São Paulo, sexta, 18 de julho de 1997.



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OPINIÃO
Agentes da mudança no país

SILVIO CACCIA BAVA

Hoje, às 16h, estarão se encontrando na av. Paulista caravanas do movimento dos trabalhadores sem terra, dos movimentos populares urbanos, de trabalhadores urbanos sindicalizados e cidadãos que se somarão ao ato, em defesa de seus direitos perante as políticas de exclusão social e o autoritarismo do governo FHC.
A indignação os mobiliza. Sentem na pele a piora da qualidade de vida. O aumento do custo de vida durante a vigência do Plano Real foi, até agora, de 112%. As tarifas de ônibus subiram 92%. Os serviços aumentaram 205%. As mensalidades escolares subiram 145%, e os planos de saúde, 122%. E o salário mínimo, as aposentadorias e as pensões? Subiram 20%.
Todos sabemos que a educação qualifica o trabalhador e melhora seu salário. Quase ninguém sabe que o governo, de 1995 para 1996, cortou 12,25% das verbas para a educação. Cortou também 16,3% das verbas para saúde.
O gasto público social não só tem efeitos benéficos sobre a pobreza e a desigualdade, mas tem também importância estratégica para o crescimento econômico e a geração de empregos. É possível e eticamente necessário ampliá-lo.
Mas não é esse o compromisso do governo, que aponta a distribuição de renda como um dos resultados do Plano Real, porque os 50% mais pobres aumentaram sua fatia na renda nacional de 11,3% para 12,2% de 94 para 95. Deixou de dizer que essa fatia, em 93, era de 12,5% e, em 91, era de 13,6%.
Em 96, foram R$ 14,4 bilhões gastos com a saúde de 150 milhões de brasileiros e R$ 14,9 bilhões com o Proer, para cuidar da saúde de nem uma dúzia de bancos em dificuldades.
É um governo de continuidade, não de reformas sociais. Seu presidente declara que só a partir de 2010 poderá melhorar as condições sociais da população. É um modelo que aprofunda a exclusão social, gera desemprego, rebaixa os salários, corta os recursos para as políticas sociais, provoca a desagregação do tecido social e a violência, destrói os espaços públicos de negociação e tenta desqualificar todos os movimentos sociais que se opõem a essas políticas.
Tudo isso em nome da inserção subordinada do Brasil ao mercado globalizado. Como se não houvesse alternativas para o desenvolvimento.
Por tudo isso é preciso valorizar os movimentos que hoje se reúnem aqui em São Paulo e em outras capitais. Lutar por emprego, salário, educação, saúde, moradia, transportes continua sendo a melhor maneira de contribuir para o desenvolvimento deste país.


Silvio Caccia Bava, 47, é sociólogo, diretor do Instituto Pólis e presidente da Associação Brasileira de ONGs (Abong).



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