|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO
Agentes da mudança no país
SILVIO CACCIA BAVA
Hoje, às 16h, estarão se encontrando na av. Paulista caravanas
do movimento dos trabalhadores
sem terra, dos movimentos populares urbanos, de trabalhadores
urbanos sindicalizados e cidadãos
que se somarão ao ato, em defesa
de seus direitos perante as políticas de exclusão social e o autoritarismo do governo FHC.
A indignação os mobiliza. Sentem na pele a piora da qualidade de
vida. O aumento do custo de vida
durante a vigência do Plano Real
foi, até agora, de 112%. As tarifas
de ônibus subiram 92%. Os serviços aumentaram 205%. As mensalidades escolares subiram 145%, e
os planos de saúde, 122%. E o salário mínimo, as aposentadorias e as
pensões? Subiram 20%.
Todos sabemos que a educação
qualifica o trabalhador e melhora
seu salário. Quase ninguém sabe
que o governo, de 1995 para 1996,
cortou 12,25% das verbas para a
educação. Cortou também 16,3%
das verbas para saúde.
O gasto público social não só tem
efeitos benéficos sobre a pobreza e
a desigualdade, mas tem também
importância estratégica para o
crescimento econômico e a geração de empregos. É possível e eticamente necessário ampliá-lo.
Mas não é esse o compromisso
do governo, que aponta a distribuição de renda como um dos resultados do Plano Real, porque os
50% mais pobres aumentaram sua
fatia na renda nacional de 11,3%
para 12,2% de 94 para 95. Deixou
de dizer que essa fatia, em 93, era
de 12,5% e, em 91, era de 13,6%.
Em 96, foram R$ 14,4 bilhões
gastos com a saúde de 150 milhões
de brasileiros e R$ 14,9 bilhões
com o Proer, para cuidar da saúde
de nem uma dúzia de bancos em
dificuldades.
É um governo de continuidade,
não de reformas sociais. Seu presidente declara que só a partir de
2010 poderá melhorar as condições sociais da população. É um
modelo que aprofunda a exclusão
social, gera desemprego, rebaixa
os salários, corta os recursos para
as políticas sociais, provoca a desagregação do tecido social e a violência, destrói os espaços públicos
de negociação e tenta desqualificar
todos os movimentos sociais que
se opõem a essas políticas.
Tudo isso em nome da inserção
subordinada do Brasil ao mercado
globalizado. Como se não houvesse alternativas para o desenvolvimento.
Por tudo isso é preciso valorizar
os movimentos que hoje se reúnem aqui em São Paulo e em outras capitais. Lutar por emprego,
salário, educação, saúde, moradia,
transportes continua sendo a melhor maneira de contribuir para o
desenvolvimento deste país.
Silvio Caccia Bava, 47, é sociólogo, diretor do
Instituto Pólis e presidente da Associação Brasileira de ONGs (Abong).
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|