São Paulo, sábado, 18 de fevereiro de 2006

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MASSACRE DO CARANDIRU

Folha ouviu 4 dos 7 jurados do julgamento de 2001; para eles, TJ modificou desejo da maioria

Júri diz que decidiu, sim, condenar Ubiratan

VICTOR RAMOS
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos jurados que participou do julgamento do coronel da reserva da Polícia Militar Ubiratan Guimarães, em 2001, afirma que votou conscientemente naquela época e que a sentença de condenação de 632 anos representou a vontade do júri.
Vinte desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo anularam a pena e absolveram Guimarães, na quarta-feira, por acreditar que a sentença dada pela juíza Maria Cristina Cotrofe, do 2º Tribunal do Júri, não representou a vontade dos jurados. Para o TJ, houve contradição nas respostas dos jurados aos questionamentos da juíza e a verdadeira intenção deles era inocentar o oficial.
A Folha conversou com quatro dos sete jurados: Carlos Ramos, Sandra da Silva, Emanuel Naveira e um quarto, que pediu para não ser identificado. Na época, dois deles foram favoráveis à condenação, e dois, à absolvição. Eles, porém, são unânimes em dizer que o resultado refletiu a vontade da maioria do júri e que a juíza agiu corretamente.
Para preservar o sigilo do voto, a Folha não identifica as posições dos jurados. Um deles, que votou pela condenação, diz que ficou revoltado com a absolvição do coronel Ubiratan pelo TJ.
"Estou me sentindo como se eu fosse um palhaço. Fiquei dez dias longe da minha família. Depois do julgamento, conversamos entre nós. E nós quatro, que fomos a favor da condenação, achávamos que tínhamos feito justiça", afirmou. "Eu me lembro que nos abraçamos, os quatro. E falamos: "nossa parte, nós fizemos"."
O jurado não concorda com a avaliação dos desembargadores. "A nossa vontade era pela condenação. Quatro pessoas julgaram assim. Ninguém teve dúvida."
Segundo esse jurado, a juíza Maria Cotrofe agiu corretamente na condução do julgamento. "Ela [a juíza] perguntava se tínhamos entendido os quesitos. Falava o termo técnico, depois explicava. Eu votei consciente", disse.
Para esse jurado, não há problema em votar pelo excesso mesmo admitindo que o coronel estava no estrito cumprimento do dever. "Eu entendi que ele estava no horário do trabalho, fazendo a função dele enquanto policial, ali, no portão do Carandiru. Mas quando ele entrou, houve excesso, sim", afirmou.
Outro jurado, que também votou pela absolvição, discorda de que o preenchimento dos quesitos foi contraditório. "Votei consciente. Votei pela condenação pelos autos que foram trazidos às minhas mãos. A sentença foi condizente com o julgamento."
Ele disse que votou pela existência de excesso doloso na ação comandada pelo coronel Ubiratan porque viu "muita marca de bala". "Nós tínhamos coisas concretas na mão para condená-lo."
Outro jurado, que votou pela absolvição, reconhece que a maioria quis a condenação do coronel Ubiratan. "Eu considerei que não houve excesso, mas, no caso, que vença a maioria. E a maioria decidiu pela condenação", disse. "Com certeza, a decisão [do júri] não foi respeitada. Porque a maioria votou pela condenação. Mesmo tendo sido voto vencido, concordo com a posição que eles [desembargadores] mudaram toda uma decisão."
O quarto jurado, favorável à absolvição, admite que a maioria queria a condenação, apesar de ele apontar alguns problemas no julgamento. Para ele, a explicação durante a apresentação não foi muito "coerente". "Foi um julgamento atribulado", disse ele, em razão da sua complexidade. Mas, ainda assim, ele afirma que a juíza "tecnicamente fez tudo certo".


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