São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Receita de emprego
ESTÁ PREVISTO para o próximo
mês o lançamento, em São
Paulo, de um inédito curso
profissionalizante: chapeiro. De olho neste movimento inevitável, o presidente Lula, envolvendo os mais diversos ministérios, prepara uma série de medidas cujo foco será o jovem na região metropolitana. É algo inusitado no país. Entre outras propostas estão em análise a ampliação para 17 anos de idade dos filhos para que os pais recebam o Bolsa Família, estímulos a programas profissionalizantes respeitando as vocações locais e recursos para as cidades oferecerem espaços educativos complementares à escola. Discute-se também dar um prêmio em dinheiro aos bons alunos beneficiários do Bolsa Família. Assessores da Presidência da República, dos ministérios do Trabalho, Esporte, Educação, Saúde, Cultura e Desenvolvimento Social estudam como fazer uma oferta conjunta de seus programas focados nos jovens, estabelecendo um cardápio variado de ações. Essa rede se estenderia e se mesclaria a projetos estaduais e municipais nas periferias. Seria essa uma das respostas de Lula contra a violência - e, ao mesmo tempo, um esforço para que, nesse segundo mandato, ele se destaque no campo educacional. O molde desse programa faz todo sentido - é o que, há muitos anos, recomendam os especialistas em juventude e em políticas sociais. Mas, a julgar por experiências anteriores, como o Primeiro Emprego, a dificuldade dos governos de trabalhar em rede, o vai-e-vem nos ministérios (só na Educação já passaram três ministros, o que dá uma média de quase um por ano), é inevitável a desconfiança. Já vimos, neste mês, a partir de dados oficiais, como os jovens saem despreparados das escolas; isso quando não engrossam as estatísticas da evasão .O atendimento de creches é mínimo. A taxa de natalidade entre adolescentes é altíssima nas periferias e favelas- é, em média, de uma mãe para quatro filhos. Falta policiamento comunitário- isso quando policiais não integram a rede da bandidagem. O desemprego juvenil passa, nas periferias, de 70%. Já sabemos também como os sistemas de internação juvenil são ineficientes, prestando-se mais como uma espécie de programa de aperfeiçoamento da marginalidade. No debate que se alastra pelo país, a ênfase reside, compreensivelmente, na punição - redução da maioridade penal ou no tempo de reclusão. Até concordo que, em alguns casos, a pena para os adolescentes criminosos deveria passar dos três anos. Mas a sociedade imaginar-se segura com mudanças legais não passará de uma ilusão se o país não desenvolver soluções preventivas- o que se pode encontrar até numa chapa de padaria. PS - Recomendo que se conheça a experiência de São Carlos, no interior de São Paulo. Lá se criou uma espécie de Poupatempo. Num único espaço, estão reunidas todas as entidades pública que podem ajudar a ressocializar um jovem infrator. A reincidência é mínima. Recomendo também que se veja como, na Colômbia, transformaram, com sucesso, jovens de gangues em agentes comunitários e zeladores urbanos. Texto Anterior: Violência: Governadores vão propor mudança na lei Índice |
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