São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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"Ninguém manda no Rio", diz secretário

DA SUCURSAL DO RIO

O governo Benedita (PT) reagiu ontem com veemência contra a idéia de uma força-tarefa comandada pela PF (Polícia Federal), com a presença das Forças Armadas, no policiamento das ruas.
"Ninguém manda no Rio de Janeiro. O Rio é um Estado autônomo, e o Brasil é uma república federativa. Quem vai mandar no Rio de Janeiro é o Rio. Nenhum ministério manda na minha secretaria", afirmou o secretário de Segurança, Roberto Aguiar.
A governadora disse que não recusará a ajuda do governo federal, mas que não abrirá mão de que o controle da segurança fique a cargo das polícias Civil e Militar. "Aceitamos a ajuda, mas daremos todas as diretrizes para qualquer contribuição que vier", declarou.
Aguiar deixou claro que o governo não aceitará a presença das Forças Armadas no policiamento -o que caracterizaria uma repetição da Operação Rio, realizada em 1994, também em um ano de eleição presidencial, quando o governador Leonel Brizola (PDT) se licenciara para disputar a Presidência da República, sendo substituído pelo vice Nilo Batista.
Benedita admitiu o apoio das Forças Armadas, desde que se restrinja à área social. "As Forças Armadas sabem de suas funções e manterão conosco uma relação na área social, onde já possuem experiência."
Sem esconder a irritação, Aguiar disse que a criação da força-tarefa gerou "perplexidade" no governo. "Se nós já estamos integrados, com a Polícia Civil e a Polícia Federal agindo, que novidade isso traz? Seria discurso político? Uma solidariedade vaga?", indagou. Questionado se o ato foi político, disse: "Todo ato é político. Há políticas boas e más".
O secretário não quer nem mesmo usar a expressão força-tarefa. "Que força-tarefa nada!"
Ele não poupou nem sequer o presidente da República interino, Marco Aurélio de Mello, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), que anteontem disse que o tráfico tem feito o papel do Estado em algumas favelas. "Algumas autoridades do Judiciário entendem muito de Justiça, mas nada de segurança pública."
Foi um dia de embate também com o superintendente da PF no Rio, Marcelo Itagiba. Aguiar cobrou ação no combate à entrada de armas e drogas no Rio.
O superintendente voltou a defender ontem a criação da força-tarefa e disse que a PF está sendo efetiva no combate à entrada de armas e drogas no Estado.
"Estamos fazendo grandes apreensões de drogas em Mato Grosso e São Paulo, que seriam destinadas ao Rio", afirmou.
A pauta de propostas do governo estadual deverá ser apresentada na segunda-feira aos órgãos federais. O governo está solicitando a liberação de R$ 22 milhões do Ministério da Justiça para projetos de treinamento de policiais.

Ameaças
A secretária estadual de Direitos Humanos e Sistema Penitenciário, Wania Sant'Anna, vem recebendo ameaças por telefone desde que o prédio da secretaria, em Botafogo (zona sul), foi alvo de um atentado, na terça-feira.
O inquérito foi enviado ontem para a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado e está a cargo do delegado titular da unidade, Ricardo Hallak. "Vamos investigar também essas ameaças, mas isso está parecendo trote", disse.
Policiais civis estiveram ontem nas redondezas da secretaria em busca de testemunhas que pudessem ajudar a produzir um retrato falado dos autores do atentado.



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