São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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Olendino de Souza, fogo e façanha no Andraus

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 15 minutos de fama de Olendino Francisco de Souza duraram mais nas TVs do país. Resgatando de helicóptero 307 pessoas das chamas do prédio Andraus, em São Paulo, entrou para a história -enquanto durou a memória.
A dele era marcada pelo ímpeto do menino de Patrocínio (MG), expulso de casa aos 13, fome e frio passados na rua até aceitar a proposta do mecânico: aprender o metiê por comida. A habilidade manual era tanta que logo consertava carros. E um piloto cliente da oficina vaticinou que um dia consertaria aviões.
No hangar de Jacarezinho (PR), foi ser mecânico dos teco-tecos que pulverizavam as fazendas até receber a proposta de aprender a pilotar helicóptero. Seu brevê, orgulha-se a família, tem o número 00005, do quinto piloto autorizado a voar no país.
Santo brevê. Quando a tensão do golpe de 1964 ainda conturbava as ruas, veio para São Paulo a convite. Conduziria o governador Adhemar de Barros, buscaria "bandidos" na selva e faria resgates em enchentes com o Bell 204B, modelo com espaço raro na época.
Tanto que acorreu ao apelo do rádio, em 24 de fevereiro de 1972, ao avistar o edifício Andraus, na av. São João, lambido por labaredas e rolos de fumaça negra, com gente gritando e pulando -os pés queimados pelo concreto fervente. Tinha de ser rápido.
Segundo contava aos filhos em detalhes, pensou em um "ventilador" -as hélices afastavam as chamas, enquanto os soldados punham as pessoas enlouquecidas em fila. Pousou 32 vezes, resgatando 307 pessoas. Por causa do "dia D", foi condecorado com medalhas de honra ao mérito, até pela ONU; e fez gente chorar no programa de Hebe Camargo; enfim, "virou herói nacional", ao menos enquanto durou a memória da imprensa.
Depois daquele dia, a vida seguiu em silêncio. Foi com a família para Bauru (SP), trabalhar na Cesp -sobrevoando baixinho as linhas elétricas para supervisão dos técnicos. Aposentado, passava o tempo consertando e guiando helicópteros -mas do chão, de aeromodelismo. Ainda "conhecia cada parafuso dos helicópteros". Mas os derrames lhe enfraqueceram as mãos.
Casado, tinha dois filhos e dois netos e vivia em Bauru. Lá morreu, por causa de outro derrame, na terça, aos 79.


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