São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Governo Lula pede desculpas e mantém Exército no Rio

Jobim foi ao morro da Providência, onde militares se envolveram na morte de 3 jovens

Ministro, que foi ao Rio após reunião com presidente, criticou os militares e definiu atuação dos 11 envolvidos como "abominável"

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, apresentou ontem, em nome do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desculpas formais pela morte de três rapazes do morro da Providência (centro do Rio), que, segundo um grupo de militares do Exército, foram entregues a traficantes como punição por tê-los desacatado. O pedido de desculpas foi feito durante reunião com moradores.
Jobim criticou publicamente a violência dos militares, alertou a tropa para que não responda a eventuais provocações e anunciou que a Força permanecerá no morro, apesar das críticas e do pedido de moradores para que deixassem o local.
Acompanhado do comandante do Exército, general Enzo Peri, o ministro definiu a atuação dos 11 militares -um tenente, três sargentos e sete soldados, todos presos- como "indesculpável", "abominável" e "desprezível". Jobim disse que o governo não tem dúvidas de que os acusados levaram os três jovens até os traficantes, que os torturaram e mataram.
Jobim foi ao Rio após encontro com o presidente Lula, que classificou o episódio de "gravíssimo". O presidente determinou a manutenção dos militares no local. Ordenou ainda que o caso seja tratado como um fato isolado.

"Fora Exército"
Jobim esteve no morro em duas oportunidades. À noite, voltou a se desculpar, dessa vez em público e diretamente às mães dos três jovens, reunidas em uma praça. Na saída, ouviu gritos de "fora Exército".
"Estamos afirmando a desculpa que pessoalmente já manifestamos. Nosso pesar pelo acontecimento e mostrando claramente que isso não vai se repetir", disse, após a reunião com representantes locais.
No encontro, Jobim disse que as obras do projeto batizado de Cimento Social, de recuperação das fachadas de 782 casas, continuará. Disse ainda que o Exército permanecerá na comunidade, como previsto. Desde o início das obras, planejadas pelo Batalhão de Engenharia do Exército, tropas dão segurança aos operários das firmas contratadas.
No sábado, ao amanhecer, David Wilson da Silva, 24, Wellington Gonzaga Ferreira, 19, e Marcos Paulo Campos, 17, foram detidos por militares no alto da favela, acusados de desacato. No quartel, o capitão que comandava a tropa naquele momento decidiu não autuá-los e determinou ao tenente Vinícius Ghidetti de Moraes Andrade, 25, que os liberasse.
O tenente descumpriu a ordem. Levou os rapazes até a Mineira, favela controlada pela facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), adversária do CV (Comando Vermelho), que atua no Providência. Ao ser preso, ele disse que agiu dessa forma para que os traficantes dessem uma surra nos jovens.


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