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ANÁLISE
O bom-senso agora é não contar
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Quando o número de pessoas
infectadas pela gripe aumenta
muito, como é o caso do Brasil
e, em especial, do Rio Grande
do Sul, deixa de fazer sentido
documentar e contabilizar cada
episódio de transmissão.
Há duas semanas o Ministério da Saúde divulgou novas e
mais restritas diretrizes para a
realização dos exames laboratoriais que confirmam se o quadro gripal do paciente foi ou
não causado pelo novo subtipo
do vírus A H1N1.
Ontem foi a vez de a OMS
(Organização Mundial de Saúde) anunciar que estava desistindo de fazer a contabilidade
caso a caso da pandemia. Segundo a organização, países
com transmissão sustentada
como o Brasil não devem mais
desperdiçar preciosos recursos
com a prática.
Não há aí muito mais do que
bom-senso. Além de a contagem ser uma tarefa fadada ao
fracasso, uma tentativa de enxugar gelo, ela não acrescenta
muita informação relevante.
Complicações gripais devem
ser tratadas como tal quer sejam provocadas pelo novo
H1N1 ou por qualquer outra cepa do vírus. A população de
maior risco precisa receber as
drogas antivirais, daí a importância de deixar claro quem é
esse grupo e orientá-lo a procurar os serviços de saúde.
O agravamento da epidemia
também deve modificar o modo pelo qual se olham para as
estatísticas. O número de casos
notificados já deixou de ser um
indicador importante.
Boa parte das pessoas acometidas por gripes não procura
um serviço de saúde senão em
último caso, e nem todos os
médicos as encaminham para
os testes laboratoriais. Embora
um atraso no início do tratamento possa revelar-se fatal
em certas situações, a alternativa seria ainda pior: se todos
procurassem um hospital ao
menor sinal de gripe, os serviços de emergência se veriam
paralisados -o que provocaria
incontáveis mortes.
Diante desse fenômeno, conhecido como subnotificação,
não dá mais para calcular taxas
de letalidade simplesmente dividindo o cêntuplo dos óbitos
pelo total de casos registrados.
Na verdade, faz mais sentido
usar a taxa de letalidade
-apontada pela OMS como de
0,45%- para, a partir das mortes verificadas num país ou Estado, estimar o total de casos.
Por esse raciocínio, o Rio
Grande do Sul, com seus sete
óbitos, teria algo como 1.500 infectados e não apenas 134 como
indicam os registros oficiais.
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