São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

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Para Defesa Civil, faltou plano de alerta

Entre o momento em que pedras começaram a cair e o desabamento da obra, havia tempo para que ruas do entorno fossem fechadas

Interdição de vias e alerta a moradores não ocorreram porque não havia plano de emergência, segundo a Defesa Civil de São Paulo

ROGÉRIO PAGNAN
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O consórcio responsável pela obra da linha 4 do Metrô teve ao menos dez minutos, depois que os operários abandonaram o fosso ao perceber o risco de desabamento, para alertar a vizinhança e bloquear a circulação de veículos e pedestres no entorno das obras em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Sete pessoas desapareceram no acidente no metrô; o terceiro corpo foi resgatado ontem. A interdição de apenas uma rua, a Capri, poderia ter evitado seis mortes: quatro passageiros do microônibus e dois pedestres que passavam pelo local.
A interdição das ruas e o alerta aos moradores não ocorreram porque o consórcio não possui um plano de abandono de área adequado, segundo a própria Defesa Civil de São Paulo. Nem mesmo uma sirene, usada para avisar quando há explosões na obra, foi acionada.
"Dez minutos é tempo mais do que suficiente [para interditar as ruas]. Considerando que andando você conseguiria fazer isso, imagina se há uma sirene? [para acionar um plano de abandono de área]", disse o coordenador-geral da Defesa Civil, Jair Paca de Lima.
"Havia a obrigatoriedade [do plano]? Não havia. A empresa poderia ter feito? Poderia ter feito. Poderia ter evitado [as mortes]? Talvez pudesse ter evitado", completou Lima.
Ontem, a Folha revelou que o consórcio ignorou uma recomendação de estudo contratado pelo Metrô que indicava a necessidade de montar um plano de alerta. O documento diz especificamente que essas medidas deveriam ser tomadas quando há recalques (afundamentos), como ocorreu na obra na véspera do dia do acidente.
Depois que os funcionários saíram do fosso, segundo eles, nem mesmo os operários que estavam na outra extremidade do túnel foram avisados. O impacto do vento os jogou contra as paredes e ao menos quatro deles ficaram feridos.
Eles disseram ainda que não há nenhuma orientação sobre o fechamento de ruas em situação de emergência. Em caso de necessidade, a recomendação, dizem, é avisar a Companhia de Engenharia de Tráfego.
Especialistas em defesa civil dizem que, quando há um plano eficiente de esvaziamento, são treinados funcionários e até mesmo moradores. Além disso, é montado um sistema de comunicação direta com a Defesa Civil. Sirenes alertam para a necessidade de saída rápida e ruas são interditadas.
Chega-se até a cadastrar os moradores para checar se entre eles há idosos e deficientes, que teriam mais dificuldades para deixar o local rapidamente. "Você vai trabalhar sempre no maior limite. Todo esse perímetro estaria enquadrado, não só para esse lado aqui [da rua Capri], mas para o outro também [marginal Pinheiros], até atravessando o rio", diz o coordenador da Defesa Civil.
O Consórcio Via Amarela foi procurado, mas não se manifestou sobre o caso.
Reservadamente, engenheiros e geólogos ligados ao consórcio afirmam que os indícios de anormalidade na obra não apontavam para a dimensão que o problema tomou.
Segundo eles, os recalques que apareceram na manhã de quinta-feira, embora em ritmo acelerado, estavam abaixo do nível de alerta definido previamente e, por esse motivo, não havia motivo para alarme.
Dizem ainda que as ações preventivas diante do rebaixamento do terreno e de rachaduras no túnel -como reforço da sustentação- foram adotadas, ainda que sem efeitos.


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