São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 2000


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DONOS DA ÁREA
PM protege operários que trabalham na urbanização de favela, que facilitará acesso da polícia ao local
Traficante tenta impedir obra no Rio

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Policiais militares cuidam da segurança dos operários na obra do projeto Favela Bairro, no Rio


ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Sucursal do Rio

A Polícia Militar está realizando uma operação especial para proteger operários que trabalham nas obras do projeto Favela Bairro na Chácara Del Castilho, na zona norte do Rio. Por pressão dos traficantes locais, os trabalhos foram interrompidos duas vezes.
O Favela Bairro é considerado um projeto modelo pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que financia parte dos cerca de US$ 300 milhões usados na execução de obras em 115 áreas carentes do Rio.
O banco recomenda a implantação do projeto em outros países do Terceiro Mundo. O Favela Bairro pretende integrar as áreas faveladas à cidade por meio da urbanização e da incorporação de serviços públicos.
Os traficantes da Chácara Del Castilho querem impedir a ampliação de uma rua, um trecho de cerca de 300 metros que cria uma nova entrada na favela, facilitando o tráfego na área, inclusive de carros da polícia.
O novo trecho também vai impedir o acesso direto da favela a um ramal ferroviário, o que corta uma rota de fuga e de abastecimento dos traficantes.
A primeira interrupção das obras aconteceu no final do ano passado, quando começaram os preparativos para a ampliação da rua. Os trabalhos foram paralisados novamente em janeiro. A previsão de término das obras era fevereiro.
Há três semanas os trabalhos foram retomados, depois que a Prefeitura do Rio conseguiu o apoio da Secretaria Estadual de Segurança para a proteção dos trabalhadores da obra.
Policiais Militares fazem plantão de 24 horas na favela, com o uso constante de um carro de apoio. Estão trabalhando 16 operários no local e a previsão agora é que o término das obras ocorra em julho.
Desde o início da operação, não houve confrontos com o tráfico, que acompanha de forma discreta as pessoas estranhas ao local.
A rua principal da favela tem cinco lombadas, recurso usado pelos traficantes cariocas para dificultar o acesso da polícia e invasões de grupos rivais.
O comando da PM na região considera pequeno o movimento do tráfico interno dentro da favela, que tem cerca de 2.500 habitantes. Mas o local é considerado ponto estratégico de venda de drogas, por estar próximo a um shopping e a ruas comerciais.
Moradores, que não quiseram se identificar, disseram que as obras já realizadas, como rede de esgoto, iluminação, pavimentação e abertura de ruas melhoraram a qualidade de vida no local. Porém dizem que falta água e que é grande o desemprego entre eles.
Segundo a Secretaria de Habitação da Prefeitura, o problema de falta de água é anterior ao projeto de urbanização. Quanto ao desemprego, o projeto Favela Bairro prevê o desenvolvimento de programas de reciclagem e treinamento dos moradores.
No local, é visível a concentração de pessoas desocupadas pelas ruas e os moradores dizem que isso é reflexo da falta de oportunidades de trabalho.
Com a intensificação da presença da polícia, muitos deles reclamam que são revistados com frequência, confundidos com possíveis traficantes.
Para reduzir o problema do desemprego, os próprios moradores sugerem que as obras do Favela Bairro sejam executadas por operários contratados no local. Atualmente só um dos trabalhadores é de lá.
Outra reivindicação é que seja aplicado também na Chácara Del Castilho o projeto de garis comunitários, usado em outras favelas da cidade. Nesse projeto, os garis passam a ser contratados diretamente pela associação de moradores, com pagamento de salários feitos por repasses da companhia municipal de limpeza urbana.


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