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Suzane diz ter obedecido a ordens de Daniel
Em seu depoimento no Tribunal do Júri, ré atacou toda a família do ex-namorado
Ela pronunciou 15 vezes a palavra "obedeci" e disse que pagava despesas do rapaz, como prestação de carro e presentes que ele lhe dava
DA REPORTAGEM LOCAL
Suzane von Richthofen atacou toda a família Cravinhos
em seu depoimento no 1º Tribunal do Júri, no fórum da Barra Funda, no primeiro dia do
julgamento em que ela, Daniel
e Cristian Cravinhos constam
como réus pelo assassinato de
Manfred e Marísia von Richthofen. "É uma pena que eu não
tenha me afastado antes daquela família, como queria minha
mãe", disse a garota.
Suzane abriu seu depoimento, às 19h50, dizendo: "Vou
contar minha história, minha
vida". Falou até 23h30 e pronunciou 15 vezes a palavra
""obedeci", referindo-se a ordens que teriam vindo de Daniel e que ela acatou.
A escolha do verbo não foi casual. Suzane colocou em relevo
a imagem de escrava, de mulherzinha manipulada por um
Daniel e familiares que estariam o tempo inteiro mais interessados em se aproveitar do
dinheiro da família Richthofen.
O relato de
Suzane foi
pródigo em
detalhes sobre contas
que Suzane
pagou para o
namorado.
"Ele não chegava a pedir,
mas era só insinuar que
gostaria muito de ter alguma coisa que
eu imediatamente corria
para atender", disse.
"Até os presentes que ele
dava para
mim era eu
quem bancava", explicou. Na
platéia, o pai do jovem, Astrogildo Cravinhos, meneava a cabeça em sinal de desacordo.
No rol de benefícios que a jovem diz ter dado a Daniel estão
viagens do casal, entrada e
prestações do carro de Daniel,
presentes para a família e para
a casa dos Cravinhos, óculos,
TV, aquário, peixes ornamentais. "Tudo era eu quem pagava", disse a garota.
Trajando sapatos de camurça, calça bege e casaco azul claro com listras brancas, Suzane
expressou-se com voz firme,
português correto. Estava algemada.
Ponto forte do depoimento
foi o referente ao planejamento
e à autoria intelectual do crime.
Suzane disse que, pelo menos
três meses antes do crime, Daniel desenvolveu o hábito de
comentar com a namorada como ""a vida seria melhor" sem
os pais da menina. "Um dia, a
gente estava na beira da piscina
e ia passando um avião. Daniel
olhou para ele e me pediu para
imaginar como a gente seria
muito mais feliz se o avião caísse e os meus pais morressem",
afirmou. Segundo a jovem, essas conversas aconteciam sempre que ela e ele estavam ""maconhados".
Suzane tentou desvencilhar-se da imagem de pessoa fria e
manipuladora. Segundo ela, a
idéia do crime só surgiu na segunda-feira, 28 de outubro de
2002, quando Daniel apareceu
dizendo: que ""tinha chegado a
hora", que ""era hora de meus
pais viajarem definitivamente". Suzane disse que entrou
em pânico, que isso não poderia
acontecer. Chorou e Daniel teria concordado com ela. "Calma, não é nada, esquece", o rapaz teria dito.
Na quarta-feira, contudo, o
rapaz teria telefonado pedindo
que Suzane providenciasse luvas cirúrgicas. Ao chegar à casa
dos Cravinhos, e depois de fumar um tanto de maconha, hábito em que ela teria sido introduzida por Daniel, foram, os
dois -ela e Daniel-, encontrar-se com Cristian, que esperava por eles em uma lan house
(a mesma em que o irmão dela,
Andreas, tinha sido deixado
momentos antes). Nessa hora,
Daniel teria avisado a ela: "Chegou a hora".
Os três foram à casa da família Richthofen no carro de Suzane -"eu dirigia a meio quilômetro por hora, de tão desnorteada que estava por causa da
maconha". Lá
chegando,
disse ela, subiu para ver se
os pais estavam dormindo. Daniel teria mandado
que ela voltasse para carregar os irmãos
no colo até o
quarto dos
pais. O objetivo era evitar
rastros que
comprometessem os jovens.
Durante toda a execução
do crime, Suzane permaneceu na biblioteca da casa, no
térreo. Diz não ter ouvido nem
visto nada.
O depoimento de Suzane
tentou responder a várias questões surgidas desde o crime.
Uma arma Beretta, encontrada
dentro de um urso de pelúcia e
apresentada pelo promotor Roberto Tardelli como sendo dela
-o que comprovaria a intenção
da jovem de matar os pais por
quaisquer meios que fossem-
ganhou nova versão. Nela, a arma foi dada por Daniel ao irmão de Suzane, Andreas von
Richthofen, que se dedicava ao
hobby de matar passarinhos.
Quando a arma foi descoberta pelo tio de Suzane, Miguel
Abdalla, o irmão colocou a culpa em Suzane, já presa. Segundo a jovem, ao interrogar Andreas sobre por que a acusara
de algo que ele tinha feito, o
menino teria respondido: "Porque sim. Quem vai acreditar em
você?"
Após o final do primeiro dia
de trabalho, Suzane foi levada
para passar a noite no 89º DP
(Portal do Morumbi). Os irmãos Cravinhos seguiram para
o 2º DP (Bom Retiro).
O julgamento será retomado
hoje às 10h.
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