São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Suzane diz ter obedecido a ordens de Daniel

Em seu depoimento no Tribunal do Júri, ré atacou toda a família do ex-namorado

Ela pronunciou 15 vezes a palavra "obedeci" e disse que pagava despesas do rapaz, como prestação de carro e presentes que ele lhe dava


DA REPORTAGEM LOCAL

Suzane von Richthofen atacou toda a família Cravinhos em seu depoimento no 1º Tribunal do Júri, no fórum da Barra Funda, no primeiro dia do julgamento em que ela, Daniel e Cristian Cravinhos constam como réus pelo assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen. "É uma pena que eu não tenha me afastado antes daquela família, como queria minha mãe", disse a garota.
Suzane abriu seu depoimento, às 19h50, dizendo: "Vou contar minha história, minha vida". Falou até 23h30 e pronunciou 15 vezes a palavra ""obedeci", referindo-se a ordens que teriam vindo de Daniel e que ela acatou.
A escolha do verbo não foi casual. Suzane colocou em relevo a imagem de escrava, de mulherzinha manipulada por um Daniel e familiares que estariam o tempo inteiro mais interessados em se aproveitar do dinheiro da família Richthofen.
O relato de Suzane foi pródigo em detalhes sobre contas que Suzane pagou para o namorado. "Ele não chegava a pedir, mas era só insinuar que gostaria muito de ter alguma coisa que eu imediatamente corria para atender", disse.
"Até os presentes que ele dava para mim era eu quem bancava", explicou. Na platéia, o pai do jovem, Astrogildo Cravinhos, meneava a cabeça em sinal de desacordo.
No rol de benefícios que a jovem diz ter dado a Daniel estão viagens do casal, entrada e prestações do carro de Daniel, presentes para a família e para a casa dos Cravinhos, óculos, TV, aquário, peixes ornamentais. "Tudo era eu quem pagava", disse a garota.
Trajando sapatos de camurça, calça bege e casaco azul claro com listras brancas, Suzane expressou-se com voz firme, português correto. Estava algemada.
Ponto forte do depoimento foi o referente ao planejamento e à autoria intelectual do crime. Suzane disse que, pelo menos três meses antes do crime, Daniel desenvolveu o hábito de comentar com a namorada como ""a vida seria melhor" sem os pais da menina. "Um dia, a gente estava na beira da piscina e ia passando um avião. Daniel olhou para ele e me pediu para imaginar como a gente seria muito mais feliz se o avião caísse e os meus pais morressem", afirmou. Segundo a jovem, essas conversas aconteciam sempre que ela e ele estavam ""maconhados".
Suzane tentou desvencilhar-se da imagem de pessoa fria e manipuladora. Segundo ela, a idéia do crime só surgiu na segunda-feira, 28 de outubro de 2002, quando Daniel apareceu dizendo: que ""tinha chegado a hora", que ""era hora de meus pais viajarem definitivamente". Suzane disse que entrou em pânico, que isso não poderia acontecer. Chorou e Daniel teria concordado com ela. "Calma, não é nada, esquece", o rapaz teria dito.
Na quarta-feira, contudo, o rapaz teria telefonado pedindo que Suzane providenciasse luvas cirúrgicas. Ao chegar à casa dos Cravinhos, e depois de fumar um tanto de maconha, hábito em que ela teria sido introduzida por Daniel, foram, os dois -ela e Daniel-, encontrar-se com Cristian, que esperava por eles em uma lan house (a mesma em que o irmão dela, Andreas, tinha sido deixado momentos antes). Nessa hora, Daniel teria avisado a ela: "Chegou a hora".
Os três foram à casa da família Richthofen no carro de Suzane -"eu dirigia a meio quilômetro por hora, de tão desnorteada que estava por causa da maconha". Lá chegando, disse ela, subiu para ver se os pais estavam dormindo. Daniel teria mandado que ela voltasse para carregar os irmãos no colo até o quarto dos pais. O objetivo era evitar rastros que comprometessem os jovens.
Durante toda a execução do crime, Suzane permaneceu na biblioteca da casa, no térreo. Diz não ter ouvido nem visto nada.
O depoimento de Suzane tentou responder a várias questões surgidas desde o crime. Uma arma Beretta, encontrada dentro de um urso de pelúcia e apresentada pelo promotor Roberto Tardelli como sendo dela -o que comprovaria a intenção da jovem de matar os pais por quaisquer meios que fossem- ganhou nova versão. Nela, a arma foi dada por Daniel ao irmão de Suzane, Andreas von Richthofen, que se dedicava ao hobby de matar passarinhos.
Quando a arma foi descoberta pelo tio de Suzane, Miguel Abdalla, o irmão colocou a culpa em Suzane, já presa. Segundo a jovem, ao interrogar Andreas sobre por que a acusara de algo que ele tinha feito, o menino teria respondido: "Porque sim. Quem vai acreditar em você?"
Após o final do primeiro dia de trabalho, Suzane foi levada para passar a noite no 89º DP (Portal do Morumbi). Os irmãos Cravinhos seguiram para o 2º DP (Bom Retiro).
O julgamento será retomado hoje às 10h.


Texto Anterior: Daniel diz que Suzane tinha vários planos para o crime
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.