São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Brasileira é condenada por mentir na Suíça

Advogada que afirmou ter sido vítima de ataque de neonazistas terá de pagar multa por tentar induzir a Justiça a erro

Segundo sentença proferida ontem, Paula Oliveira se automutilou e tinha consciência de que estava enganando as autoridades

DA REPORTAGEM LOCAL

A advogada brasileira Paula Oliveira, 27, foi condenada ontem na Suíça a pagamento de multa por induzir a Justiça daquele país a erro ao mentir sobre uma agressão a golpes de canivete, motivada por xenofobia, que teria sofrido por três homens no início deste ano.
Depois de ter confessado a simulação do ataque à polícia, Paula voltou a afirmar ao tribunal a versão original de que teria sofrido violência. "Fui agredida. Esta versão dos fatos correspondem à verdade que tenho registrada", disse a brasileira em juízo. Ela afirmou ter confessado a mentira "para que o assunto fosse fechado o mais rapidamente possível".
Durante a defesa, o advogado Roger Müller disse que Paula "não sabe exatamente o que aconteceu naquele dia" e que ela "havia vivido o caso em sua cabeça, por isso não teria tentado enganar as autoridades conscientemente".
A brasileira foi condenada a pagar uma multa condicional de 10,8 mil francos suíços (R$ 18 mil) por "falsa denúncia". Ela ainda terá que arcar com as despesas judiciais, calculadas em 2.500 francos suíços (R$ 4.000).
Pelo direito suíço, a multa condicional é uma quantia a ser paga no caso de o réu cometer outros crimes ou burlar as condições impostas pelo tribunal.
Em fotos por ela própria divulgadas, a brasileira aparecia com cortes nas pernas e no abdome em que se liam as iniciais do SVP (sigla para o Partido do Povo Suíço), alegadamente talhadas por um grupo de militantes nacionalistas simpatizantes do neonazismo.
O crime, segundo Paula, teria acontecido à noite na saída de uma estação de trem próxima de Zurique. À época, o país votava um plebiscito para decidir se os suíços mantinham ou não o acordo de livre circulação de trabalhadores da União Europeia. Uma campanha do SVP mostrava corvos representando os imigrantes, que estraçalhavam o mapa da Suíça pintado com a bandeira do país.
Pela superficialidade, linearidade e simetria dos ferimentos, exames feitos por peritos desmentiram a versão de ataque a faca ou canivete por um grupo de skinheads, como a brasileira dizia, e sugeriram a automutilação, confessada depois em depoimento à polícia.
Paula havia dito ainda que estava grávida de gêmeos e que havia perdido os filhos num aborto espontâneo sofrido depois do ataque.
A juíza Nora Lichti-Aschwanden considerou a brasileira "responsável por seus atos e por falsas declarações". No anúncio da decisão, diante de uma sala lotada e de 40 jornalistas, disse que "a acusada sabia que estava prestando queixa por um fato que nunca existiu" e que "sua capacidade de compreensão estava intacta".
Sobre a pena, que disse ser "relativamente branda", a magistrada disse esperar "que sirva de lição" à brasileira. Uma perícia psiquiátrica havia reduzido para "nível médio" a responsabilidade da ré.
"Não posso imaginar que serei capaz de trabalhar como advogada. Sempre terei que viver com o prejulgamento, apesar de só agora estar perante uma corte", disse a brasileira, que foi ao julgamento vestida de preto e com um véu negro na cabeça.
Paula, que vivia legalmente na Suíça, recebeu de volta seu passaporte, que havia sido confiscado pela Justiça, e poderá permanecer no país. (VQG)


Com agências internacionais


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