|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Defesa Civil, faltou plano de alerta
Entre o momento em que pedras começaram a cair e o desabamento da obra, havia tempo para que ruas do entorno fossem fechadas
Interdição de vias e alerta a moradores não ocorreram porque não havia plano de emergência, segundo a Defesa Civil de São Paulo
ROGÉRIO PAGNAN
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O consórcio responsável pela
obra da linha 4 do Metrô teve
ao menos dez minutos, depois
que os operários abandonaram
o fosso ao perceber o risco de
desabamento, para alertar a vizinhança e bloquear a circulação de veículos e pedestres no
entorno das obras em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Sete pessoas desapareceram
no acidente no metrô; o terceiro corpo foi resgatado ontem. A
interdição de apenas uma rua, a
Capri, poderia ter evitado seis
mortes: quatro passageiros do
microônibus e dois pedestres
que passavam pelo local.
A interdição das ruas e o alerta aos moradores não ocorreram porque o consórcio não
possui um plano de abandono
de área adequado, segundo a
própria Defesa Civil de São
Paulo. Nem mesmo uma sirene, usada para avisar quando há
explosões na obra, foi acionada.
"Dez minutos é tempo mais
do que suficiente [para interditar as ruas]. Considerando que
andando você conseguiria fazer
isso, imagina se há uma sirene?
[para acionar um plano de
abandono de área]", disse o
coordenador-geral da Defesa
Civil, Jair Paca de Lima.
"Havia a obrigatoriedade [do
plano]? Não havia. A empresa
poderia ter feito? Poderia ter
feito. Poderia ter evitado [as
mortes]? Talvez pudesse ter
evitado", completou Lima.
Ontem, a Folha revelou que
o consórcio ignorou uma recomendação de estudo contratado pelo Metrô que indicava a
necessidade de montar um plano de alerta. O documento diz
especificamente que essas medidas deveriam ser tomadas
quando há recalques (afundamentos), como ocorreu na obra
na véspera do dia do acidente.
Depois que os funcionários
saíram do fosso, segundo eles,
nem mesmo os operários que
estavam na outra extremidade
do túnel foram avisados. O impacto do vento os jogou contra
as paredes e ao menos quatro
deles ficaram feridos.
Eles disseram ainda que não
há nenhuma orientação sobre
o fechamento de ruas em situação de emergência. Em caso de
necessidade, a recomendação,
dizem, é avisar a Companhia de
Engenharia de Tráfego.
Especialistas em defesa civil
dizem que, quando há um plano eficiente de esvaziamento,
são treinados funcionários e
até mesmo moradores. Além
disso, é montado um sistema
de comunicação direta com a
Defesa Civil. Sirenes alertam
para a necessidade de saída rápida e ruas são interditadas.
Chega-se até a cadastrar os
moradores para checar se entre eles há idosos e deficientes,
que teriam mais dificuldades
para deixar o local rapidamente. "Você vai trabalhar sempre
no maior limite. Todo esse perímetro estaria enquadrado,
não só para esse lado aqui [da
rua Capri], mas para o outro
também [marginal Pinheiros],
até atravessando o rio", diz o
coordenador da Defesa Civil.
O Consórcio Via Amarela foi
procurado, mas não se manifestou sobre o caso.
Reservadamente, engenheiros e geólogos ligados ao consórcio afirmam que os indícios
de anormalidade na obra não
apontavam para a dimensão
que o problema tomou.
Segundo eles, os recalques
que apareceram na manhã de
quinta-feira, embora em ritmo
acelerado, estavam abaixo do
nível de alerta definido previamente e, por esse motivo, não
havia motivo para alarme.
Dizem ainda que as ações
preventivas diante do rebaixamento do terreno e de rachaduras no túnel -como reforço
da sustentação- foram adotadas, ainda que sem efeitos.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Saiba mais: Sistema emite alerta por sirenes Índice
|