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Olendino de Souza, fogo e façanha no Andraus
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os 15 minutos de fama de
Olendino Francisco de Souza
duraram mais nas TVs do
país. Resgatando de helicóptero 307 pessoas das chamas
do prédio Andraus, em São
Paulo, entrou para a história
-enquanto durou a memória.
A dele era marcada pelo ímpeto do menino de Patrocínio
(MG), expulso de casa aos 13,
fome e frio passados na rua
até aceitar a proposta do mecânico: aprender o metiê por
comida. A habilidade manual
era tanta que logo consertava
carros. E um piloto cliente da
oficina vaticinou que um dia
consertaria aviões.
No hangar de Jacarezinho
(PR), foi ser mecânico dos teco-tecos que pulverizavam as
fazendas até receber a proposta de aprender a pilotar
helicóptero. Seu brevê, orgulha-se a família, tem o número 00005, do quinto piloto autorizado a voar no país.
Santo brevê. Quando a tensão do golpe de 1964 ainda
conturbava as ruas, veio para
São Paulo a convite. Conduziria o governador Adhemar de
Barros, buscaria "bandidos"
na selva e faria resgates em
enchentes com o Bell 204B,
modelo com espaço raro na
época.
Tanto que acorreu ao apelo
do rádio, em 24 de fevereiro
de 1972, ao avistar o edifício
Andraus, na av. São João,
lambido por labaredas e rolos
de fumaça negra, com gente
gritando e pulando -os pés
queimados pelo concreto fervente. Tinha de ser rápido.
Segundo contava aos filhos
em detalhes, pensou em um
"ventilador" -as hélices afastavam as chamas, enquanto
os soldados punham as pessoas enlouquecidas em fila.
Pousou 32 vezes, resgatando
307 pessoas. Por causa do "dia
D", foi condecorado com medalhas de honra ao mérito, até
pela ONU; e fez gente chorar
no programa de Hebe Camargo; enfim, "virou herói nacional", ao menos enquanto durou a memória da imprensa.
Depois daquele dia, a vida
seguiu em silêncio. Foi com a
família para Bauru (SP), trabalhar na Cesp -sobrevoando baixinho as linhas elétricas
para supervisão dos técnicos.
Aposentado, passava o tempo
consertando e guiando helicópteros -mas do chão, de
aeromodelismo. Ainda "conhecia cada parafuso dos helicópteros". Mas os derrames
lhe enfraqueceram as mãos.
Casado, tinha dois filhos e
dois netos e vivia em Bauru.
Lá morreu, por causa de outro
derrame, na terça, aos 79.
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