São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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DANUZA LEÃO

Sassaricando


Mas nem tudo está perdido: como Lula nunca foi a um teatro desde que eleito, resolveu assistir a uma peça

UM MÊS DE férias e na volta só notícias ruins; aliás, péssimas. Só para começar, ministério nem pensar, e segue a briga nos bastidores pelos que têm a verba maior. Por que será, hein?
Lula ameaça passar um dia de Carnaval no Rio, o que me parece uma perigosa idéia; que prato, para os cariocas, ver o presidente na avenida, vendo os desfiles das escolas de samba. Que alguém de bom senso o aconselhe a não vir, pois carioca vaia até minuto de silêncio.
E o menino que morreu arrastado pelo carro; veio logo à cabeça a morte de Stuart Angel, morto nos tempos da ditadura da mesma maneira, morte que nos ficou na memória de tão cruel, de tão chocante. E o tráfico, e as milícias, e a violência que só aumenta.
Mas antes de discutir se a maioridade para menores criminosos deve ser aos 16 ou aos 18 anos, seria bom pensar que todos esses garotos que vivem assaltando e muitas vezes matando deviam estar, na idade deles, estudando. Nos países mais civilizados, o colégio começa às 8h e termina às 16h.
Os deveres de casa são feitos lá, os livros de estudo -francês, história, matemática- pertencem ao colégio e passam de um ano para o outro servindo aos alunos, que não precisam comprar livro nenhum quando começa o ano letivo. Afinal, como história, matemática e francês não mudam, não há nenhuma necessidade de trocar os livros a cada ano, para enriquecer as editoras.
E sobretudo, de 8h às 16h, a garotada estaria fazendo alguma coisa de melhor do que vender chicletes nos sinais ou roubar as pessoas. Os Cieps eram o sonho de Brizola e de Darcy Ribeiro, mas hoje, por qualquer estrada que você passa pelo interior do Estado do Rio, o que vê são os edifícios abandonados, com mato crescendo dentro, porque o governador que veio depois de Brizola -quem foi mesmo?- não quis levar avante a idéia dos Cieps para não dar o mérito a Brizola. Pobre país.
Enquanto isso, nossa presidente do Supremo diz coisas dignas do Conselheiro Acácio: que não se pode resolver sobre as leis na hora da emoção, por exemplo (e no dia seguinte Lula repetiu, palavra por palavra, o que disse a juíza Ellen Gracie). Mesmo quando foi assaltada na Linha Vermelha nossa magistrada foi incapaz de ter uma reação; mas está sempre impecável nos seus vestidos e no seu penteado, e até hoje só abriu a boca para ser a favor do aumento de salários para os magistrados; dá para acreditar?
Mas nem tudo está perdido: como Lula nunca foi a um teatro desde que eleito, aconselhado por algum assessor e talvez inspirado no nosso governador Sergio Cabral, que não perde uma peça nem um filme, resolveu assistir a uma peça. E, segundo a coluna de Ancelmo Góis, a uma sessão especial de "Mlle. Chanel".
Toda a força a que nosso presidente comece a freqüentar as salas de espetáculo, mas só um pequeno reparo: em vez de começar por "Mlle. Chanel", de quem nem ele nem d. Marisa seguramente nunca ouviram falar, Lula deveria começar por outra peça, que aliás está fazendo o maior sucesso: "Sassaricando". Ele não correria o risco de dormir durante o espetáculo e ainda faria um afago a seu amigo de infância, o governador Sergio Cabral, já que um dos autores da peça é seu pai, Sergio Cabral.
Com toda a certeza se divertiria muito mais, e poderia até deixar para decidir sobre o ministério depois da Semana Santa.
Afinal, pra que pressa?

danuza.leao@uol.com.br


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