|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desembargadores criticam juíza
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO GALLO
DA REDAÇÃO
Dois desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo que
votaram pela absolvição do coronel Ubiratan Guimarães decidiram cobrar explicações à juíza
Maria Cristina Cotrofe Biasi, que
afirmou à Folha, anteontem, que
a medida foi "política", "injustificável" e vergonhosa. Um deles,
inclusive, vai representá-la no TJ e
estuda processar a magistrada
por danos morais.
Os desembargadores integram
o Órgão Especial do TJ, que absolveu, por 20 votos a 2, o coronel da
reserva. A decisão reformou a
condenação dada a Ubiratan em
2001, pelo 2º Tribunal do Júri, presidido por Biasi. Na ocasião, o coronel foi condenado a 632 anos de
prisão pelo episódio conhecido
como massacre do Carandiru.
Ubiratan chefiou a invasão da Polícia Militar à Casa de Detenção
em 2 de outubro de 1992, que resultou na morte de 111 presos.
"Ela não pode falar que é a decisão foi uma vergonha. Isso será
objeto de representação no Conselho Superior da Magistratura.
Ela se excedeu", afirmou o desembargador Ruy Camilo, 65, há
nove anos no Órgão Especial. Segundo ele, a declaração da juíza à
Folha põe em dúvida a idoneidade dos desembargadores que absolveram o coronel Ubiratan.
"Quem age vergonhosamente age
com má-fé, ou com motivos não-nobres. Ela [juíza] vai ter que explicar. Cabe [até um] processo
por dano moral."
Outro desembargador ouvido
pela reportagem, Laerte Nordi,
68, disse que vai colocar a questão
em debate no Órgão Especial do
TJ. Ele criticou a juíza pela acidez
das críticas, mas não adiantou se
pretende processá-la. "É uma pena, porque sou da geração em que
se podia até divergir das posições,
mas sempre se tinha muito respeito por elas. Ela precisará explicar essas palavras [da entrevista à
Folha]. Pretendo ao menos suscitar a questão no Órgão Especial."
Os dois desembargados disseram que a decisão de absolver
Ubiratan foi técnica. Camilo chegou a dizer que o TJ foi "corajoso"
ao contrariar a opinião pública.
"Era muito mais fácil deixar condenar [o coronel], mas tivemos a
coragem de julgar tecnicamente",
disse. De acordo com ele, Maria
Cristina Cotrofe Biasi, em 2001,
errou ao perguntar se houve excesso na ação da PM na Casa de
Detenção, após os jurados terem
votado que a entrada no Carandiru ocorrera no "estrito cumprimento do dever". O desembargador Laerte Nordi não quis comentar a decisão da juíza.
Equívoco
Já o desembargador Roberto
Vallim Bellocchi, 65, um dos dois
juízes que votou pela manutenção
da pena de 632 anos, disse ontem
que houve um "equívoco técnico"
no julgamento do TJ.
Na opinião de Bellocchi, a juíza
Maria Cristina Cotrofe Biasi, 50,
que presidiu o júri em 2001, agiu
corretamente elaborando o quesito sobre o excesso.
"É um dever dela, o artigo 23 do
Código Penal prevê a análise do
excesso. Me pareceu um equívoco
dos meus colegas interpretarem o
que os jurados queriam afirmar.
Se acharam que era contraditório,
deveriam anular o julgamento",
afirmou Bellocchi.
O desembargador criticou a
reinterpretação da votação dos
jurados. "Reinterpretar para dar
uma decisão que o jurado não
queria, com todo respeito, eu
acho que passou além da atividade de julgamento do recurso. Infelizmente, os que morreram não
podem fazer mais nada."
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|