São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

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Corpo de operário é o 3º tirado de buraco

Cães indicaram localização de cadáver, que, segundo bombeiros, estava no lado oposto à van; outras 4 pessoas seguem desaparecidas

Descoberta aconteceu dois dias depois de a família do motorista contratado para a obra reclamar que busca só dava atenção a microônibus

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dias após a família reclamar de falta de atenção das equipes de resgate e de atenção apenas à van soterrada, o corpo do operário Francisco Sabino Torres, 47, foi retirado ontem da cratera aberta nas obras da estação Pinheiros (zona oeste de São Paulo) do metrô.
Desde sexta, dia do acidente, outros dois corpos já haviam sido resgatados -quatro pessoas permaneciam desaparecidas até o fechamento desta edição.
Torres operava um caminhão na obra. Minutos antes do desabamento, colegas relatam que ele ouviu um estalo e chegou a deixar a área, mas voltou para pegar um documento que havia ficado dentro do veículo.
Na segunda-feira, Kelly, a filha dele, reclamou que as equipes de resgate não tentavam encontrá-lo e davam atenção apenas ao microônibus onde podem estar mais três vítimas.
O coletivo e o corpo de Torres estavam em locais diferentes. Enquanto o primeiro foi soterrado quando passava pela rua Capri, que margeia a obra, o motorista trabalhava na escavação do fosso onde será a estação, rente à marginal Pinheiros, na outra extremidade.
Tanto o Corpo de Bombeiros quanto o consórcio responsável pela obra avaliavam que o corpo de Torres se localizava em um local instável e, por isso, era arriscado atuar ali.
Só anteontem à noite os engenheiros liberaram a busca no local (que ganhou revestimento fino de concreto para evitar deslizamentos). Com a autorização, cães farejadores indicaram a localização do corpo.
Como ele estava profundo, as escavações e o resgate demoraram cerca de nove horas, duas delas só para remover escombros que prendiam o corpo.
Às 5h30, a vítima foi retirada da cratera. Segundo o capitão Mauro Minori, o corpo estava deteriorado, mas íntegro. Os bombeiros não souberam dizer a qual profundidade ele estava.

Microônibus
Após o resgate do corpo de Torres, os bombeiros concentraram os trabalhos na retirada da van, que ficou soterrada por 28 m de entulho. No veículo devem estar o motorista Reinaldo Aparecido Leite, 40, o cobrador Wescley Adriano da Silva, 22, e o funcionário público Marcio Rodrigues Alambert, 31.
Os militares tentavam retirar o veículo pelo túnel que ligará a estação Faria Lima à Pinheiros. O veículo foi tragado pela cratera e parou próximo a esse túnel. A tentativa era retirá-lo inteiro pela parte inferior do buraco.
O trabalho foi dificultado porque a van escorava terra e rochas. A sua retirada poderia causar um novo deslizamento.
"Está sendo um trabalho manual. Estamos retirando terra para aliviar a pressão e, assim, puxá-la por cabos de aço", dizia o capitão Mauro Lopes no final da manhã. "É um trabalho arriscado porque a qualquer momento o terreno pode ceder."
Retirada parte do entulho que pressionava o veículo, surgiu outra dificuldade: devido à quantidade de lama no túnel, a retroescavadeira derrapava e não conseguia puxar o veículo. Até o fechamento desta edição, a van não havia sido removida. No domingo passado, dois deslizamentos frustaram a tentativa de retirada da van.
Diretor-vice-presidente da TransCooper, Paulo Roberto dos Santos disse que, seguindo exigência do poder público, a cooperativa tem para microônibus um seguro de R$ 29 mil tanto para o motorista quanto para o cobrador. Há ainda um seguro de R$ 100 mil por danos morais e do mesmo valor por danos corporais -que serão divididos pelo número de passageiros. (AFRA BALAZINA, FABIANE LEITE, FÁBIO TAKAHASHI E KLEBER TOMAZ)


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