São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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Prefeitura tem de conter a dispersão, dizem urbanistas

Especialistas defendem que as pessoas voltem a morar nas regiões mais centrais

Coordenadora do Laboratório de Urbanismo da Metrópole da FAU diz que a migração intra-urbana para a periferia se baseia no preço da terra

DA REPORTAGEM LOCAL

A urbanização dispersa, foco de estudo de urbanistas e de preocupação da prefeitura, decorre de um modelo de desenvolvimento insustentável, que deve ser repensado.
Em termos de sustentabilidade, dizem os especialistas, não se pode pensar numa grande mancha urbana, e sim na articulação entre as áreas já ocupadas, com incentivo à habitação nas regiões centrais -que têm mais infra-estrutura e geram melhor qualidade de vida aos moradores.
Para o professor de urbanismo do Mackenzie Carlos Leite, doutor em desenvolvimento urbano sustentável, o crescimento de São Paulo tem se baseado no modelo americano, de subúrbios espraiados em áreas de baixíssima densidade, que já entrou em declínio e é alvo de questionamento nos EUA.
"Sob o prisma do desenvolvimento urbano sustentado é preciso voltar a crescer para dentro da metrópole, e não mais expandi-la. Reciclar o território é mais inteligente do que substituí-lo", diz Leite.
O professor da FAU Nestor Goulart dos Reis Filho diz que o investimento em infra-estrutura rodoviária levou a um novo tipo de urbanização em São Paulo. Em vez de seguir o tradicional esquema centro-bairro, o crescimento urbano agora é espelhado nas estradas, que promovem uma cidade difusa.
Para Reis Filho, a prefeitura lida com esse processo com leis ultrapassadas. "Isso depende de normas mais reguladoras."

Preço da terra
Coordenadora do Laboratório de Urbanismo da Metrópole da FAU, a urbanista Regina Meyer diz que a migração intra-urbana em direção à periferia se baseia no preço da terra.
"A população de baixa renda continua sendo expulsa para a periferia menos equipada e, portanto, mais barata", avalia.
Para Meyer, o movimento de periferização em São Paulo decorre, em grande parte, do modelo adotado nas políticas públicas de oferta de habitação popular pela prefeitura desde a década de 1960.
"Esse modelo foi decididamente voltado para o barateamento da oferta através da realocação da população de baixa renda em áreas de terra barata, isto é, sem saneamento, água, transporte e coleta de lixo", diz.
"Não é só um crescimento rumo à periferia, mas a ausência de formas que mantêm vínculos com o centro", completa Meyer. (VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)


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