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Professor vira alvo de chacota e ofensa de aluno na internet
Por causa de uma nota baixa ou por pura implicância, estudante usa site para humilhar o mestre em público
Docentes costumam ficar calados, segundo sindicatos, porque as escolas tendem a tomar partido dos estudantes
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
Faça uma pesquisa no Orkut com "odeio" e "professor", e surgirão mais de mil
grupos de discussão.
A lista terá comunidades
aparentemente inofensivas
-como "Odeio a voz do meu
professor"-, mas também
incluirá outras raivosas e
com nome da vítima -como
"Odeio a professora Etiene".
"Primeiro, fiquei chocada.
Depois, senti vergonha, tristeza. Chorei", diz Etiene Selbach, 43, professora de educação física num colégio particular de Porto Alegre.
A comunidade havia sido
criada por um grupinho de
alunas de 13 anos após serem
repreendidas numa aula.
Ao lado de uma foto de
Etiene riscada com um xis, as
meninas escreviam com deboche sobre o corpo, o cabelo
e até as roupas dela.
Etiene foi uma vítima do
"bullying". No ambiente escolar, o "bullying" sempre
foi associado àquele aluno
valentão infernizando a vida
do colega mais fraco. A novidade é que ele agora ataca o
professor. E pela internet.
Estudo do Sinpro (sindicato de mestres) do Rio Grande
do Sul mostra que, a cada
quatro professores gaúchos,
um já sofreu agressão na internet. Os motivos: o aluno tirou nota baixa, incomodou-se com um trejeito do professor ou simplesmente não foi
com a cara dele.
"Alguns alunos acham
que não passa de brincadeira. Outros creem que estão
anônimos na internet", diz o
delegado Pedro Marques, da
Delegacia contra Crimes Cibernéticos de Minas Gerais.
Calúnia, difamação e injúria são crimes. Quando o autor é maior de idade, pode ser
condenado à prisão. Quando
menor, ser advertido ou, em
caso grave, internado em entidade como a antiga Febem.
Em 2008, os pais de um
grupo de alunos de um colégio particular de Rondônia
foram sentenciados a pagar
R$ 15 mil por danos morais a
um professor de matemática
vítima de chacota no Orkut.
DEMISSÃO
O "bullying" também está
no ensino superior. Roberta
(nome fictício), 41, professora de jornalismo numa faculdade privada no interior de
Minas, foi alvo dos desabafos
de um estudante de 24 anos.
"No Orkut, ele me chamava de velha e dissimulada.
Apareceu gente escrevendo
que eu era uma oferenda que
deveria voltar para o mar. Fiquei perturbada", conta.
"Aquela figura do mestre,
um profissional que merece
respeito, não existe mais."
Ao fim do ano letivo, os
três professores citados nesta
reportagem foram demitidos. "A escola vê o aluno como cliente. Não quer perdê-lo", diz Maria das Graças de
Oliveira, do Sinpro de Minas.
Por essa razão, muitos professores preferem calar-se
diante dos ataques psicológicos cometidos pelos alunos.
Para Telma Brito Rocha,
pesquisadora da Universidade Federal da Bahia que estuda o "cyberbullying" contra
professores, as escolas precisam incluir o bom uso da internet na grade curricular:
"As crianças passam o dia
na internet, mas os colégios
não discutem temas como
pedofilia ou responsabilidade por aquilo que se publica.
Os pais também não fazem
isso. Acham que basta pôr
um bloqueador de site [de sexo] e pronto. Falta diálogo".
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