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Ameaça faz agente dormir no presídio
Com medo de ser assassinado -sua morte está encomendada por R$ 950-, trabalhador não vê a família há mais de uma semana
De acordo com sindicato
da categoria, situações parecidas ocorrem em ao menos quatro unidades prisionais da capital paulista
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A morte do agente penitenciário Bernardo (nome fictício), 40, vale R$ 950 entre os
criminosos de um bairro pobre
da zona norte de São Paulo. Por
isso, a sala de um CDP (Centro
de Detenção Provisória) da zona leste se tornou, há mais de
uma semana, a nova casa dele.
"Se eu voltar [para a casa da família], é para morrer."
Bernardo não está só, segundo o Sifuspesp (Sindicato dos
Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo).
O fenômeno de agentes que
passam a viver nas prisões
ocorre em pelo menos quatro
unidades prisionais da capital.
Desde o dia 12 de maio, 15 deles
foram assassinados no Estado,
em ações atribuídas ao PCC.
Há 12 anos no sistema prisional, casado, pai de três filhos,
salário de R$ 1.800 mensais, o
agente disse nunca ter se sentido tão ameaçado. "Você fica
longe da família, longe da mulher, não pode voltar para a sua
casa, enquanto o bandido faz o
que quer."
Ele soube no último dia 6,
por meio de um amigo, que se
tornara alvo dos criminosos.
"Um conhecido meu ouviu
quando dois homens do PCC
conversavam com alguém, provavelmente da prisão, por celular. Eles disseram que havia
dois agentes na área e que era
para "fazer a cena" [matar]." O
informante estava em uma lotação na zona norte.
No dia seguinte, sexta, outro
amigo o avisou: o bairro estava
com integrantes do PCC à caça
da "malandragem", criminosos
locais. Buscavam identificar a
casa de agentes penitenciários
moradores da região. Os R$
950 eram o quanto a facção pagaria pelo assassinato. Ele soube por celular quando estava no
"bico" -faz segurança para um
estabelecimento comercial.
"Nem voltei para casa."
Aquela foi a última vez que
Bernardo foi à casa onde vive
há 12 anos. Pediu autorização
para a direção da unidade e se
mudou, com um pacote de roupas, pasta e escova de dentes,
toalha, sapato e um colchonete,
para o CDP. Ele dorme sobre
uma mesa improvisada com
um colchonete. Às vezes, em
um sofá. Toma banho no vestiário da prisão e faz as refeições lá mesmo. Embora seja
proibido de fazê-lo, Bernardo
anda armado. Ele não faz idéia
de quando voltará para casa.
Mais seguros
O sindicato dos agentes não
fala em números ("questão de
segurança"), mas diz não serem
poucos os casos de agentes confinados em unidades prisionais. "Em boa parte das unidades, os funcionários têm mais
segurança dentro das cadeias
do que fora delas", afirma Luiz
da Silva Filho, diretor do Sifuspesp. A direção das unidades
não oferece resistências, avalia
ele, porque vê como vantajosa a
presença de um agente a mais
para fazer o trabalho.
Outras medidas tomadas comumente pelos agentes no período sob ameaça são enviar a
família para casa de parentes e
trocar de casa. "Estão metralhando várias casas de agentes.
Não vou falar a cidade para evitar problemas futuros, mas
acontece."
A Folha procurou a Secretaria da Administração Penitenciária, mas a pasta informou,
por meio da assessoria, não saber oficialmente de agentes
que dormem nas unidades.
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