São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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Jessé Cavalcanti, o galante dentista

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Difícil achar um dentista mais espirituoso e sedutor em Natal do que Jessé Dantas Cavalcanti. Ele arrancava dos pacientes o medo -e em seguida, claro, os dentes-, com piadas e gracejos galantes. Mas costumava se defender do epíteto: "engraçado é palhaço. Eu sou é gracioso."
Nasceu em Ceará-Mirim, terra de engenhos de açúcar e da famílias Cavalcanti. Brincava sempre que "Cavalcanti com t e ti era diferente de Cavalcanti com t e te", pois só os primeiros eram a nata da nobreza local.
Mas sua família não era rica, ele logo ficou órfão de pai e, aos 5 anos, virou o "homem da família", pretenso arrimo para a mãe e as quatro irmãs. Teve que se virar e serviu no Exército durante a Segunda Guerra. Mas, como assistente de veterinário, dizia que "ficara nas dunas bebendo cachaça" enquanto o combate acabava.
Estudou odontologia no Ceará e veio abrir seu consultório em Natal, onde foi dos primeiros professores da faculdade de odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e fundador da Academia de Odontologia do Estado. Foi ainda chefe de gabinete da reitoria.
Dizem os filhos que era um galanteador nato, que "seduzia as mulheres, de todas as idades, de todas as belezas, apenas para vê-las sorrir". Aposentado, costumava freqüentar missas e ler -preferia a literatura de Thomas Mann. Mas uma doença rara lhe tirou a visão e com ela o antigo prazer.
Deixou quatro filhos, sete netos e a viúva Crináuria. Morreu no dia 6, de falência múltipla dos órgãos, aos 86.


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