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Abrigo está há duas semanas sem água potável
FERNANDO DONASCI
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA,EM TRIZIDELA DO VALE (MA)
Sem energia elétrica, cestas
básicas e água potável há quase
duas semanas, as cerca de 40
famílias abrigadas em um hospital abandonado de Trizidela
do Vale (MA) dizem sentir falta
de "notícias sobre outros lugares", de água gelada e de ventilador para espantar mosquitos.
Mais de 80% dos 18.300 habitantes da cidade tiveram a casa
inundada pelo rio Mearim, segundo a Defesa Civil do Estado.
A reportagem passou uma
noite no abrigo improvisado.
Nele, mães não dormem para
espantar mosquitos, paredes
viraram mictórios e velas acesas para santos em altares também iluminam o jantar.
Sem energia, os desabrigados
não podem guardar comida em
geladeiras. "A gente come o que
consegue e depois joga fora. É
impossível guardar para depois", diz Paula Sousa, 24, há
dois meses no abrigo.
A energia foi cortada pela
Companhia Energética do Maranhão devido ao risco de acidentes. A água utilizada para
consumo é captada das chuvas
ou do rio, que inundou a cidade
e se misturou com o esgoto.
Rotina
Alguns desabrigados continuam trabalhando, já que precisam pagar até pelas canoas,
que cobram R$ 2 pela travessia
até a vizinha Pedreiras.
"A gente passa o dia sem fazer muita coisa, jogando dominó, falando da vida dos outros",
brinca Maria de Nazaré Soares,
61, no abrigo com três filhos, 18
netos e três bisnetos, que se revezam para dormir.
O fornecimento de leite foi
interrompido depois de funcionários da prefeitura serem recebidos com sacos de urina.
Ninguém soube explicar o motivo da agressão.
Agora, os atingidos só têm
contato com o poder público
nas rondas diárias feitas de lancha pela Polícia Militar. A Defesa Civil do Estado diz que é responsabilidade da prefeitura solucionar problemas. O prefeito,
Jânio de Sousa Freitas (PDT),
não foi localizado para comentar as condições sanitárias.
"Sortudos"
A família de Mikaely Nogueira, 17, é a única que consegue
dormir, apesar dos latidos de
cachorros, das brigas familiares
e dos gritos de pessoas doentes.
"Nós somos sortudos, ficamos com o consultório 2, que é
fechado. Só minha família está
nele", diz a garota, que divide
um cubículo com sete parentes.
Maria Rita, 30, que mora no
andar superior, diz que emagreceu 20 kg e está há três meses com dores e tosse intensa
-foi ao médico, mas voltou por
"falta de sintomas". Das 21 pessoas no quarto, só Natália, 3,
não acorda com os gemidos da
tia, mesmo dormindo sobre um
pedaço de espuma.
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