São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 1998.



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SAIA JUSTA
Mulheres de farda despertam fantasias

Foto Cleo Valleda/Folha Imagem
Tenente Patrícia Silva, em dois momentos, com a farda "B3"(saia e blusa cinza e scarpins) e à paisana (acima)


PAULO SAMPAIO
da Reportagem Local

Mulheres fardadas podem despertar tanto fetiche quanto homens. A fantasia masculina ficou ainda mais fácil de se comprovar, agora que o número de policiais femininos nas ruas está 75% maior. O número aumentou por causa das férias, já que boa parte desse excedente costuma ser designado para policiamento escolar.
"É visível o aumento de policiais mulheres nas ruas", diz o motorista Paulo Roberto de Freitas, 35, que acha "ótimo".
"Andei flertando com uma policial em um farol e foi muito instigante. Acho que o risco de ser enquadrado durante a cantada estimula. Para mim, é um desafio ultrapassar a barreira da formalidade e chegar à intimidade."
A barreira da formalidade é, muitas vezes, intransponível. "Quando estou em serviço, não sou uma mulher, sou uma policial", diz a tenente Renata Fassina, 23, uma loura de 1,80m e 70kg, que poderia usar tudo que aprendeu no treinamento para tentar em Hollywood uma vaga como dublê de Uma Thurman.
Renata, que tem um namorado policial, concorda que a farda exerce um fascínio sobre os homens. Mas ela separa.
"O homem policial é mais cara-de-pau, porque ele sabe que a seriedade aparente da gente é uma orientação. O à paisana chega a ter receio de se aproximar."
Quando não está fardada, Renata diz que o homem à paisana reage de duas maneiras ao descobrir sua profissão. "Ou ele desconversa e vai embora, ou engata a paquera pelo lado da curiosidade."
As fardas
Há dois modelos de fardas para policiais femininas: o "B3", que consiste em uma saia cinza escuro, uma camisa cinza claro, sapatos tipo scarpin, meias de nylon e chapéu arredondado na cabeça; e o "B4", que é igual ao masculino: calça e camisa de cor cinza "bandeirante" (escuro), coturno e quepe. O uso do batom é estimulado.
"Antes, quando não havia essa história de fetiche, a profissão de policial era associada a mulheres masculinas. O batom serve para quebrar essa imagem", explica a coronel Vitória Brasília, comandante do policiamento feminino.
A associação da farda a mulheres fortes, não necessariamente masculinas, é um dos pontos altos do fetiche dos homens. "A escolha do fetiche é histórica", diz o sexólogo Oswaldo Rodrigues Jr. "A farda, por exemplo, pode remeter o sujeito a situações de proteção e tranquilidade na infância."
É o caso do empresário Ricardo Freire, 43, que costuma utilizar a estação Sé do metrô (centro de SP), onde há PMs femininos.
"A PM mulher é diferente do homem. A mulher passa proteção, superioridade."
Nada disso passou pela cabeça do namorado "civil" da tenente Patrícia Silva, 25, quando ele a conheceu à paisana. Mas ele ficou curioso. "Um dia ela surgiu lá em casa fardada e tomei um susto", diz o dentista Alexandre Tavares, 24.
Tavares diz que se sente mais preocupado do que protegido, mesmo tendo tido provas da eficiência de Patrícia. Ela lembra que, no início do namoro, ele ligou dizendo que haviam batido no carro de um paciente e houve briga.
"Acionei um carro da polícia, mas apareceram cinco", conta Patrícia. "Ele disse que não precisava tanto."



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