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Blitz flagra falta de higiene na merenda
Relatórios de fiscalização apontam que em escolas da Prefeitura de São Paulo há alimento vencido e pombos em refeitórios
Problemas foram achados tanto nas escolas onde as merendas são feitas por servidores como naquelas onde o serviço é terceirizado
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa escola, a marmita de
plástico da merendeira era
aquecida em cima do arroz dos
alunos. Em outras, havia carne
vencida, frutas estragadas na
cozinha e pombos no refeitório.
Relatórios das blitze realizadas nos últimos quatro meses
pelo órgão que fiscaliza as merendas revelam a má qualidade
de alguns alimentos e a falta de
higiene em várias escolas da
Prefeitura de São Paulo.
As vistorias foram feitas pelo
CAE (Conselho de Alimentação Escolar), órgão oficial formado por pais, professores e
servidores -que voltou a fiscalizar a merenda na capital paulista após ter ficado praticamente parado no ano passado.
Segundo 40 relatórios aos
quais a Folha teve acesso e que
já foram entregues à gestão
Gilberto Kassab (DEM), a comida por vezes vem fria e com
falta de recheio no pão. Há legumes e frutas "passados", macarrão "borrachudo" e cereal
para crianças "muito duro".
Os problemas foram encontrados tanto nas escolas onde
as merendas são feitas por servidores como naquelas em que
o serviço é terceirizado.
Os relatórios mostram que
os problemas apontados pela
Folha em 2007 não foram sanados, ao contrário do que dizem as empresas. Em 38 das 40
escolas foi apontada alguma falha no serviço (em 15% delas a
merenda não era terceirizada).
Às vezes, são detalhes, como
falta de vedação adequada do
freezer e utensílios de cozinha
quebrados. Mas, em mais de
um terço, problemas estão ligados às condições de higiene ou
à qualidade dos alimentos.
Seis empresas prestam serviço em São Paulo: Convida, Nutriplus, SP Alimentação, Terra
Azul, Sistal e Geraldo J Coan.
Todas são investigadas pelo
Ministério Público por suspeita de conluio na concorrência
pública e de superfaturamento
de preços, além de má qualidade dos serviços. Elas negam.
Nesta semana, tiveram seus
contratos (que, num ano, passam de R$ 250 milhões) prorrogados por 15 dias pela prefeitura, que não conseguiu concluir nova licitação.
Equipamento quebrado
Nas vistorias, conselheiros
do órgão recolheram indícios
de que nem algumas merendeiras gostam da merenda.
Na Emef Dom Paulo Rolim
Loureiro, na zona leste, a marmita de plástico misturada ao
arroz pertencia a uma cozinheira que se dizia cansada de
comer na escola, conforme relatou aos membros do CAE.
Em outra escola, havia coxinhas congeladas na geladeira
(produto que não faz parte do
cardápio, mas que havia sido levado por algum funcionário).
No quesito limpeza, a fiscalização do CAE também identificou flagrantes de falta de luva e
touca pelas merendeiras (nesse
caso, inclusive em escolas sem
merenda terceirizada), falta de
higienização da geladeira e ausência de telas de proteção.
As vistorias também verificaram falta de infraestrutura adequada -como coifas e torneiras
elétricas quebradas. Algumas
empresas afirmam que esses
equipamentos não são obrigatórios. Já a prefeitura declara
ter aplicado multas.
A presidente do órgão de fiscalização, Margarida Prado Genofre, representante da Aprofem (sindicato dos professores
e funcionários), avalia que tudo
precisa ser corrigido com urgência, mas que não classifica
os problemas como "gritantes".
O vice-presidente, Alfredo
Ramon Richter, representante
dos pais, afirma que "não há cabimento" em diversas falhas.
"Imagine uma marmita de
plástico, que você segura com a
mão, misturada no arroz dos
alunos. Você gostaria que seu
filho comesse essa merenda?"
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