São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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CRIME NO PARQUE

Polícia pede dados bancários e telefônicos de dez suspeitos pelas mortes de 73 bichos, mas juiz não vê indício de autoria

Justiça nega quebra de sigilos no caso do zôo

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça negou ontem a quebra dos sigilos bancário e telefônico de oito funcionários e dois ex-funcionários do Zoológico de São Paulo. As dez pessoas são apontadas pela Polícia Civil como suspeitas de envolvimento nos envenenamentos que levaram à morte de 73 animais entre 24 de janeiro e 15 de março deste ano.
Na decisão, o juiz Antônio Álvaro Castelo, da 2ª Vara Criminal do Fórum do Jabaquara, afirma que a legislação veda a quebra de sigilo telefônico quando o crime investigado é punido com detenção -pena na qual, diferentemente da reclusão, não cabe prisão em regime fechado, mas semi-aberto.
No caso, apura-se o delito previsto no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais -maus-tratos contra animais-, cuja pena pode variar de três meses a um ano de detenção, aumentando em até um terço em caso de morte.
Já ao justificar sua negativa para o pedido de quebra de sigilo bancário das dez pessoas citadas, Castelo escreveu que "não existem indícios seguros" da autoria do crime que sustentem a medida, acrescentando que, segundo o próprio delegado que comanda o caso, nem a possibilidade de que as mortes tenham sido acidentais foi totalmente descartada.
O inquérito é presidido por Clóvis Ferreira de Araújo, supervisor do GOE (Grupo de Operações Especiais) e chefe da inteligência da Polícia Civil na capital.
No relatório encaminhado à Justiça, ele pediu acesso aos dados bancários e telefônicos dos suspeitos de janeiro de 2000 até o dia 5 passado e atribuiu a impossibilidade de descartar a ocorrência de um acidente a supostas falhas na perícia feita pelo Instituto de Criminalística em restos de comida e iscas de desratização do zôo.
O IC nega falhas. Em férias, Araújo não comentou a decisão. É fato, porém, que ela põe por terra a principal estratégia da polícia.
Toda a investigação está baseada em indícios de que as mortes foram uma vingança promovida contra a atual direção do zôo.
Por essa tese, a gradativa implantação de controles administrativos no parque -iniciada em meados de 2001- passou a dificultar desvios -inclusive de animais-, diminuindo os lucros auferidos pelos contraventores e descontentando alguns deles, muitos dos quais usufruíam havia décadas desses esquemas.
Entre os funcionários que figuram na lista de suspeitos, o que está há menos tempo na fundação lá chegou há 12 anos. Além de potencialmente insatisfeitos, segundo a polícia, alguns também conheciam o veneno utilizado nos ataques, outros já foram acusados de venda ilegal de animais, e a maioria teria tido oportunidade de cometer os crimes, pois teve acesso aos bichos ou mantinha as chaves das jaulas restritas.
Com a quebra dos sigilos, a intenção de Araújo era provar que, diferentemente do que declararam à polícia, essas dez pessoas -cujos nomes a Folha decidiu preservar- mantêm contatos freqüentes entre si e têm rendas superiores a seus salários.
Dos oito suspeitos que ainda estão no zôo, dois seguem lidando diretamente com os animais e seis estão deslocados de suas funções.
Ontem, a direção do zôo disse que a situação será mantida até que ocorra algum fato novo.
As investigações prosseguirão por pelo menos mais 30 dias, segundo prazo concedido ontem pelo juiz Castelo no mesmo texto em que negou a quebra dos sigilos. A medida empurra o inquérito ao quinto mês de duração.


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