São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Em 2 meses, Espanha barrou 880 brasileiros

Foram inadmitidas 428 pessoas em janeiro e 452 em fevereiro, segundo dados divulgados pelo Ministério do Interior espanhol

Em Salvador, brasileira com dupla nacionalidade foi impedida de ir para Espanha com o filho por não ter autorização do pai da criança

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

A polícia espanhola barrou, em janeiro, 428 brasileiros que tentavam entrar no país, mas deixou passar sem sustos 13.722. A porcentagem de inadmitidos é, portanto, levemente superior a 3%.
Os números foram divulgados pelo Ministério do Interior, que faz o controle das fronteiras, como uma espécie de resposta indireta às críticas do governo e de cidadãos brasileiros impedidos de entrar na Espanha -o que se transformou numa minicrise nas relações bilaterais.
A idéia do governo espanhol parece ser a de sinalizar que é ínfima a quantidade de brasileiros com problemas ao chegar. Se 13.722 entram e apenas 428 são devolvidos, não haveria razão para crise.
Mas o número é enganoso: para quem é retido sem motivo justo, trata-se de 100% de injustiça, ainda que, do mesmo vôo, entrem todos os demais passageiros.
Não é, aliás, o que está acontecendo: o número de inadmitidos em fevereiro subiu para 452, apesar de ter dois dias a menos que janeiro.
O Ministério do Interior espanhol divulgou um segundo número para desmentir a sensação de que brasileiros/as estão sendo alvo de uma discriminação específica. No ano passado, os brasileiros inadmitidos foram 3.083 -ou 12,6% dos 24.355 estrangeiros barrados.
De todo modo, os números oficiais da Espanha mostram que está havendo um aumento consistente no número de brasileiros inadmitidos. Os 3.083 de 2007 significam pouco mais de 8 por dia. Já em fevereiro de 2008, a média diária praticamente duplicou, chegando a 15.
O aumento de inadmissões e as retaliações brasileiras acabaram provocando uma situação bizarra: Lucia Silva, brasileira com dupla nacionalidade, foi impedida no sábado não de entrar na Espanha ou no Brasil, mas de sair do Brasil para a Espanha, com o filho Leonardo, de 22 meses.
Motivo alegado pelas autoridades no aeroporto de Salvador: Lucia não levava a autorização do pai (o espanhol José Ramón Algora) para que o filho viajasse só com a mãe.
Lucia, no entanto, contou ao jornal espanhol "El País" que só foi barrada porque mostrou o passaporte espanhol, em vez do brasileiro.
O caso não é claro do ponto de vista legal: a legislação brasileira de fato exige que os dois pais autorizem viagens de menores de 18 anos, sozinhos ou acompanhados de um deles. Mas, no caso, tratava-se de a criança voltar, com a mãe, para onde se encontrava o pai, não de viagem a um terceiro país.
Casos como esse só complicam uma situação que não dá sinais de distensão, apesar das insistentes gestões do Ministério de Relações Exteriores brasileiro junto a seu correspondente espanhol. Para a semana que vem, está marcada, em princípio, uma reunião entre altos funcionários diplomáticos dos dois países, em Madri, em busca de algum tipo de entendimento.
A conjuntura econômica, no entanto, torna mais difícil que a Espanha abrande as restrições.
Nos quatro anos de governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero, reeleito no dia 9, entraram legalmente na Espanha 727.821 imigrantes devidamente contratados no país de origem. Mais cerca de 600 mil cuja situação foi regularizada por ato do governo.
Agora, no entanto, a porta-voz do Ministério da Economia, María Jesús Luengo, disse a "El País" que, embora a Espanha continue criando empregos, a população ativa "cresce a um ritmo alto, com o que os novos postos de trabalho não bastam para satisfazer a demanda. Por isso, aumenta o desemprego".
E por que cresce a ritmo alto a população ativa? Por conta da imigração e da incorporação de mulheres ao mercado de trabalho, item, por sua vez, vinculado à imigração: são as mulheres imigrantes que cuidam dos filhos das espanholas, liberando-as para o mercado de trabalho.
Na hora em que aumenta o desemprego (bateu, em fevereiro, o recorde em dez anos), o lógico é que o governo dê preferência aos espanhóis, para evitar o descontentamento inevitável.


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