São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2010

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Ao contrário de nós, lendas ressuscitam

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Exatamente como seres vivos, lendas urbanas nascem, crescem, sofrem mutações, se reproduzem e finalmente morrem. Ao contrário de seres vivos ordinários, elas muitas vezes ressuscitam.
Podemos distinguir várias categorias de lendas. As mais elaboradas, como a que circulou no Campo Limpo, são narrativas com personagens e enredo. Costumam misturar elementos de suspense, terror e até algum humor.
Frequentemente funcionam como histórias de advertência e carregam uma moral. Podem trazer bons resultados. Após terem ouvido os terríveis relatos do carro preto que sequestra crianças, meus filhos pararam de sair correndo à minha frente no percurso para a escola.
Uma explicação engenhosa para o mecanismo pelo qual lendas urbanas "vivem" foi proposto pelo biólogo Richard Dawkins em 1976. São os polêmicos memes, unidades de informação cultural capazes de propagar-se entre mentes humanas de modo análogo àquele pelo qual genes se perpetuam em seres vivos. Exemplos emblemáticos são, além das lendas urbanas, a tecnologia, piadas, factoides e até a religião, considerada como um complexo de memes.
Como pode uma ideia, que é imaterial, reproduzir-se como organismos biológicos? Para os evolucionistas, esse não é um problema. Vírus de computador não têm material biológico e se espalham mais rápido do que moléstias. Ideias, afinal, têm em comum com genes características fundamentais da evolução: variação, competição e possibilidade de ter mais ou menos sucesso reprodutivo. Afinal, só as melhores histórias são recontadas ou dignas de receber um "forward" (encaminhar) no computador.


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