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Governo recebe hoje novo vocabulário oficial
Publicação traz mudanças provocadas pelo Acordo Ortográfico e define a grafia de palavras que suscitavam dúvidas
Segundo Evanildo Bechara, da ABL, "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa" é brasileiro, e os outros países poderão criar os seus
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Academia
Brasileira de Letras, Cícero
Sandroni, entrega hoje a três
ministros um calhamaço que
poderá dirimir as últimas dúvidas sobre o Acordo Ortográfico.
Em suas 976 páginas, o Volp
("Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa") traz a grafia de 349.737 palavras, parte
delas alterada em razão das regras do Acordo. O trabalho foi
coordenado pelo filólogo Evanildo Bechara, da ABL.
Ele estará em Brasília, às 17h,
apresentando o volume aos ministros Fernando Haddad
(Educação), Juca Ferreira
(Cultura) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) -que
o receberá em nome do presidente Lula. Amanhã, será realizado o lançamento oficial do
Volp na ABL, no Rio.
"Toda obra humana tem, não
digo seus enganos, mas seus silêncios normativos", diz Bechara, que procurou preencher
lacunas do Acordo. Uma delas
dizia respeito ao prefixo "re".
Chegou-se a pensar que se usaria "re-eleição". Mas a solução
foi dada com base na tradição.
"Dicionários de cem anos atrás
já traziam o "re" aglutinado", diz
o professor.
Quando as tradições brasileira e portuguesa não diziam a
mesma coisa, buscava-se um
caminho nas bases do Acordo.
Assim, seguindo a regra geral
de hifenização de compostos
formados de palavras independentes, "rega-bofe" e "vaga-lume" ficaram com hífen -ainda
que "vagalumear" não tenha o
sinal, porque os derivados, tradicionalmente, perdem o hífen,
segundo Bechara.
O filólogo assume que a equipe cometeu um "engano num
assunto em que os dicionários e
vocabulários representam terra de ninguém: as onomatopeias". Se "tique-taque" é com
hífen, "tiquetaquear" deveria
sê-lo também, mas prevaleceu
o costume de se aglutinarem os
derivados.
Já "co-herdeiro", escrita desta forma no Acordo, foi adaptada para "coerdeiro", com base
no fato de que o prefixo "co"
não pertence ao grupo majoritário de prefixos que recebem o
hífen diante da vogal idêntica à
sua vogal final e do "h".
Bechara explica ainda o fim
do hífen em compostos como
"à toa" e "dia a dia", entre outros. "É o princípio do espírito
de simplificação. [A decisão] tirou das costas do homem comum a obrigação de conhecer e
distinguir unidades linguísticas", afirma. "No caso de "dia a
dia", apelava-se para o contexto
[para usar o hífen]. Pois o contexto assumiu no Acordo um
papel fundamental quando
aboliu o acento diferencial. A
responsabilidade da distinção
semântica cabe ao contexto."
Os únicos acentos diferencias obrigatórios são os de
"pôr" e "pôde". Não há "fôrma"
no Volp, mas Bechara diz que o
acento pode ser usado se houver dúvida quanto ao sentido. O
mesmo vale para "sêde".
Especialistas portugueses
não foram consultados porque,
segundo Bechara, "em nenhum
momento o Acordo fala em vocabulário comum". O Volp,
portanto, é brasileiro, e os outros países de língua portuguesa poderão criar os seus.
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