São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Iran anula matrimônio e se casa de novo

Com ajuda de grupo católico, estudante apela ao Tribunal Eclesiástico e reencontra antiga namorada, hoje futura mulher

Rapaz esperou nove meses e gastou R$ 3.850 com processo até que órgão da Igreja Católica considerasse nula sua primeira união

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante de química Iran de Soares, 29, já tinha desistido da idéia de viver um happy end ao lado da mulher amada. Divorciado, pai de um filho, o rapaz achava que não poderia casar-se novamente, ao menos se quisesse continuar seguindo as leis da Igreja Católica Romana. E ele queria. Em 1999, Iran descobriu que havia um jeito de persistir na fé e -ao mesmo tempo- dizer de novo "sim" no altar de Cristo. Deu tão certo que, até o final deste ano, o jovem tenciona levar sua eleita, a webdesigner Tatiana Perez, 28, para receber o sacramento do matrimônio.
O senhor aceita Tatiana aqui presente como legítima esposa, conforme manda a Santa Madre Igreja, até que a morte vos separe? "Sim, sim, sim". A história de amor entre os dois jovens só pôde acontecer porque Iran entrou em contato com uma comunidade católica chamada Shalom ("paz", em hebraico), "que conhecia muito o código canônico", conforme ele lembra. Foram os amigos da Shalom que disseram a Iran que seu primeiro casamento poderia ser declarado "nulo" por um tribunal eclesiástico.
É tudo muito lógico. Em vez de considerar que Iran é um homem separado que pretende recasar-se (algo que a Igreja não aceita), estabelece-se que o primeiro casamento dele simplesmente não existiu. O segundo casamento passa, portanto, a ser o primeiro.
Seria como se o ""juiz" de Fórmula 1 declarasse Rubinho Barrichello vencedor porque o Michael Schumacher, ali na frente, havia sido declarado nulo, inexistente.
No caso de Iran, o primeiro casamento (o que não houve) aconteceu em dezembro de 1995. Os noivos subiram ao altar da igreja Nossa Senhora da Paz, na zona sul de São Paulo, com o filho já encomendado. Conheciam-se havia apenas seis meses e viveram juntos 14 outros, "como um casal comum", diz ele.
"Logo, começamos a entrar em conflito. Nunca me senti casado com ela. Eu não a amava, embora a respeitasse -jamais a traí. Separamo-nos em fevereiro de 1997. O divórcio aconteceu em 1998", lembra o rapaz.
Em julho de 2004, Iran de Soares entrou com o pedido de nulidade do casamento no Tribunal Eclesiástico Regional e de Apelação de São Paulo, que fica na avenida Higienópolis, região central da cidade.
Ouviram-se quatro testemunhas e também a ex-mulher. Um advogado canônico foi acionado, para representar o rapaz no tribunal. Do outro lado, um defensor do sacramento atuou como espécie de procurador de Justiça.
Ao cabo de nove meses, em março de 2005, saiu a decisão final sobre o caso (primeira e segunda instâncias). Foi declarada a nulidade das primeiras bodas. No total, Soares gastou 11 salários mínimos com a operação: oito na primeira instância, três na segunda. Em moeda sonante: R$ 3.850.
Caro? Iran explica: "Pode-se parcelar de modo a fazer os custos caberem no bolso do interessado. Duas, três, dez vezes. Depende do poder aquisitivo da pessoa".
As coisas encaixaram-se. No final de 2004, quando a primeira instância do Tribunal Eclesiástico já considerara nulo o primeiro casamento, Iran reencontrou pela internet uma antiga namorada, Tatiana, que havia namorado em 1994.
"Pois é Tati, depois exatos dez anos de te conhecer e praticamente nove sem te ver, a tecnologia faz revermos e relembrarmos momentos muito especiais... Espero que vc esteja cada vez mais realizada e feliz. Fica em paz, vc merece tudo de bom!!!" Esse foi o recado deixado por Iran na página de Tatiana no Orkut. "Tatiana já era o grande amor da minha vida", ele se derrama.
Ela devolve, também no Orkut: "Amo o seu jeito, seu caráter, sua paixão pela vida, pela caridade, pelas pessoas...você simplesmente possui o coração do tamanho do mundo e isso faz você ser a pessoa maravilhosa que é. Amo-te eternamente, meu único amor!"
Tudo certo para o final feliz? Calma.
Como Tati não é católica (ela é fiel da Congregação Cristã no Brasil), o casamento dos dois apaixonados é considerado "misto". Depende, pois, de autorização do bispo. Enquanto isso não acontece, eles aguardam. Felizes e castos, como convém a bons cristãos.


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