|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasileira é condenada por mentir na Suíça
Advogada que afirmou ter sido vítima de ataque de neonazistas terá de pagar multa por tentar induzir a Justiça a erro
Segundo sentença proferida ontem, Paula Oliveira se automutilou e tinha consciência de que estava enganando as autoridades
DA REPORTAGEM LOCAL
A advogada brasileira Paula
Oliveira, 27, foi condenada ontem na Suíça a pagamento de
multa por induzir a Justiça daquele país a erro ao mentir sobre uma agressão a golpes de
canivete, motivada por xenofobia, que teria sofrido por três
homens no início deste ano.
Depois de ter confessado a simulação do ataque à polícia,
Paula voltou a afirmar ao tribunal a versão original de que teria sofrido violência. "Fui agredida. Esta versão dos fatos correspondem à verdade que tenho registrada", disse a brasileira em juízo. Ela afirmou ter
confessado a mentira "para que
o assunto fosse fechado o mais
rapidamente possível".
Durante a defesa, o advogado
Roger Müller disse que Paula
"não sabe exatamente o que
aconteceu naquele dia" e que
ela "havia vivido o caso em sua
cabeça, por isso não teria tentado enganar as autoridades
conscientemente".
A brasileira foi condenada a
pagar uma multa condicional
de 10,8 mil francos suíços
(R$ 18 mil) por "falsa denúncia". Ela ainda terá que arcar
com as despesas judiciais, calculadas em 2.500 francos suíços (R$ 4.000).
Pelo direito suíço, a multa
condicional é uma quantia a ser
paga no caso de o réu cometer
outros crimes ou burlar as condições impostas pelo tribunal.
Em fotos por ela própria divulgadas, a brasileira aparecia
com cortes nas pernas e no abdome em que se liam as iniciais
do SVP (sigla para o Partido do
Povo Suíço), alegadamente talhadas por um grupo de militantes nacionalistas simpatizantes do neonazismo.
O crime, segundo Paula, teria
acontecido à noite na saída de
uma estação de trem próxima
de Zurique. À época, o país votava um plebiscito para decidir
se os suíços mantinham ou não
o acordo de livre circulação de
trabalhadores da União Europeia. Uma campanha do SVP
mostrava corvos representando os imigrantes, que estraçalhavam o mapa da Suíça pintado com a bandeira do país.
Pela superficialidade, linearidade e simetria dos ferimentos, exames feitos por peritos
desmentiram a versão de ataque a faca ou canivete por um
grupo de skinheads, como a
brasileira dizia, e sugeriram a
automutilação, confessada depois em depoimento à polícia.
Paula havia dito ainda que estava grávida de gêmeos e que
havia perdido os filhos num
aborto espontâneo sofrido depois do ataque.
A juíza Nora Lichti-Aschwanden considerou a brasileira
"responsável por seus atos e
por falsas declarações". No
anúncio da decisão, diante de
uma sala lotada e de 40 jornalistas, disse que "a acusada sabia que estava prestando queixa por um fato que nunca existiu" e que "sua capacidade de
compreensão estava intacta".
Sobre a pena, que disse ser
"relativamente branda", a magistrada disse esperar "que sirva de lição" à brasileira. Uma
perícia psiquiátrica havia reduzido para "nível médio" a responsabilidade da ré.
"Não posso imaginar que serei capaz de trabalhar como advogada. Sempre terei que viver
com o prejulgamento, apesar
de só agora estar perante uma
corte", disse a brasileira, que foi
ao julgamento vestida de preto
e com um véu negro na cabeça.
Paula, que vivia legalmente
na Suíça, recebeu de volta seu
passaporte, que havia sido confiscado pela Justiça, e poderá
permanecer no país.
(VQG)
Com agências internacionais
Texto Anterior: Outro lado: Dersa e filha de diretor de estatal não comentam Próximo Texto: Frases Índice
|