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MASSACRE DO CARANDIRU
Folha ouviu 4 dos 7 jurados do julgamento de 2001; para eles, TJ modificou desejo da maioria
Júri diz que decidiu, sim, condenar Ubiratan
VICTOR RAMOS
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A maioria dos jurados que participou do julgamento do coronel
da reserva da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, em 2001, afirma
que votou conscientemente naquela época e que a sentença de
condenação de 632 anos representou a vontade do júri.
Vinte desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo anularam a pena e absolveram Guimarães, na quarta-feira, por acreditar que a sentença dada pela juíza Maria Cristina Cotrofe, do 2º
Tribunal do Júri, não representou
a vontade dos jurados. Para o TJ,
houve contradição nas respostas
dos jurados aos questionamentos
da juíza e a verdadeira intenção
deles era inocentar o oficial.
A Folha conversou com quatro
dos sete jurados: Carlos Ramos,
Sandra da Silva, Emanuel Naveira
e um quarto, que pediu para não
ser identificado. Na época, dois
deles foram favoráveis à condenação, e dois, à absolvição. Eles, porém, são unânimes em dizer que o
resultado refletiu a vontade da
maioria do júri e que a juíza agiu
corretamente.
Para preservar o sigilo do voto, a
Folha não identifica as posições
dos jurados. Um deles, que votou
pela condenação, diz que ficou revoltado com a absolvição do coronel Ubiratan pelo TJ.
"Estou me sentindo como se eu
fosse um palhaço. Fiquei dez dias
longe da minha família. Depois
do julgamento, conversamos entre nós. E nós quatro, que fomos a
favor da condenação, achávamos
que tínhamos feito justiça", afirmou. "Eu me lembro que nos
abraçamos, os quatro. E falamos:
"nossa parte, nós fizemos"."
O jurado não concorda com a
avaliação dos desembargadores.
"A nossa vontade era pela condenação. Quatro pessoas julgaram
assim. Ninguém teve dúvida."
Segundo esse jurado, a juíza
Maria Cotrofe agiu corretamente
na condução do julgamento. "Ela
[a juíza] perguntava se tínhamos
entendido os quesitos. Falava o
termo técnico, depois explicava.
Eu votei consciente", disse.
Para esse jurado, não há problema em votar pelo excesso mesmo
admitindo que o coronel estava
no estrito cumprimento do dever.
"Eu entendi que ele estava no horário do trabalho, fazendo a função dele enquanto policial, ali, no
portão do Carandiru. Mas quando ele entrou, houve excesso,
sim", afirmou.
Outro jurado, que também votou pela absolvição, discorda de
que o preenchimento dos quesitos foi contraditório. "Votei consciente. Votei pela condenação pelos autos que foram trazidos às
minhas mãos. A sentença foi condizente com o julgamento."
Ele disse que votou pela existência de excesso doloso na ação comandada pelo coronel Ubiratan
porque viu "muita marca de bala". "Nós tínhamos coisas concretas na mão para condená-lo."
Outro jurado, que votou pela
absolvição, reconhece que a
maioria quis a condenação do coronel Ubiratan. "Eu considerei
que não houve excesso, mas, no
caso, que vença a maioria. E a
maioria decidiu pela condenação", disse. "Com certeza, a decisão [do júri] não foi respeitada.
Porque a maioria votou pela condenação. Mesmo tendo sido voto
vencido, concordo com a posição
que eles [desembargadores] mudaram toda uma decisão."
O quarto jurado, favorável à absolvição, admite que a maioria
queria a condenação, apesar de
ele apontar alguns problemas no
julgamento. Para ele, a explicação
durante a apresentação não foi
muito "coerente". "Foi um julgamento atribulado", disse ele, em
razão da sua complexidade. Mas,
ainda assim, ele afirma que a juíza
"tecnicamente fez tudo certo".
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