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GUERRA URBANA/ AÇÃO POLICIAL
Em seis dias de crise com o PCC, 93 suspeitos foram mortos em confronto; no primeiro trimestre do ano, a média mensal é de 39
Polícia já matou mais que em 2 meses
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia matou mais 22 suspeitos em todo o Estado de São Paulo
e prendeu outros sete, subindo
para 93 os casos classificados pelas autoridades como "enfrentamentos contra homens do PCC".
Ou seja, em média, 15,5 por dia,
desde sexta, quando a facção criminosa iniciou os ataques.
No primeiro trimestre do ano,
as polícias Civil (12) e Militar (105)
mataram 117 pessoas no Estado, o
que dá uma média de 1,3 pessoas
mortas por dia em "confrontos".
A média de assassinatos cometidos por policiais em janeiro, fevereiro e março é de 39 pessoas, em
todos os municípios paulistas.
A comparação das mortes de janeiro, fevereiro e março com as
mortes causadas pelas duas polícias desde sexta-feira, aponta que,
em seis dias, matou-se 79% do total dos três primeiros meses.
Dados da Secretaria da Segurança Pública apontam que, considerando-se todas as cidades do
Estado, nos três primeiros meses
deste ano, 1.622 foram vítimas de
homicídio doloso (com intenção), o que dá uma média diária
-em um período de 24 horas-
de 18 assassinatos por dia.
O órgão diz não ter como contabilizar todos os assassinatos desde
sexta-feira no Estado, mas diz que
houve 138 mortes (93 suspeitos e
41 das forças de segurança e quatro civis) contabilizadas pelo governo como decorrentes do confronto com o PCC. Isso representa uma média diária de 23 assassinatos por dia (sem contar aí todos
os outros crimes de homicídios
dolosos "convencionais").
Desde domingo a Folha solicita
ao governo do Estado, sem sucesso, o nome, a ficha com antecedentes criminais dos suspeitos
mortos, a circunstância de cada
uma das mortes, os locais onde
eles ocorreram e se os corpos ficaram esperando a realização de perícia ou se eles foram removidos
pelos policiais envolvidos nos casos para hospitais. Até a conclusão desta edição, a resposta do órgão é repetida: "Os dados estão
sendo consolidados e serão divulgados em breve".
Toucas ninjas e motos
Em meio ao caos enfrentado pelo governo de São Paulo na área
da segurança pública, uma velha
tática de ação para o cometimento de assassinatos voltou à cena:
desde sexta-feira, quando começou a onda de violência orquestrada por homens da facção criminosa PCC (Primeiro Comando
da Capital), várias pessoas foram
mortas em todo o Estado por assassinos que usavam toucas "ninjas" e, em quase todas as ações, estavam em motocicletas. Grupos
de extermínio costumam agem
com essas características.
Entre a noite de domingo e a
madrugada de ontem, pelo menos 19 pessoas foram assassinadas, somente na capital e na Grande São Paulo, por assassinos que
usavam toucas "ninja". Sem conseguir acumular e repassar informações mais precisas sobre cada
uma das mortes, a Secretaria da
Segurança Pública afirma que boa
parte desses casos não tem ligação
com os recentes confrontos entre
as forças de segurança e supostos
integrantes da facção.
Até o início dos confrontos entre PCC e Estado, São Paulo havia
registrado apenas três chacinas. O
governo não sabe informar o número total de vítimas nesses crimes. Desde sexta-feira, esse tipo
de crime, caracterizado pela morte de três ou mais pessoas em um
único ataque, saltou para seis, ou
seja, houve um aumento de 100%
nos casos de chacinas.
Foi um ataque a tiros, cometido
por um grupo de homens com
toucas "ninja", divididos em oito
motos, que causou, na noite de
anteontem, a morte de três homens em um lava-rápido, localizado na avenida Ramiz Galvão,
Jaçanã (zona norte de São Paulo).
Ainda na noite de anteontem,
outra chacina cometida por homens com touca "ninja" ocorreu
no Jardim Guarujá (zona sul de
São Paulo). Três rapazes foram
mortos a tiros na rua Mário Totta.
No Orkut, a comunidade "PCC,
Quero o seu fim" mostrava três
fotos supostamente de integrantes mortos da facção criminosa.
Mensagens de páginas de supostos policiais, alguns com fotos de
farda, apoiavam a reação policial.
"Dez é pouco", dizia uma das
mensagens, sobre o número de
mortos. À tarde, a comunidade
foi removida e as fotos, apagadas.
Colaboraram RACHEL AÑON, da Agência Folha, e AFRA BALAZINA, RICARDO
GALLO E FABIANE LEITE, da Reportagem Local
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