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URBANISMO
Prefeitura retirou barracos de área embaixo de viaduto; maioria preferiu dormir na calçada a ir para abrigo
Operação no Glicério deixa catadores de lixo desabrigados
DA REPORTAGEM LOCAL
A catadora de lixo Irene Farias
dos Santos, 36, dormia ontem na
calçada com os 14 filhos "da própria barriga" e dois "de criação", a
cem metros do barraco de madeira onde ela morava desde 2001 e
que foi colocado abaixo anteontem pela Prefeitura de São Paulo.
Assim como Irene, outros catadores foram retirados de um espaço debaixo da ligação Leste-Oeste, na baixada do Glicério, região central, que era utilizado para a triagem de material reciclável
e também para muitos dormirem.
A ação fez parte da operação da
Subprefeitura da Sé para revitalizar a região degradada. Mas a
maioria dos quase 40 desalojados
só se mudou para a calçada, do
outro lado da rua. "A diferença é
que ali eu tinha um "tetozinho" e
era mais difícil para alguém roubar minhas coisas", afirmou
Francisca Pedra Cardoso, 60, que
perdeu armário e TV na operação. Ontem, ela teve de dormir
com seu marido numa praça.
A proposta da prefeitura é que
eles fossem para albergues, mas a
maioria rejeitou, principalmente
sob dois argumentos: os horários
de entrada e saída são incompatíveis com a atividade de catar lixo;
e eles não teriam como levar os
seus móveis e eletrodomésticos.
Irene dava uma razão adicional
-não queria se separar nem dos
filhos mais velhos. A sugestão da
prefeitura era que ela fosse para
um albergue só com os 13 menores de 18 anos, enquanto os demais ficariam em outro endereço.
As famílias viviam na baixada
do Glicério em situação precária,
ao lado do material que é separado para reciclagem, junto com sujeira, baratas e ratos. Não havia rede de água e os barracos tinham
ligações clandestinas de energia.
Ontem, a prefeitura decidiu que
eles poderão voltar para lá provisoriamente, mas só para fazer a
reciclagem. Para dormir, não.
Na madrugada, alguns queimaram na rua parte do material recolhido. Um jovem reclamou de
agressão de GCMs, que negaram.
A retirada dos catadores foi tensa anteontem. No barraco de Irene, os agentes começaram a tirar
as madeiras enquanto dez crianças estavam lá dentro. Antes que
alguma ficasse ferida -havia gêmeos de apenas cinco meses-, a
GCM (Guarda Civil Metropolitana) se negou a continuar ajudando a derrubada do barraco.
Segundo a subprefeitura, a mãe
colocou os filhos dentro do barraco para evitar a derrubada. Só às
13h30, uma assistente social e
uma psicóloga chegaram ao local.
A Sé afirmou que a assistência social esteve na área para conversar
com as famílias pela manhã e em
dias anteriores à ação.
A prefeitura abordou 153 pessoas na região do dia 8 ao 10: 64
foram para albergues, 44 recusaram atendimento e 20 tinham residência. Foram derrubados dez
barracos debaixo do viaduto.
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