|
Próximo Texto | Índice
GUERRA URBANA/ CORRUPÇÃO
Funcionário de empresa que trabalha na Câmara vendeu áudio a advogados da facção, dois dias antes do início dos atentados
PCC comprou gravação secreta de CPI
FÁBIO ZANINI
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PCC (Primeiro Comando da
Capital) comprou a cópia da gravação de uma sessão secreta da
CPI do Tráfico de Armas, na
quarta-feira da semana passada,
quando se mencionou o plano para transferir líderes da facção criminosa. A polícia de São Paulo
suspeita que isso possa ter contribuído para que fosse deflagrada,
dois dias depois, a maior onda de
violência da história do Estado.
A revelação foi feita ontem pelo
técnico de som Arthur Vinicius
Silva, em depoimento à própria
CPI. Ele disse ter vendido, por R$
200, dois CDs com o áudio da sessão aos advogados Maria Cristina
de Souza Rachado e Sérgio Wesley da Cunha, que se apresentaram como defensores de líderes
da organização. A Folha apurou
que ele recebeu R$ 2.000.
A CPI encaminhou à Justiça pedido de prisão preventiva deles,
pelos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa. Também
serão convocados para uma acareação com o técnico.
Na audiência da semana passada, os delegados Godofredo Bittencourt e Rui Fontes, ambos do
Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), mencionaram o plano de
transferir para presídios de segurança máxima os principais líderes da facção, pois havia a possibilidade de uma megarrebelião.
"Bittencourt contou toda a história na CPI. Como acontecem as
coisas, como é usado o celular.
Contou também a participação
das pessoas", disse o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo,
Marco Antonio Desgualdo.
Empregado de uma empresa
que presta serviços de gravação
para a Câmara, Arthur depôs como testemunha, falou com uma
tranqüilidade que surpreendeu os
deputados e deixou a sala em liberdade, sob proteção policial.
Ele disse que foi abordado pelos
advogados enquanto gravava os
depoimentos, em um estúdio fechado, contíguo à sala da CPI.
Pouco antes, Cunha e Rachado
haviam sido identificados por Bittencourt como advogados do
PCC. Isso levou o presidente da
CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), a
determinar a retirada deles e os
depoimentos em sessão fechada.
Sem serem percebidos pelos deputados, os advogados então teriam se dirigido ao técnico de
som, perguntando se haveria uma
forma de obter a gravação. A
princípio, ele disse que teria resistido à oferta, mas depois cedeu.
"Eu ganho pouco", disse aos deputados, revelando que recebia
R$ 1.300 líquidos mensais.
Ontem, Arthur deixou claro que
sabia que os advogados eram do
PCC e confirmou que tinha conhecimento sobre o que era a organização. Mas disse que, naquele
momento, não sabia da "imensidão" do que estava fazendo.
"Achei que eles [os advogados]
queriam uma forma melhor de
defender os clientes", afirmou.
"Depois que vi na TV me perguntei: será que foi pelo que fiz? Estou
desde sábado sem dormir."
Cronologia
Assim que o depoimento terminou, Arthur retirou o cartão de
memória que gravou a sessão em
um computador. Encontrou os
dois advogados em frente ao restaurante da Câmara e foram a um
shopping para fazerem cópias em
dois CDs. Ainda segundo Arthur,
até esse momento não haviam sido discutidos valores. Cunha perguntou, então, quanto ele queria,
ao que o técnico respondeu: "Não
sei, não tem tabela para isso."
A advogada teria colocado quatro notas de R$ 50 no bolso do paletó do técnico. Os advogados deram a ele seus cartões, pedindo
que enviasse e-mails posteriormente, para "dar mais algum". O
técnico fez isso no dia seguinte.
A história começou a vir à tona
já no dia seguinte. A polícia paulista comunicou a alguns deputados que os advogados realizaram
uma audioconferência na própria
quinta-feira por celular com os líderes do PCC, transmitindo a gravação da audiência da CPI.
Os deputados acionaram a Polícia Legislativa. Eles chegaram a
Arthur porque deram pela falta de
um cartão de gravação da sessão
da CPI. Ao ser interrogado pela
polícia da Câmara, confessou.
Colaborou Afra Balazina
Próximo Texto: Frases Índice
|