emotivo, chora no dia
da sua diplomação, e não se ouve a
voz de uma autoridade se levantar
para protestar com indignação contra essa falta de pudor, às vésperas
do Natal, de dobrar seu salário.
E está tudo dentro da lei, e
ninguém pode fazer nada para impedir que isso aconteça. E são 15 salários por ano. E são férias no verão e
férias em julho, para visitar as bases.
E eles trabalham de terça a quinta. E
se um deputado esfaquear a mãe,
tem imunidade parlamentar, e muito dificilmente vai parar na cadeia.
Que beleza.
Lula está botando as manguinhas
de fora para continuar presidente
indefinidamente, como seu colega
Hugo Chavez, só não vê quem não
quer. Mas um dia a casa cai; não sei
se ainda vou estar viva para ver isso
acontecer, mas que cai, cai, porque
estão abusando.
Estou esperando para ver se algum deputado vai se revoltar com
esse aumento.
Se isso acontecer, vou guardar
bem direitinho o nome dele -ou
deles-, e tomo uma decisão na vida:
tirando esses, não cumprimento
mais nenhum deputado e nenhum
senador.
Não me interessa de que partido é,
se votou contra ou a favor de medidas corretas para o país, não vou sujar minhas mãos cumprimentando
nenhum parlamentar que não tenha
ido à tribuna para protestar com
veemência contra esse aumento
vergonhoso de salário.
E no dia que a casa cair, vou estar
na rua para ajudar a botar ela abaixo,
nem que seja com meus gritos, nem
que seja jogando uma pedra, mesmo
pequena, do peso que meus braços
permitirem.
Se eu tivesse passaporte italiano,
como d. Marisa, me mudaria de país.
Como não tenho, vou fazer o que puder para que ele mude, seja lá do jeito que for. Quem pensar da mesma
maneira pode contar comigo.
Que arrependimento de não ter
anulado meu voto.
danuza.leao@uol.com.br
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