|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em 2 meses, Espanha barrou 880 brasileiros
Foram inadmitidas 428 pessoas em janeiro e 452 em fevereiro, segundo dados divulgados pelo Ministério do Interior espanhol
Em Salvador, brasileira com dupla nacionalidade foi impedida de ir para Espanha com o filho por não ter autorização do pai da criança
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A polícia espanhola barrou,
em janeiro, 428 brasileiros que
tentavam entrar no país, mas
deixou passar sem sustos
13.722. A porcentagem de inadmitidos é, portanto, levemente
superior a 3%.
Os números foram divulgados pelo Ministério do Interior,
que faz o controle das fronteiras, como uma espécie de resposta indireta às críticas do governo e de cidadãos brasileiros
impedidos de entrar na Espanha -o que se transformou
numa minicrise nas relações
bilaterais.
A idéia do governo espanhol
parece ser a de sinalizar que é
ínfima a quantidade de brasileiros com problemas ao chegar. Se 13.722 entram e apenas
428 são devolvidos, não haveria
razão para crise.
Mas o número é enganoso:
para quem é retido sem motivo
justo, trata-se de 100% de injustiça, ainda que, do mesmo
vôo, entrem todos os demais
passageiros.
Não é, aliás, o que está acontecendo: o número de inadmitidos em fevereiro subiu para
452, apesar de ter dois dias a
menos que janeiro.
O Ministério do Interior espanhol divulgou um segundo
número para desmentir a sensação de que brasileiros/as estão sendo alvo de uma discriminação específica. No ano passado, os brasileiros inadmitidos
foram 3.083 -ou 12,6% dos
24.355 estrangeiros barrados.
De todo modo, os números
oficiais da Espanha mostram
que está havendo um aumento
consistente no número de brasileiros inadmitidos. Os 3.083
de 2007 significam pouco mais
de 8 por dia. Já em fevereiro de
2008, a média diária praticamente duplicou, chegando a 15.
O aumento de inadmissões e
as retaliações brasileiras acabaram provocando uma situação
bizarra: Lucia Silva, brasileira
com dupla nacionalidade, foi
impedida no sábado não de entrar na Espanha ou no Brasil,
mas de sair do Brasil para a Espanha, com o filho Leonardo,
de 22 meses.
Motivo alegado pelas autoridades no aeroporto de Salvador: Lucia não levava a autorização do pai (o espanhol José
Ramón Algora) para que o filho
viajasse só com a mãe.
Lucia, no entanto, contou ao
jornal espanhol "El País" que só
foi barrada porque mostrou o
passaporte espanhol, em vez do
brasileiro.
O caso não é claro do ponto
de vista legal: a legislação brasileira de fato exige que os dois
pais autorizem viagens de menores de 18 anos, sozinhos ou
acompanhados de um deles.
Mas, no caso, tratava-se de a
criança voltar, com a mãe, para
onde se encontrava o pai, não
de viagem a um terceiro país.
Casos como esse só complicam uma situação que não dá
sinais de distensão, apesar das
insistentes gestões do Ministério de Relações Exteriores brasileiro junto a seu correspondente espanhol. Para a semana
que vem, está marcada, em
princípio, uma reunião entre
altos funcionários diplomáticos dos dois países, em Madri,
em busca de algum tipo de entendimento.
A conjuntura econômica, no
entanto, torna mais difícil que a
Espanha abrande as restrições.
Nos quatro anos de governo
do socialista José Luis Rodríguez Zapatero, reeleito no dia
9, entraram legalmente na Espanha 727.821 imigrantes devidamente contratados no país
de origem. Mais cerca de 600
mil cuja situação foi regularizada por ato do governo.
Agora, no entanto, a porta-voz do Ministério da Economia, María Jesús Luengo, disse
a "El País" que, embora a Espanha continue criando empregos, a população ativa "cresce a
um ritmo alto, com o que os
novos postos de trabalho não
bastam para satisfazer a demanda. Por isso, aumenta o
desemprego".
E por que cresce a ritmo alto
a população ativa? Por conta da
imigração e da incorporação de
mulheres ao mercado de trabalho, item, por sua vez, vinculado à imigração: são as mulheres
imigrantes que cuidam dos filhos das espanholas, liberando-as para o mercado de trabalho.
Na hora em que aumenta o
desemprego (bateu, em fevereiro, o recorde em dez anos), o
lógico é que o governo dê preferência aos espanhóis, para
evitar o descontentamento inevitável.
Texto Anterior: Violência: Menina é baleada em assalto e pode ficar paraplégica Próximo Texto: Controle: Espanha alerta cidadãos sobre rigor nos aeroportos do Brasil Índice
|