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INFÂNCIA
Investigação de congressistas mostra que 33 autoridades dos três Poderes teriam ligação com abuso sexual de adolescentes
CPI vai indiciar cem por aliciar jovens
TIAGO ORNAGHI
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA
A Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito do Congresso Nacional vai indiciar, pelo menos, cem
pessoas no dia 15 de junho, quando for entregue o relatório que investiga 186 casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes em 21 Estados.
A informação é da relatora da
CPI, deputada federal Maria do
Rosário (PT-RS). Entre os acusados pelos deputados federais e senadores, estão 33 autoridades, entre prefeitos, vereadores, deputados estaduais e até um juiz da Vara da Infância e da Juventude.
A Agência Folha teve acesso às
informações do relatório. Os trabalhos da comissão começaram
no dia 12 de junho de 2003. O indiciamento fará a Procuradoria
da República apresentar denúncia e pedir a abertura de processo
judicial pelo crime de exploração
sexual de crianças e adolescentes.
O caso mais notório do documento é sobre Porto Ferreira, interior de São Paulo, onde dez pessoas foram condenadas por aliciamento de meninas, no dia 19
de abril. Seis vereadores fazem
parte desse grupo. Eles também
cumprirão pena por corrupção de
menores, favorecimento à prostituição e formação de quadrilha.
Em Pompéu (MG), o prefeito
Francisco Luiz Cordeiro Guimarães (PDT), com empresários da
cidade, foi investigado por formar
uma rede de exploração sexual de
adolescentes. Essa rede, segundo
a CPI, organizou encontros entre
clientes e adolescentes.
Os ex-vereadores César Disney
(ex-PT) e Róbson Martins (ex-PSDB) de Campo Grande (MS)
respondem por estupro e exploração sexual de adolescentes. Eles
já estiveram presos e renunciaram a seus mandatos.
Os nomes e telefones dos dois
foram encontrados com adolescentes que participavam de uma
rede de prostituição em Dourados (MS). De acordo com a CPI, o
vereador Disney manteria relações com uma menina de 10 anos,
filha de uma suposta amante dele.
A comissão localizou no Nordeste diversos casos de exploração sexual de crianças envolvendo autoridades. Mato Grosso, porém, é o Estado com maior número de denúncias apuradas: 33.
No Maranhão, a CPI investigou
o deputado estadual Camilo Figueiredo (PFL). Ele responde a
dois inquéritos acusado de ter
mantido relações com duas irmãs
de 13 e 15 anos, em Codó (MA).
Ainda no Maranhão, dois prefeitos tiveram o indiciamento pedido pela CPI do Estado e serão
listados também no relatório do
Congresso: Francisco das Chagas
Linhares (PFL), de Água Doce do
Maranhão, e Josemar Oliveira
Vieira (PFL), de Paulino Neves.
Eles são acusados de organizar
festas com a presença de crianças
e mantido relações com elas. Em
Paulino Neves, o presidente da
Câmara Municipal, Edvaldo Oliveira Marques (PFL), também foi
acusado e denunciado.
"É preciso que as investigações
[feitas pela CPI] levem a uma punição exemplar para as autoridades envolvidas", disse a deputada
Maria do Rosário.
Um vereador de São Luís (MA),
Sebastião do Coroado, chegou a
ter a prisão preventiva decretada,
mas conseguiu habeas corpus. A
mãe da jovem S.A., 14, afirmou
que a menina teria sido forçada a
se relacionar com o vereador e depois foi submetida a um aborto.
Segundo o relatório da CPI, Coroado doou uma casa para a família da vítima e pagou, durante um
ano, R$ 320 mensais para a jovem
antes das denúncias.
Em Bayeux, na Paraíba, o juiz da
Infância e Juventude José Edivaldo Albuquerque de Lima foi denunciado sob a acusação de ter
abusado sexualmente de uma
menina de 13 anos. Ele está afastado de suas funções e responde a
um inquérito administrativo.
Na cidade de Goiás (GO), o prefeito Boadyr Veloso (PP) foi condenado por estupro de sete meninas. Em segunda instância, ele
acabou inocentado, pois todas as
testemunhas mudaram seus depoimentos e disseram não o reconhecer como sendo o estuprador.
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