São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2010

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BARBARA GANCIA

Já vai tarde, Morumbi!


O monstrengo úmido e poroso que atravanca a vida do hospital já deveria ter sido varrido do mapa


QUE VERGONHA, São Paulo! Minha vontade é de me enfiar no fundo do buraco do Adhemar e nunca mais sair de lá!
Em vez de vir com esse "blá-blá-Blatter" de que não podemos gastar com um estádio para a Copa de 2014, o paulistano deveria atentar para sua vocação.
Somos o principal destino de congressos e feiras do país, da América do Sul e, quiçá, do hemisfério.
São Paulo é a única cidade do mundo a receber as duas principais categorias do automobilismo, a F-1 e a F-Indy. Temos, ainda, a parada gay com o maior número de festeiros sexualmente ativos do mundo, uma bienal de arte (ou meia bienal de arte, vá), uma mostra de cinema, uma orquestra sinfônica com uma senhora sala...
Até feira de golfe nós temos. Mas estádio de futebol que se preze, até agora, não tivemos competência para construir.
Como é que o paulista, sabedor de sua condição de Estado "arrimo de família", comandante da indústria e das finanças do país, poderia se contentar em fazer a abertura da Copa remendando um mocó bolorento feito o Morumbi?
Não estou zombando do são-paulino, pelo amor de Deus. O torcedor que frequenta o Morumbi bem sabe: aquele monstrengo úmido e poroso, com seus banheiros horríveis e seus estacionamentos fantasmas, que costuma alagar no verão, atravanca a vida de um hospital inteiro. E está, ainda, encravado no meio de uma área residencial altamente valorizada. Só por isso, já deveria ter sido varrido do mapa faz tempo.
Se em vez de os cartolas de sempre o SPFC tivesse gente ousada, já teria dinamitado aquela estátua do Borba Gato deitada e construído um empreendimento imobiliário.
Com o dinheiro, o time poderia procurar um outro local para fazer seu estádio, de preferência perto de uma rodovia na saída da cidade, com ônibus que levasse e trouxesse o torcedor. Coisa linda que não seria isso? Igualzinho ao estádio dos Dolphins em Miami, com salão acarpetado e tudo. Por que não?
O Pacaembu, muito simpático, que ficasse lá fiel à sua vocação de segunda ou terceira arena da cidade -de bico calado, num canto, junto ao Parque Antarctica, esse, de preferência, mudo.
Não é preciso ser nenhum Richard Branson misturado com Steve Jobs para ver que hoje vinga o modelo que une entretenimento, turismo e negócios e que São Paulo precisa de um novo grande estádio, como precisaria de um autódromo zero bala. Mas o que mais se ouviu nos últimos dias foi: "Devemos priorizar educação, saúde e transporte e não gastar com arena esportiva". Ora, ora! Precisamos sempre fazer tudo ao mesmo tempo e agora. Esse é o desafio de quem quer se afirmar. Se fosse pela timidez, as pirâmides, a Acrópole, o Taj Mahal, nada disso teria saído da prancheta.
O Brasil deixou de ser merreca. A gente precisa, sim, gastar uma nota comprando avião francês para proteger as fronteiras, pensar na possibilidade da bomba se queremos ser grandes e investir em complexo esportivo ao mesmo tempo em que ainda há quem conviva com esgoto a céu aberto.
O problema não é construir um novo complexo esportivo. O que não se pode é deixar que estádios sejam construídos com nosso tutu e, passada a festa, acabem ficando na mão dos clubes. Não é mesmo, Zé Dirceu e Andres Sanches?

barbara@uol.com.br

@barbaragancia



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