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União descarta "má-fé" na coleta de córnea
Coordenador do Sistema Nacional de Transplantes diz que pagamento é uma forma de aumentar o número de transplantes
A cada ano, 12 mil novos pacientes entram na fila de espera e outros 10 mil fazem a cirurgia no país; governo diz que rigor "é obrigação"
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há indícios de que haja
"má-fé" na coleta de córneas
pelos bancos de olhos e tampouco desperdício de dinheiro
público, avalia o coordenador-geral do Sistema Nacional de
Transplantes, Roberto
Schlindwein.
Ele diz desconhecer a acusação feita pelo conselho de enfermagem ao Ministério Público dando conta de que haveria
uma captação indiscriminada
de córneas. "Não chegou nada."
Segundo ele, o pagamento
pelo processo de retirada de
córneas foi uma forma encontrada pelo governo para incentivar a captação do tecido e zerar a fila de espera, hoje em 25
mil pessoas. Antes pagava-se
apenas por transplante.
A cada ano, 12 mil novos pacientes entram na fila e outros
10 mil fazem a cirurgia no país.
Segundo Schlindwein, a coleta
remunerada -que inclui entrevista com a família do doador,
retirada do globo ocular, processamento e exames- confere
qualidade à córnea a ser transplantada.
Além disso, ele acredita que,
se o processo não fosse remunerado, o número de captações
seria bem menor e, conseqüentemente, o de transplantes.
"Quando se capta a córnea
não é possível saber, de antemão, se ela servirá para transplante. É preciso esperar alguns dias o resultado do exame
de sangue do doador e da análise da córnea", explica.
O Ministério da Saúde remunera cada etapa da captação.
Por exemplo, pela entrevista
com a família do doador, paga-se R$ 210, e pela extração do
globo ocular, R$ 150. Por todo o
processo de captação é pago,
em média, R$ 1.400.
Para Schlindwein, mesmo
que não esteja explícita na resolução nacional a proibição da
retirada de córneas inviáveis
para transplante, "isso deveria
estar claro para as equipes".
"É uma regra básica: não se
retira órgão ou tecido que não
será usado para transplante."
Segundo Schlindwein, a resolução que trata do assunto
passa por uma revisão de rotina
e poderá modificar alguns pontos para tornar a coleta de córneas mais criteriosa. Mas ele
afirma que já é "obrigação" das
equipes de captação ser extremamente criteriosas na triagem do doador. "Elas são pagas
para isso. Antes da retirada [da
córnea], tem que olhar o prontuário, inspecionar o corpo, ver
se não há marcas de drogas injetáveis ou de doenças que possam inviabilizar o transplante."
Schlindwein avalia que compete às vigilâncias sanitárias
estaduais fiscalizar se o processo de captação está correto.
Sobre a resolução do governo
paulista, considerada mais criteriosa pelo Ministério Público,
Schlindwein evitou comentá-la, alegando desconhecê-la,
mas diz que os Estados têm autonomia para aperfeiçoar resoluções nacionais.
Além das mudanças na captação de córneas, a legislação
paulista estabelece que a retirada de tecido para fins científicos deva ser previamente autorizada pela central de transplantes. Nessa hipótese, a família do doador será devidamente
esclarecida da finalidade da
doação -as córneas não poderão ser usadas para treinar
equipes.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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