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URBANIDADE
O carioca que traduz São Paulo
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Roberto Szaniecki é a
cara da diversidade paulistana apesar de não ter morado
em São Paulo -e de não pretender mudar-se para a cidade.
Filho de pai judeu e mãe luterana, nasceu na Polônia, mas foi
criado, desde os cinco meses, no
Rio -a rua em que morava era
sede de escola de samba. Apaixonou-se pelo Carnaval, estudou
cenografia e ajudou a fazer desfiles de tradicionais escolas, como
Mangueira e Salgueiro. Levou
tão a sério a profissão de carnavalesco que fez estágios de cenografia em teatros do Texas, de
Los Angeles e de Nova York.
Talvez experimentando a mesma estranheza com que aquela
família polonesa de sobrenome
impronunciável aprendeu a lidar com os trópicos, Roberto Szaniecki teve de aprender as nuances do estilo paulistano da escola
de samba Gaviões da Fiel, com a
qual já trabalhou em 1999 -nenhuma escola de samba do país
é, ao mesmo tempo, torcida organizada. "São culturas carnavalescas bem distintas", diz, comparando com escolas do Rio.
Foi convidado pela Gaviões da
Fiel para traduzir, na avenida, a
cidade de São Paulo. Fez o enredo para mostrar a linha evolutiva da transgressão, criando um
painel de idéias inovadoras. "O
que mais me chamou a atenção
foram as rupturas políticas, econômicas, sociais e culturais."
Misturam-se, assim, nos carros
alegóricos, Teatro Brasileiro de
Comédia (TBC), declaração da
Independência, movimento abolicionista, Semana de Arte Moderna, tropicalismo, as primeiras
greves operárias no século 20, estúdio cinematográfico Vera
Cruz, industrialização, Monteiro
Lobato e imigrantes. Há referências sobre pesquisas genéticas (o
Projeto Genoma, da USP) aplaudidas no mundo todo.
Como não poderia deixar de
ser, há um espaço especial para o
futebol, que, no Brasil, teve início
em São Paulo. "O futebol revolucionou o lazer popular."
Ao se embrenhar nos hábitos
locais, ele diz que, para entender
São Paulo, é preciso ter um pouco
do espírito de bandeirante. "Entendemos o Rio logo de cara e
gostamos da cidade. São Paulo
tem de ser vasculhada, explorada, para encontrarmos suas riquezas. Depois que as encontramos, vemos que em nenhum lugar há tanto a ser descoberto."
Poucas coisas são mais paulistanas, na vocação para a diversidade, que um polonês carioca, filho de pai judeu e mãe luterana e
que organiza o Carnaval de uma
das principais escolas de samba
de São Paulo -sem planejar, ele
próprio virou personagem sintético da história que apresentará
no sambódromo.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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