São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HABITAÇÃO

Após ficarem desempregados, dois mineiros e um pernambucano passaram a viver em grutas na zona sul da cidade

Rio abriga homens da caverna do século 21

MARCELO BORTOLOTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Eles moram na zona sul do Rio de Janeiro e, do alto de suas moradias, têm acesso a vistas privilegiadas, como as praias do Leblon, de Ipanema e do Arpoador, o Pão de Açúcar, a Pedra Bonita ou a Pedra da Gávea. Não desembolsam um centavo por isso, mas, em compensação, pagam o preço de viver sem infra-estrutura. Em pleno século 21, são três moradores de cavernas.
O mineiro Mário Lúcio Mendes, 43, conhecido como Rambo, mora na Rocinha, favela de São Conrado, que, de acordo com o Censo de 2000 do IBGE, tem 56.338 habitantes. Sua caverna possui cama de casal, geladeira, fogão e um exaustor para que o ar circule ali dentro.
Próximo dele, no vizinho morro do Vidigal, o também mineiro Francisco Couto, 70, é um dos 13.719 moradores da favela. Chico da Pedra, como é conhecido, mudou há 18 anos para uma pequena gruta. O lugar tem luz elétrica e até endereço para correspondência, mas a água tem que ser armazenada em latas no quintal.
O terceiro homem das cavernas vive mais isolado. Severino Gomes, 53, nascido em Pernambuco, mora há 25 anos no meio da mata, sem energia elétrica nem água encanada, no pé do Pão de Açúcar, no bairro da Urca.
Estes três personagens do Rio têm algo em comum: foram morar em cavernas ao ficarem desempregados.
Grutas e cavernas são tidas -ao lado de ruas e viadutos- como "moradias improvisadas", onde de acordo com o Censo, estão cerca de 0,5% dos domicílios no país.


Texto Anterior: Azulejos são atrativo em necrotério
Próximo Texto: "Não gosto de compromissos"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.