São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Escolas de Kassab estão sem "2º professor"

Após mais de um mês do início das aulas, a Prefeitura de São Paulo ainda não conseguiu contratar os auxiliares dos docentes

Lançado por Serra, projeto prevê o uso de universitários em sala de aula para auxiliar docentes; prefeitura alega problemas burocráticos

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano letivo na rede municipal de São Paulo começou sem o auxiliar do professor nas classes de 1ª série, uma das propostas de maior impacto da prefeitura para combater a má qualidade do ensino na cidade. Até agora, passado mais de um mês de aula, nenhuma turma da rede conta com o estagiário.
A gestão Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL) afirma que enfrentou dificuldade burocrática e que os estagiários estarão em atividade até o final deste mês. Além disso, a prefeitura diz que irá mais do que dobrar o número de estagiários.
O programa faz parte do projeto "Ler e Escrever" -lançado pelo então prefeito José Serra (PSDB)-, que tenta reverter a situação do ensino na rede: segundo a própria prefeitura, 30% dos alunos de quarta série não conseguem ler e escrever com competência.
À época do lançamento, Serra dizia que iria colocar um segundo professor nas salas, apesar de o assistente ainda ser um estudante universitário. Agora governador, o tucano afirma que irá implementar a proposta também na rede estadual.
Em 2006, primeiro ano do projeto na prefeitura, foram contratados 800 alunos de faculdades de pedagogia e letras.
Para 2007, a prefeitura decidiu estender o projeto a todas as turmas da 1ª série. Para isso, aumentou o número de estagiários para 1.700. Mas como os contratos dos estagiários do ano passado venceram e os novos ainda não foram feitos, nenhuma turma tem o assistente.
"Tivemos dificuldades burocráticas", disse o secretário de Educação, Alexandre Schneider. Segundo o secretário, o problema ocorreu porque a forma de contratação mudou. Em 2006, a prefeitura enviava o valor da bolsa (R$ 400 mensais) para as faculdades, que então transferiam o montante para os seus estudantes. Agora, o dinheiro irá direto para o aluno.
"Como mudou o sistema, tenho de pedir uma série de procedimentos internos para poder contratar esses estagiários", disse Schneider. Ele afirmou ainda que os estagiários são apenas parte do programa para melhorar a educação (leia mais em texto ao lado).
"O estagiário cairá de pára-quedas na sala de aula", declarou o presidente da Aprofem (sindicato dos professores e funcionários municipais), Ismael Palhares. "Para dar certo, o bolsista precisa estar afinado com o projeto pedagógico da escola e até participar do planejamento, que é em fevereiro."
Já o presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal), Claudio Fonseca, ex-vereador do PC do B, afirmou que "só a diminuição do tamanho das turmas irá melhorar a alfabetização das crianças".

Reclamações
Bolsistas selecionados para o programa também reclamam do atraso, pois dizem que ficaram sem informações sobre o projeto e muitos deixaram seus empregos e agora dependem da bolsa, que ainda não começou a ser paga. Tradicionalmente, estudantes de letras e de pedagogia estão entre os que mais têm dificuldades financeiras.
"Saí do meu emprego porque esperava usar a bolsa para bancar os meus gastos na faculdade", reclamou uma aluna de 25 anos que cursa o 4º ano de pedagogia (os estudantes pedem para não serem identificados).
"Não estamos sentindo comprometimento da prefeitura com o projeto, o que pode refletir na motivação dos estagiários", disse um aluno de 23 anos, do 3º ano de letras.


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