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Área onde mais chove tem mais concreto
Zona leste, região de São Paulo que teve mais chuvas no ano passado, está entre as áreas mais impermeáveis da cidade
Grande quantidade de asfalto e pouco verde formam "ilhas de calor", que, aliadas a fator geográfico, facilitam tempestades
Vagner Campos - 16.jan.2010/Futura Press
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Moradores da região do Jardim Pantanal, na zona leste de SP, protestam contra a prefeitura devido aos constantes alagamentos
TALITA BEDINELLI
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A zona leste foi a região de
São Paulo onde mais choveu no
ano passado. Ela teve, em média, 22% mais chuvas do que a
zona norte, onde menos choveu. A área também está entre
as que têm mais concreto da cidade, fator que contribui não só
para a formação de tempestades, mas para as enchentes.
A Folha cruzou um ranking
elaborado pelo CGE (Centro de
Gerenciamento de Emergências) a pedido da reportagem,
que tem como base as medições feitas em 2009 em 29 pluviômetros (medidores de chuva) espalhados pela cidade,
com um levantamento da secretaria do Verde e Meio Ambiente paulistana e de pesquisadores da USP, que mede a taxa de impermeabilização nos
distritos de São Paulo.
Das dez áreas mais chuvosas,
cinco estão na zona leste. A primeira colocada é a subprefeitura do Itaim Paulista, cujos distritos (Itaim Paulista e Vila Curuçá) apresentam uma das
maiores "taxas de concreto":
entre 65% e 75% da área é impermeabilizada. São Miguel
Paulista, onde fica o Jardim
Pantanal, símbolo dos alagamentos deste verão na cidade, é
ainda mais impermeável (entre
75% e 84%) e também está entre as cinco onde mais choveu.
Das dez primeiras no ranking da chuva, sete também estão na lista das que apresentam
taxa de impermeabilização superior à 65%: além do Itaim
Paulista, as áreas das subprefeituras de Guaianases, Cidade
Tiradentes e Vila Prudente (todas na zona leste), da subprefeitura do Butantã (zona oeste)
e dos distritos do centro, Consolação e Bom Retiro (únicos
que têm pluviômetros fora da
subprefeitura).
Tempestades
A alta impermeabilização,
formada por muito concreto e
pouco verde, ajuda a formar as
tempestades típicas de verão,
explica Adilson Nazário, meteorologista do CGE. "A grande
concentração de imóveis, muito asfalto, excesso de carro, falta de vegetação formam em São
Paulo as ilhas de calor", diz. "Isso eleva a temperatura da região e, quando há o encontro
com um ar mais frio, ocorrem
chuvas intensas".
Esse ar mais frio também penetra com mais facilidade na
zona leste por uma questão
geográfica, diz ele. "Na faixa
Leste do Estado a Serra do Mar
é mais baixa, o que facilita a infiltração da brisa marítima, um
ar mais úmido que vem do
oceano. Quando a brisa encontra regiões com o ar quente, como as "ilhas de calor" forma
nuvens carregadas e provoca as
chuvas fortes.
"As tempestades provocadas
por aquecimento, como essas,
têm uma duração pequena e
muita intensidade, com uma
abrangência geográfica menor", diz Nazário.
Como esses temporais de verão começam com mais frequência e maior intensidade na
zona leste, as outras regiões da
cidade acabam recebendo menor quantidade de água.
Menos verde
A grande quantidade de asfalto e a falta de áreas verdes
também ajudam a explicar porque o centro foi a segunda região mais chuvosa. É lá que se
concentra a menor quantidade
de áreas verdes de São Paulo,
segundo os dados de 2008 da
prefeitura, os mais recentes.
Segundo o levantamento da
USP, o distrito do Brás é o campeão de impermeabilização:
84,3% é formado por concreto.
Com menos chuvas, a zona
norte tem a maior quantidade
de parques e praças da cidade.
Apesar de os dados de 2009
mostrarem que a zona leste teve um volume de chuvas maior,
isso não significa que todas as
subprefeituras da região sempre têm mais tempestades.
Neste mês, por exemplo, a
Vila Maria, que fica justamente
na zona norte, foi onde mais
choveu. "Mas essa área está entre a leste e o centro", diz Nazário. Cidade Tiradentes (na zona
leste) e Consolação (na região
central) vieram em seguida.
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