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CRIME NO PARQUE
Polícia pede dados bancários e telefônicos de dez suspeitos pelas mortes de 73 bichos, mas juiz não vê indício de autoria
Justiça nega quebra de sigilos no caso do zôo
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça negou ontem a quebra
dos sigilos bancário e telefônico
de oito funcionários e dois ex-funcionários do Zoológico de São
Paulo. As dez pessoas são apontadas pela Polícia Civil como suspeitas de envolvimento nos envenenamentos que levaram à morte
de 73 animais entre 24 de janeiro e
15 de março deste ano.
Na decisão, o juiz Antônio Álvaro Castelo, da 2ª Vara Criminal do
Fórum do Jabaquara, afirma que
a legislação veda a quebra de sigilo telefônico quando o crime investigado é punido com detenção
-pena na qual, diferentemente
da reclusão, não cabe prisão em
regime fechado, mas semi-aberto.
No caso, apura-se o delito previsto no artigo 32 da Lei de Crimes
Ambientais -maus-tratos contra animais-, cuja pena pode variar de três meses a um ano de detenção, aumentando em até um
terço em caso de morte.
Já ao justificar sua negativa para
o pedido de quebra de sigilo bancário das dez pessoas citadas, Castelo escreveu que "não existem indícios seguros" da autoria do crime que sustentem a medida,
acrescentando que, segundo o
próprio delegado que comanda o
caso, nem a possibilidade de que
as mortes tenham sido acidentais
foi totalmente descartada.
O inquérito é presidido por Clóvis Ferreira de Araújo, supervisor
do GOE (Grupo de Operações Especiais) e chefe da inteligência da
Polícia Civil na capital.
No relatório encaminhado à
Justiça, ele pediu acesso aos dados
bancários e telefônicos dos suspeitos de janeiro de 2000 até o dia
5 passado e atribuiu a impossibilidade de descartar a ocorrência de
um acidente a supostas falhas na
perícia feita pelo Instituto de Criminalística em restos de comida e
iscas de desratização do zôo.
O IC nega falhas. Em férias,
Araújo não comentou a decisão. É
fato, porém, que ela põe por terra
a principal estratégia da polícia.
Toda a investigação está baseada em indícios de que as mortes
foram uma vingança promovida
contra a atual direção do zôo.
Por essa tese, a gradativa implantação de controles administrativos no parque -iniciada em
meados de 2001- passou a dificultar desvios -inclusive de animais-, diminuindo os lucros auferidos pelos contraventores e
descontentando alguns deles,
muitos dos quais usufruíam havia
décadas desses esquemas.
Entre os funcionários que figuram na lista de suspeitos, o que está há menos tempo na fundação lá
chegou há 12 anos. Além de potencialmente insatisfeitos, segundo a polícia, alguns também conheciam o veneno utilizado nos
ataques, outros já foram acusados
de venda ilegal de animais, e a
maioria teria tido oportunidade
de cometer os crimes, pois teve
acesso aos bichos ou mantinha as
chaves das jaulas restritas.
Com a quebra dos sigilos, a intenção de Araújo era provar que,
diferentemente do que declararam à polícia, essas dez pessoas
-cujos nomes a Folha decidiu
preservar- mantêm contatos
freqüentes entre si e têm rendas
superiores a seus salários.
Dos oito suspeitos que ainda estão no zôo, dois seguem lidando
diretamente com os animais e seis
estão deslocados de suas funções.
Ontem, a direção do zôo disse
que a situação será mantida até
que ocorra algum fato novo.
As investigações prosseguirão
por pelo menos mais 30 dias, segundo prazo concedido ontem
pelo juiz Castelo no mesmo texto
em que negou a quebra dos sigilos. A medida empurra o inquérito ao quinto mês de duração.
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