São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

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SEGURANÇA

Presos tinham celulares, facas, pistolas e até uma granada; motim começou após tentativa de fuga

Detentos matam dois agentes penitenciários durante rebelião

Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
Presos rebelados no telhado do Centro de Detenção Provisória 1 de Pinheiros, em São Paulo; unidade foi depredada durante o motim


ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

RACHEL AÑÓN
DA AGÊNCIA FOLHA

Armados com pistolas semi-automáticas, centenas de facas e até uma granada, presidiários do Centro de Detenção Provisória (CDP) 1 de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, promoveram uma rebelião de quase 14 horas que resultou na morte de dois agentes penitenciários e deixou outros dois feridos.
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, desde 1998 não ocorria uma rebelião com mortes de funcionários em São Paulo.
O motim começou no início da madrugada de ontem, após uma tentativa frustrada de fuga. Por volta da 1h, um dos presos simulou uma parada cardíaca. Quando ia ser atendido, cerca de 10 presos tentaram fugir pelos fundos do presídio. Os guardas da muralha avistaram o grupo e deram tiros para o alto. Em seguida, teriam disparado contra os detentos, que se rebelaram quebrando cadeados de celas e soltando os demais.
No total, sete funcionários foram feitos reféns. Três saíram com ferimentos leves. Durante o motim, telefones celulares foram usados à vontade pelos presos.
O CDP foi logo cercado por 150 policiais civis e militares. Os detentos gritavam que matariam os reféns se o local fosse invadido.
Segundo a secretaria, os funcionários mortos são Williams Nogueira Benjamin, 29, e Vicente Luzan da Silva, 31. Os dois foram admitidos em julho de 2000.
Os feridos graves são Gilvan Teixeira Dias e Ronaldo Ferracini. O primeiro, baleado na região do tórax, passou por cirurgia e ficou internado em estado grave no Hospital das Clínicas.
Durante as quase 14 horas de rebelião, os presos subiram no telhado da cadeia, quebraram telhas e aproveitaram o espaço para usar drogas, como maconha e cocaína, e falar ao celular com familiares e jornalistas.
A Folha conversou com um preso pelo celular. Segundo ele, há uma tabela de preços elaborada por funcionários para o tráfico de celulares, armas e drogas (leia na pág. C3). "É a primeira vez que estou na cadeia. Posso garantir que nunca vi tanta droga, principalmente cocaína, como aqui. Droga é como mato, tem em muita quantidade", disse o presidiário, detido por receptação de mercadoria roubada.
Por volta das 6h chegaram os primeiros familiares de presos. Sem se identificar, eles contaram que foram avisados por telefone pelos detentos sobre a rebelião.
Por causa do grande número de familiares que se aglomerou nas imediações do prédio, a polícia interditou parte da pista local da marginal Pinheiros.
Segundo os familiares, os presos reclamaram da superlotação do CDP, que é destinado a abrigar presos provisórios, mas estaria com detentos já condenados pela Justiça e que deveriam estar em penitenciárias. Segundo o governo, 929 presos estavam no local, sendo que a capacidade prevista é de 520 vagas.
Segundo o coronel Tomaz Alves Canjerana, comandante da Tropa de Choque, os presos não fizeram nenhum tipo de exigência para terminar a rebelião. "Eles tentaram fugir e não conseguiram. Por isso, se rebelaram", disse o oficial.
Durante o motim, as negociações foram conduzidas pelo coordenador das unidades prisionais da capital e Grande São Paulo, Perci de Souza, o corregedor administrativo da Secretaria da Administração Penitenciária, Antônio Ruiz Lopes, e o coronel Olinto Neto Bueno, responsável pelo setor da segurança penitenciária.
Por volta das 15h, o coronel Olinto se dirigiu aos jornalista e pediu que helicópteros de emissoras de TV sobrevoassem o CDP. "Os presos disseram que entregarão as armas e encerrarão a rebelião se isso for feito", explicou. O pedido foi atendido e a rebelião terminou por volta das 15h10. Os detentos entregaram duas pistolas -uma delas de uso exclusivo da polícia- e uma granada.
Também ontem, num presídio vizinho ao CDP, um preso foi decapitado durante uma briga. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, responsável pelo local, o caso será investigado pela polícia.


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