|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gay brasileiro obtém asilo nos EUA após alegar perseguição
Governo americano aceita o pedido de pessoas de países incapazes de proteger o cidadão
O caso do mineiro Augusto Pereira de Souza, 28, está se tornando comum nos EUA; em 2007, foram aceitos 30 pedidos, no ano passado, 76
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
O mineiro Augusto Pereira
de Souza, 28, acaba de conseguir asilo nos EUA com base na
alegação de que sofria perseguição no Brasil por ser homossexual. Com a obtenção do asilo, ele tem direito a trabalhar
no país, a dispor de um cartão
de seguridade social e no futuro
pode iniciar o processo para obtenção do "green card".
O caso de Souza está se tornando comum nos últimos
anos nos EUA. Desde 1994, o
país passou a aceitar pedidos de
asilo de estrangeiros que temem a perseguição em seu país
baseada na orientação sexual.
A professora Suzanne Goldberg, da Clínica de Direito para
Sexualidade e Gênero da Universidade Columbia, foi responsável junto com um grupo
de alunos pela defesa de Souza.
Ela explica que para obter uma
resposta favorável do governo é
preciso provar que o candidato
já sofreu perseguição e que no
país de origem o governo aceita
a perseguição ou é incapaz de
proteger o cidadão.
"As taxas de homicídios contra homossexuais no Brasil são
muito altas e os casos raramente são investigados ou resolvidos", afirma Suzanne. A defesa
de Souza cita dados do Grupo
Gay da Bahia, que afirma que
de 1980 a 2009 foram mortos
2.998 gays no Brasil.
No caso de Souza, a comprovação foi feita com base em relatos de amigos. Segundo Brian
Ward, um aluno que trabalhou
no caso, foram necessários vários meses para reunir relatos
dos ataques que o brasileiro sofreu. "Em alguns casos, os amigos temiam sofrer retaliação ao
narrar o que acontecia", disse.
Souza contou à Folha que os
ataques ocorreram em São
Paulo, onde ele veio morar aos
15 anos. O primeiro foi uma repreensão verbal no largo do
Arouche pela polícia, enquanto
ele aguardava entre a saída do
trabalho e o início de uma aula
de um curso de hotelaria.
O segundo episódio foi no
parque Trianon, onde Souza
contou ter sido obrigado a fugir
correndo de um ataque de skinheads, que o perseguiam com
tacos de beisebol com prego na
ponta e pedaços de vidro. Ele
não foi atingido, mas relatou
ter cortado o pé em cacos de vidro. Ele disse que não confiava
na polícia para prestar queixa.
"No Brasil, tinha de esconder
minha sexualidade. Mas ninguém consegue fingir 100% do
tempo ser aquilo que não é.
Quando cheguei aqui já sabia
que não ia voltar", disse Souza,
que hoje vive em Newark, em
Nova Jersey, e trabalha em um
supermercado. O brasileiro
disse que na região onde vive
conhece outros três casos de
pessoas que obtiveram asilo
com base em perseguição pela
orientação sexual.
Crescimento de pedidos
Dados de 2008 do US Bureau
of Citizenship and Immigration Services mostram que o
país aceitou 22.930 pedidos de
asilo de cidadãos que alegam
sofrer perseguição de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social (o que inclui a orientação sexual) e opinião política.
A Immigration Equality, organização de apoio à imigração
de gays, lésbicas, bissexuais e
transgênero, registrou aumento no total de casos aprovados.
Em 2007, 30 pedidos foram
aceitos. No ano passado, o total
subiu para 76.
Segundo Aaron Morris, advogado da organização, alguns
casos são rejeitados porque é
preciso pedir o asilo no máximo
um ano após a chegada ao país.
O Brasil é o quinto país em número de pedidos na organização. O primeiro é a Jamaica.
Atualmente, o grupo trabalha
em quatro casos de brasileiros.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Polícia: Escrivão mata investigador em briga de bar Índice
|