São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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ANÁLISE

O bom-senso agora é não contar

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quando o número de pessoas infectadas pela gripe aumenta muito, como é o caso do Brasil e, em especial, do Rio Grande do Sul, deixa de fazer sentido documentar e contabilizar cada episódio de transmissão.
Há duas semanas o Ministério da Saúde divulgou novas e mais restritas diretrizes para a realização dos exames laboratoriais que confirmam se o quadro gripal do paciente foi ou não causado pelo novo subtipo do vírus A H1N1.
Ontem foi a vez de a OMS (Organização Mundial de Saúde) anunciar que estava desistindo de fazer a contabilidade caso a caso da pandemia. Segundo a organização, países com transmissão sustentada como o Brasil não devem mais desperdiçar preciosos recursos com a prática.
Não há aí muito mais do que bom-senso. Além de a contagem ser uma tarefa fadada ao fracasso, uma tentativa de enxugar gelo, ela não acrescenta muita informação relevante. Complicações gripais devem ser tratadas como tal quer sejam provocadas pelo novo H1N1 ou por qualquer outra cepa do vírus. A população de maior risco precisa receber as drogas antivirais, daí a importância de deixar claro quem é esse grupo e orientá-lo a procurar os serviços de saúde.
O agravamento da epidemia também deve modificar o modo pelo qual se olham para as estatísticas. O número de casos notificados já deixou de ser um indicador importante.
Boa parte das pessoas acometidas por gripes não procura um serviço de saúde senão em último caso, e nem todos os médicos as encaminham para os testes laboratoriais. Embora um atraso no início do tratamento possa revelar-se fatal em certas situações, a alternativa seria ainda pior: se todos procurassem um hospital ao menor sinal de gripe, os serviços de emergência se veriam paralisados -o que provocaria incontáveis mortes.
Diante desse fenômeno, conhecido como subnotificação, não dá mais para calcular taxas de letalidade simplesmente dividindo o cêntuplo dos óbitos pelo total de casos registrados. Na verdade, faz mais sentido usar a taxa de letalidade -apontada pela OMS como de 0,45%- para, a partir das mortes verificadas num país ou Estado, estimar o total de casos.
Por esse raciocínio, o Rio Grande do Sul, com seus sete óbitos, teria algo como 1.500 infectados e não apenas 134 como indicam os registros oficiais.


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