São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Controladores dizem ter pedido fechamento de pista

Entidades criticam entrega da pista do aeroporto sem que a reforma estivesse pronta

Pista voltou a ser usada no último dia 29 mesmo sem as ranhuras que garantiriam o escoamento da água e a aderência dos pneus ao solo

DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO

Os controladores de tráfego aéreo da torre de Congonhas disseram ontem ter pedido o fechamento da pista principal durante as chuvas, como a que caía anteontem. O alerta teria ocorrido segunda, depois que um avião da Pantanal derrapou na mesma pista que o da TAM.
Oficiais da Força Aérea e autoridades da Infraero (estatal que administra os aeroportos) negaram o pedido por entender que não havia perigo.
"Os operadores da torre avisaram que a pista principal deveria ser fechada porque estava sem o "grooving" [ranhuras que garantiriam o escoamento da água e uma maior aderência dos pneus ao solo], mas ninguém no governo quer saber de nada", reclamou Sérgio Oliveira, presidente da Federação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo.
Depois de uma reforma que custou R$ 20 milhões, a pista voltou a ser utilizada no último dia 29 sem o "grooving".
Por conta das condições da pista, o acidente de ontem foi uma "tragédia anunciada", segundo Carlos Camacho, diretor de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas e ex-comandante da Varig.
Congonhas já vinha tendo suas condições de segurança postas em xeque desde o ano passado, quando a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) determinou a suspensão de operações quando houvesse 3 mm de água nas pistas.
Essa norma passou a ser aplicada com freqüência a partir de dezembro do ano passado.
A drenagem da pista se mostrava insuficiente para escoar a água da chuva, problema que só será solucionado com a conclusão da reforma.
Ontem, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), não houve chuvas fortes nas imediações do aeroporto. O órgão registrou 7,9 mm na Vila Mariana e 2 mm no Jabaquara. Cada mm equivale a um litro de água por m2.
As ranhuras, de acordo com a Infraero, devem começar a ser feitas somente no dia 25, depois do período para assentamento da pavimentação.
O presidente do Sinpac (Sindicato Nacional dos Pilotos da Aviação Civil), Hugo Stringuini, que anteontem alertava para a suposta precariedade das pistas, afirmou ontem que é ""muito provável" que tenha ocorrido uma derrapagem.
""É provável, pelas condições, com a chuva, que tenha acontecido o mesmo que ocorreu com o avião da Pantanal, só que com o Airbus, que é uma aeronave muito maior", disse Stringuini.
Ele defende que Congonhas seja interditado para operação comercial com aviões de médio e grande portes. "Agora é uma questão de segurança pública", afirmou Stringuini.
Ele disse que o aeroporto jamais seria homologado por associações internacionais de segurança de vôo sérias.
"Numa seqüência muito próxima de datas ocorrem incidentes e acidentes que pessoas até mesmo leigas podem ver que ali não tem mais condições de operar", disse o piloto.
O Sindicato Nacional dos Aeronautas, de acordo com Célio Eugênio, membro da Secretaria de Segurança de Vôo do sindicato, quer participar da investigação do caso. Porém, não havia sido procurado até ontem pelos órgãos envolvidos.

Hipóteses
Para Camacho, há duas hipóteses. Na primeira, o avião nem chegou a tocar o solo antes de tentar arremeter -voltar a subir- a aeronave.
Na segunda, ao pousar, a aeronave derrapou, e, com isso, o piloto tentou voar novamente. Como o avião não estaria em velocidade suficiente para decolar, só teve embalo para cruzar a avenida Washington Luís e, depois, bater no prédio.

Justiça
Em fevereiro deste ano, após uma série de pequenos acidentes, a Justiça Federal chegou a interditar o aeroporto de Congonhas para aeronaves de maior porte, como o Fokker 100 e os Boeings 737-700 e 727-800, em razão de falta de segurança para operações.
Também no início do ano, a Anac e a Infraero estudavam ampliar o tamanho da pista auxilia, que passou por reformas, em mais 50 m ou 100 m. O objetivo era dar condições para a pista receber grandes aviões, como os Airbus 320, igual ao envolvido no acidente de ontem, e 330.


Texto Anterior: Presidente decreta luto oficial de três dias no país
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.