|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Iran anula matrimônio e se casa de novo
Com ajuda de grupo católico, estudante apela ao Tribunal Eclesiástico e reencontra antiga namorada, hoje futura mulher
Rapaz esperou nove meses e gastou R$ 3.850 com processo até que órgão da Igreja Católica considerasse nula sua primeira união
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O estudante de química Iran
de Soares, 29, já tinha desistido
da idéia de viver um happy end
ao lado da mulher amada. Divorciado, pai de um filho, o rapaz achava que não poderia casar-se novamente, ao menos se
quisesse continuar seguindo as
leis da Igreja Católica Romana.
E ele queria. Em 1999, Iran descobriu que havia um jeito de
persistir na fé e -ao mesmo
tempo- dizer de novo "sim" no
altar de Cristo. Deu tão certo
que, até o final deste ano, o jovem tenciona levar sua eleita, a
webdesigner Tatiana Perez, 28,
para receber o sacramento do
matrimônio.
O senhor aceita Tatiana aqui
presente como legítima esposa,
conforme manda a Santa Madre Igreja, até que a morte vos
separe? "Sim, sim, sim". A história de amor entre os dois jovens só pôde acontecer porque
Iran entrou em contato com
uma comunidade católica chamada Shalom ("paz", em hebraico), "que conhecia muito o
código canônico", conforme ele
lembra. Foram os amigos da
Shalom que disseram a Iran
que seu primeiro casamento
poderia ser declarado "nulo"
por um tribunal eclesiástico.
É tudo muito lógico. Em vez
de considerar que Iran é um
homem separado que pretende
recasar-se (algo que a Igreja
não aceita), estabelece-se que o
primeiro casamento dele simplesmente não existiu. O segundo casamento passa, portanto, a ser o primeiro.
Seria como se o ""juiz" de Fórmula 1 declarasse Rubinho Barrichello vencedor porque o Michael Schumacher, ali na frente, havia sido declarado nulo,
inexistente.
No caso de Iran, o primeiro
casamento (o que não houve)
aconteceu em dezembro de
1995. Os noivos subiram ao altar da igreja Nossa Senhora da
Paz, na zona sul de São Paulo,
com o filho já encomendado.
Conheciam-se havia apenas
seis meses e viveram juntos 14
outros, "como um casal comum", diz ele.
"Logo, começamos a entrar
em conflito. Nunca me senti casado com ela. Eu não a amava,
embora a respeitasse -jamais a
traí. Separamo-nos em fevereiro de 1997. O divórcio aconteceu em 1998", lembra o rapaz.
Em julho de 2004, Iran de
Soares entrou com o pedido de
nulidade do casamento no Tribunal Eclesiástico Regional e
de Apelação de São Paulo, que
fica na avenida Higienópolis,
região central da cidade.
Ouviram-se quatro testemunhas e também a ex-mulher.
Um advogado canônico foi
acionado, para representar o
rapaz no tribunal. Do outro lado, um defensor do sacramento
atuou como espécie de procurador de Justiça.
Ao cabo de nove meses, em
março de 2005, saiu a decisão
final sobre o caso (primeira e
segunda instâncias). Foi declarada a nulidade das primeiras
bodas. No total, Soares gastou
11 salários mínimos com a operação: oito na primeira instância, três na segunda. Em moeda
sonante: R$ 3.850.
Caro? Iran explica: "Pode-se
parcelar de modo a fazer os custos caberem no bolso do interessado. Duas, três, dez vezes.
Depende do poder aquisitivo da
pessoa".
As coisas encaixaram-se. No
final de 2004, quando a primeira instância do Tribunal Eclesiástico já considerara nulo o
primeiro casamento, Iran
reencontrou pela internet uma
antiga namorada, Tatiana, que
havia namorado em 1994.
"Pois é Tati, depois exatos
dez anos de te conhecer e praticamente nove sem te ver, a tecnologia faz revermos e relembrarmos momentos muito especiais... Espero que vc esteja
cada vez mais realizada e feliz.
Fica em paz, vc merece tudo de
bom!!!" Esse foi o recado deixado por Iran na página de Tatiana no Orkut. "Tatiana já era o
grande amor da minha vida",
ele se derrama.
Ela devolve, também no Orkut: "Amo o seu jeito, seu caráter, sua paixão pela vida, pela
caridade, pelas pessoas...você
simplesmente possui o coração
do tamanho do mundo e isso
faz você ser a pessoa maravilhosa que é. Amo-te eternamente, meu único amor!"
Tudo certo para o final feliz?
Calma.
Como Tati não é católica (ela
é fiel da Congregação Cristã no
Brasil), o casamento dos dois
apaixonados é considerado
"misto". Depende, pois, de autorização do bispo. Enquanto
isso não acontece, eles aguardam. Felizes e castos, como
convém a bons cristãos.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Vaticano: Lu Alckmin anulou 1ª união para casar com tucano Índice
|