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Jessé Cavalcanti, o galante dentista
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Difícil achar um dentista
mais espirituoso e sedutor
em Natal do que Jessé Dantas Cavalcanti. Ele arrancava
dos pacientes o medo -e em
seguida, claro, os dentes-,
com piadas e gracejos galantes. Mas costumava se defender do epíteto: "engraçado é
palhaço. Eu sou é gracioso."
Nasceu em Ceará-Mirim,
terra de engenhos de açúcar
e da famílias Cavalcanti.
Brincava sempre que "Cavalcanti com t e ti era diferente
de Cavalcanti com t e te",
pois só os primeiros eram a
nata da nobreza local.
Mas sua família não era rica, ele logo ficou órfão de pai
e, aos 5 anos, virou o "homem da família", pretenso
arrimo para a mãe e as quatro irmãs. Teve que se virar e
serviu no Exército durante a
Segunda Guerra. Mas, como
assistente de veterinário, dizia que "ficara nas dunas bebendo cachaça" enquanto o
combate acabava.
Estudou odontologia no
Ceará e veio abrir seu consultório em Natal, onde foi
dos primeiros professores da
faculdade de odontologia da
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte e fundador
da Academia de Odontologia
do Estado. Foi ainda chefe de
gabinete da reitoria.
Dizem os filhos que era um
galanteador nato, que "seduzia as mulheres, de todas as
idades, de todas as belezas,
apenas para vê-las sorrir".
Aposentado, costumava freqüentar missas e ler -preferia a literatura de Thomas
Mann. Mas uma doença rara
lhe tirou a visão e com ela o
antigo prazer.
Deixou quatro filhos, sete
netos e a viúva Crináuria.
Morreu no dia 6, de falência
múltipla dos órgãos, aos 86.
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